VERSO 1
śrī-śuka uvāca
pitarāv upalabdhārthau
viditvā puruṣottamaḥ
mā bhūd iti nijāṁ māyāṁ
tatāna jana-mohinīm
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; pitarau — Seus pais; upalabdha — tendo compreendido; arthau — a ideia (de Sua posição opulenta como Deus); viditvā — sabendo; puruṣa-uttamaḥ — a Suprema Personalidade; mā bhūt iti — “isso não deve ser”; nijām — Sua pessoal; māyām — potência ilusória; tatāna — Ele expandiu; jana — Seus devotos; mohinīm — que confunde.
Śukadeva Gosvāmī disse: Compreendendo que Seus pais estavam ficando cientes de Suas opulências transcendentais, a Suprema Personalidade de Deus julgou correto não permitir que isso acontecesse. Assim, Ele expandiu Sua yogamāyā, que confunde os devotos.
SIGNIFICADO—Se Vasudeva e Devakī tivessem visto Kṛṣṇa como o Deus onipotente, seu intenso amor por Ele como filho teria sido arruinado. O Senhor Kṛṣṇa não queria isso. Em vez disso, o Senhor queria desfrutar com eles o amor extático de vātsalya-rasa, a relação entre pais e filhos. Como Śrīla Prabhupāda costumava salientar, embora normalmente pensemos em Deus como o pai supremo, na consciência de Kṛṣṇa podemos entrar nos passatempos do Senhor e fazer o papel de pais dEle, intensificando, dessa maneira, o nosso amor por Ele.
Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura ressalta que a palavra jana pode ser traduzida nesta passagem como “devotos”, tal como no verso dīyamānaṁ na gṛhṇanti vinā mat-sevanaṁ janaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 3.29.13) Ele explica ainda que jana também pode ser traduzido como “pais”, pois jana deriva do verbo jan, que, na forma causativa (janayate), significa “gerar ou dar à luz”. Neste sentido da palavra (como em jananī ou janakau), o termo jana-mohinī indica que o Senhor estava para expandir Sua potência ilusória interna para que Vasudeva e Devakī voltassem a amá-lO como seu querido filho.