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VERSO 1

śrī-bādarāyaṇir uvāca
bhagavān api tā rātṛīḥ
śāradotphulla-mallikāḥ
vīkṣya rantuṁ manaś cakre
yoga-māyām upāśritaḥ

śrī-bādarāyaṇiḥ uvāca — Śrī Śukadeva, o filho de Śrīla Badarāyaṇa Vedavyāsa, disse; bhagavān — Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus; api — embora; tāḥ — aquelas; rātrīḥ — noites; śārada — de outono; utphulla — florescendo; mallikāḥ — as flores de jasmim; vīkṣya — vendo; rantum — para desfrutar o amor; manaḥ cakre — Ele decidiu; yoga-māyām — Sua potência espiritual que torna possível o impossível; upāśritaḥ — recorrendo a.

Śrī Bādarāyaṇi disse: Śrī Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, pleno de todas as opulências; ainda assim, ao ver aquelas noites de outono perfumadas com as flores de jasmim a desabrochar, Ele voltou o pensamento para Suas aventuras amorosas. Para realizar Seu propósito, Ele empregou Sua potência interna.

SIGNIFICADO—Ao começarmos a famosa narração da dança da rāsa do Senhor Kṛṣṇa, uma dança do amor com belas mocinhas, inevitavelmente surgirão dúvidas na mente das pessoas comuns sobre a propriedade da dança romântica de Deus com muitas jovens no meio de uma noite de lua cheia de outono. Em sua descrição da dança da rāsa do Senhor em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda esmera-se para explicar a pureza espiritual dessas atividades transcendentais. Os devotos avançados na ciência de Kṛṣṇa – os grandes mestres, ou ācāryas – não deixam dúvida de que o Senhor Kṛṣṇa é pleno e satisfeito em Si mesmo, livre de todo desejo mate­rial, o que é, afinal, um sentimento de deficiência ou falta.

Materialistas e filósofos impersonalistas rejeitam a todo custo a explicação autêntica da natureza transcendental de Śrī Kṛṣṇa. Não há razão para negar a bela realidade de uma pessoa absoluta capaz de praticar atividades românticas absolutas, das quais nosso suposto romance é mera sombra ou reflexo pervertido. A insistência irracional de que atividades materiais não podem ser um refle­xo das atividades espirituais perfeitas executadas por Deus reflete a disposição emocional prosaica daqueles que se opõem à realidade de Śrī Kṛṣṇa. Esta disposição psicológica dos não-devotos, que os leva a negar fervorosamente a própria existência da pessoa absoluta, infelizmente resulta no que se pode descrever, em poucas palavras, como inveja, já que a esmagadora maioria dos críticos impessoais busca com avidez seus próprios casos românticos, que eles consi­deram bastante reais e até mesmo “espirituais”.

O verdadeiro amante supremo é o Senhor Kṛṣṇa. O Vedānta-sūtra começa declarando que a Verdade Absoluta é a fonte de tudo, e até mesmo a filosofia ocidental nasceu de uma tentativa um tanto desas­trada de descobrir o Uno original por trás da aparente multiplicidade da existência material. O amor conjugal, um dos mais intensos e exigentes aspectos da existência humana, dificilmente não poderia ter qualquer relação com a realidade suprema.

De fato, o amor conjugal que experimentam os seres humanos é mero reflexo da realidade espiritual, na qual existe o mesmo amor em um estado absoluto e original. Por isso, afirma-se claramente neste verso que, quando Kṛṣṇa decidiu desfrutar a atmosfera romântica do outono, “Ele recorreu à Sua potência espiritual” (yoga-māyām upāśritaḥ). A natureza espiritual dos casos conjugais do Senhor Kṛṣṇa é um tema importante nesta seção do Śrīmad-Bhāgavatam.

Uma mulher é atraente por causa do som agradável de sua voz, por causa de sua beleza e gentileza, por causa de sua fragrância e ternura encantadoras e também por causa de sua perícia e habilidade na música e na dança. As mulheres mais atraentes de todas são as jovens gopīs de Vṛndāvana, que são a potência interna do Senhor, e este capítulo conta como Ele desfrutou das brilhantes qualidades femi­ninas delas – ainda que, como Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura mencionou, o Senhor Kṛṣṇa fosse um menino de oito anos quando aconteceram estes eventos.

As pessoas comuns preferem que Deus seja mera testemunha de seus casos românticos. Quando um rapaz deseja uma moça ou a moça deseja um rapaz, às vezes eles oram a Deus por seu desfrute. Tais pessoas ficam chocadas e consternadas ao descobrirem que o Senhor pode desfrutar Suas próprias aventuras amorosas com Seus próprios sentidos transcendentais. Em verdade, Śrī Kṛṣṇa é o Cupido original, e Seus empolgantes passatempos conjugais serão descritos nesta seção do Bhāgavatam.

Quando o Senhor Kṛṣṇa faz Seu advento à Terra, Seu corpo espiritual parece nascer e crescer à medida que Ele exibe Seus variados passatempos. O Senhor dificilmente poderia deixar passar Sua juventude sem exibir os supremos casos amorosos entre um rapaz e diversas moças. Portanto, Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura cita Śrīla Rūpa Go­svāmī da seguinte maneira, kaiśoraṁ saphalī-karoti kalayan kuñje vihāraṁ hariḥ: “O Senhor Hari torna perfeita Sua juventude median­te os arranjos de passatempos amorosos nos bosques da floresta de Vṛndāvana.”

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