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VERSO 15

kāmaṁ krodhaṁ bhayaṁ sneham
aikyaṁ sauhṛdam eva ca
nityaṁ harau vidadhato
yānti tan-mayatāṁ hi te

kāmam — luxúria; krodham — ira; bhayam — medo; sneham — afeição amorosa; aikyam — unidade; sauhṛdam — amizade; eva ca — também; nityam — sempre; harau — pelo Senhor Hari; vidadhataḥ — exibindo; yānti — obtêm; tat-mayatām — absorção nEle; hi — de fato; te — tais pessoas.

Pessoas que constantemente canalizam sua luxúria, ira, medo, afeição protetora, sentimento de unidade impessoal ou amizade para o Senhor Hari com certeza se absorverão em pensar nEle.

SIGNIFICADO—O Senhor Kṛṣṇa é a existência espiritual pura, e aqueles que, de um modo ou de outro, apegam-se a Ele, absortos em pensar nEle, elevam­-se à plataforma espiritual. Esta é a natureza absoluta da associação pessoal com o Senhor.

Com este verso, Śukadeva Gosvāmī responde à pergunta do rei Parīkṣit sobre as gopīs. Afinal, Śukadeva começou a narrar o passatempo mais íntimo de Kṛṣṇa, a dança da rāsa, e Parīkṣit está coope­rando para tirar as dúvidas de outros que estão ouvindo ou que no futuro poderão ouvir esta surpreendente história. Śrīla Madhvācārya cita uma afirmação do Skanda Purāṇa que declara enfaticamente que pessoas como as gopīs são almas liberadas, além do âmbito da ilusão material:

bhaktyā hi nitya-kāmitvaṁ
na tu muktiṁ vinā bhavet
ataḥ kāmitayā vāpi
muktir bhaktimatāṁ harau

“A atração conjugal eterna por Kṛṣṇa, expressa em serviço devocional puro, não pode se desenvolver em quem já não esteja liberado. Logo, aqueles que são devotados ao Senhor Hari, mesmo em atração conjugal, já estão liberados.”

Então, Śrīla Madhvācārya cita o Padma Purāṇa para elucidar o ponto essencial de que ninguém pode se libertar apenas por sentir lu­xúria pelo Senhor Kṛṣṇa, senão que isso é possível somente por possuir atração conjugal em serviço devocional puro:

sneha-bhaktāḥ sadā devāḥ
kāmitsenāpsara-striyaḥ
kāscit kāscin na kāmena
bhaktyā kevalayaiva tu

“Os semideuses sempre sentem afetuosa devoção pelo Senhor, e as jovens celestiais chamadas Apsarās têm sentimentos luxuriosos por Ele, embora algumas delas tenham por Ele devoção pura e sem má­cula de luxúria material. Somente estas Apsarās é que estão preparadas para a liberação, pois, sem serviço devocional autêntico, fica afastada qualquer hipótese de se alcançar a liberação.”

Portanto, o serviço devocional não é yogyam, ou apropriado, se não estiver livre da luxúria material. Não se deve ver como algo ba­rato o fato de as gopīs obterem associação pessoal com o Senhor Kṛṣṇa em um relacionamento conjugal. Para mostrar o peso da relação direta com o Senhor, Śrīla Madhvācārya citou os seguintes versos do Varāha Purāṇa:

patitvena śriyopāsyo
brahmaṇā me piteti ca
pitāmahatayānyeṣāṁ
tridaśānāṁ janārdanaḥ

“A deusa Lakṣmī adora o Senhor Janārdana como seu esposo, o senhor Brahmā adora-O como seu pai, e os outros semideuses ado­ram-nO como seu avô.”

prapitāmaho me bhagavān
iti sarva-janasya tu
guruḥ śrī-brahmaṇo viṣṇuḥ
surāṇāṁ ca guror guruḥ

“Assim devem pensar as pessoas em geral: ‘O Senhor Supremo é meu bisavô’. O Senhor Viṣṇu é o mestre espiritual de Brahmā e, portanto, é o guru do guru dos semideuses.”

gurur brahmāsya jagato
daivaṁ viṣṇuḥ sanātanaḥ
ity evopāsanaṁ kāryaṁ
nānyathā tu kathañcana

“Brahmā é o mestre espiritual deste universo, e Viṣṇu é a Deidade eternamente adorável. Com esse entendimento, e não de outra manei­ra, é que se deve adorar o Senhor.”

Os preceitos acima se aplicam a sarva-jana, “a todos em geral”. Logo, devemos seguir estes preceitos até alcançarmos a sublime plataforma de relação íntima com o Senhor Supremo. Há abundante evidência de que as gopīs de Vṛndāvana eram almas liberadas muito elevadas, e, dessa maneira, seus passatempos com Kṛṣṇa são casos amorosos puros e espirituais. Com isso em mente, podemos realmente entender este capítulo do Śrīmad-Bhāgavatam.

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