No edit permissions for Português

VERSO 5

kuto nu tad-dhetava īśa tat-kṛtā
lobhādayo ye ’budha-linga-bhāvāḥ
tathāpi daṇḍaṁ bhagavān bibharti
dharmasya guptyai khala-nigrahāya

kutaḥ — como; nu — decerto; tat — desta (existência do corpo material); hetavaḥ — as causas; īśa — ó Senhor; tat-kṛtāḥ — produzidas pela conexão da pessoa com o corpo material; lobha-ādayaḥ — ganância e assim por diante; ye — os quais; abudha — de uma pessoa ignorante; liṅga-bhāvāḥ — sintomas; tathā api — não obstante; daṇḍam — castigo; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; bibharti — inflige; dhar­masya — dos princípios da religião; guptyai — para a proteção; khala — dos perversos; nigrahāya — para o castigo.

Então, como poderiam existir em Vós os sintomas de um ser ignorante – tais como cobiça, luxúria, ira e inveja –, que são gerados de seu envolvimento prévio na existência material e que fazem com que a pessoa se enrede ainda mais na existência material? Ainda assim, como o Senhor Supremo, impondes o castigo para proteger os princípios religiosos e refrear os perversos.

SIGNIFICADO—Pode-se analisar esta complexa declaração filosófica de Indra da seguinte maneira: Na primeira linha deste verso, Indra se refere à ideia principal exposta no final do verso anterior – a saber, que as grandes correntes da existência material, que se baseiam na igno­rância, não podem existir no Senhor Supremo. As expressões tad­-dhetavaḥ e tat-kṛtāḥ indicam que algo causa a manifestação dos modos da natureza, e que estes, por sua vez, tornam-se causa daquilo que os causou. Na segunda linha deste verso, encontramos que são sentimentos materiais como cobiça, luxúria, inveja e ira que fazem os modos da natureza manifestarem-se e que eles mesmos são cau­sados pelos modos da natureza.

A explicação deste aparente paradoxo é a seguinte: Quando a alma condicionada decide associar-se com as qualidades materiais, ela se contamina com essas qualidades. Como se afirma na Gītā (13.22), kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya sad-asad-yoni-janmasu. Por exemplo, na presença de uma mulher sedutora, o homem pode ceder a seus ins­tintos inferiores e tentar desfrutar de uma relação sexual com ela. Em virtude de sua decisão de se associar com as qualidades inferiores da natureza, essas qualidades manifestam-se nele de maneira muito po­derosa. Ele é dominado pela luxúria e impelido a tentar repetidas vezes satisfazer seu ardente desejo. Porque sua mente foi infectada pela luxúria, tudo o que ele fizer, pensar e falar será influenciado por seu forte apego ao desejo sexual. Em outras palavras, por escolher associar-se com as qualidades luxuriosas da natureza, ele provocou sua poderosa manifestação dentro de si, e, no final, aquelas mesmas qualidades luxuriosas farão com que ele aceite outro corpo material adequado para as atividades governadas por aquelas qualidades.

As qualidades inferiores, tais como luxúria, cobiça, ira e inveja, são abudha-liṅga-bhāvāḥ, sintomas de ignorância. De fato, como Śrīla Śrīdhara Svāmī indica em seu comentário, a manifestação dos modos da natureza é sinônimo da manifestação de um corpo material em particular. Em toda a literatura védica, explica-se claramente que a alma condicionada recebe um corpo específico, abandona-o e, então, aceita outro, tudo por causa de seu envolvimento com os modos da natureza (kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya). Logo, dizer que alguém está participando nos modos da natureza é dizer que ele está aceitando tipos específicos de corpos adequados às qualidades materiais espe­cíficas com que está envolvido.

Um espectador ignorante poderia dar a seguinte interpretação simplista para o passatempo em que Kṛṣṇa ergueu a colina Govardhana: Os residentes de Vṛndāvana eram obrigados pelos princípios védicos a fazer certas oferendas ao deus dos céus, Indra. O meni­no Kṛṣṇa, ignorando a posição de Indra, usurpou essas oferendas e tomou-as para Seu próprio prazer. Quando Indra tentou punir Kṛṣṇa e Seus companheiros, o Senhor frustrou o esforço de Indra, humildou o mesmo e dissipou seu orgulho e recursos.

Mas esta interpretação superficial é refutada neste verso. Aqui o senhor Indra chama Śrī Kṛṣṇa de bhagavān, indicando que Ele não é uma criança comum, mas, em realidade, Deus. Portanto, o fato de Kṛṣṇa punir Indra fazia parte de Sua missão de proteger os princípios reli­giosos e subjugar os invejosos; não era uma exibição de ira material ou de cobiça das oferendas destinadas a Indra. Śrī Kṛṣṇa é a existência espiritual pura, e Seu simples e sublime desejo é ocupar todos os seres vivos na vida perfeita e bem-aventurada da consciência de Kṛṣṇa. O desejo de Kṛṣṇa de nos fazer conscientes de Kṛṣṇa não é egotista, pois, em última análise, Kṛṣṇa é tudo e a consciência de Kṛṣṇa é objetivamente a melhor consciência. O senhor Indra é, na verdade, um humilde servo de Kṛṣṇa; fato este que agora ele começa a recordar.

« Previous Next »