No edit permissions for Português

VERSO 17

mṛgayur iva kapīndraṁ vivyadhe lubdha-dharmā
striyam akṛta virūpāṁ strī-jitaḥ kāma-yānām
balim api balim attvāveṣṭayad dhvāṅkṣa-vad yas
tad alam asita-sakhyair dustyajas tat-kathārthaḥ

mgayu — um caçador; iva — como; kapi — dos macacos; indram — no rei; vivyadhe — atirou; lubdha-dharmā — cedendo como um caçador cruel; striyam — uma mulher (isto é, Śūrpaṇakhā); akta — feita; virūpām — desfigurada; strī — por uma mulher (Sītādevī); jita — conquistado; kāma-yānām — que foi impelida pelo desejo luxurioso; balim — o rei Bali; api — também; balim — seu tributo; attvā — consumindo; aveṣṭayat — amarrou; dhvākavat — tal qual um corvo; ya — que; tat — portanto; alam — basta; asita — com o negro Kṛṣṇa; sa­khyai — de todas as espécies de amizade; dustyaja — impossível de abandonar; tat — sobre Ele; kathā — dos assuntos; artha — a elabo­ração.

Como um caçador, Ele cruelmente atirou flechas no rei dos macacos. Por ter sido conquistado por uma mulher, Ele desfigu­rou uma outra que se aproximou dEle com desejos luxuriosos. E mesmo depois de consumir os presentes de Bali Mahārāja, Ele o amarrou com cordas como se aquele fosse um corvo. Abandone­mos, pois, toda amizade com este rapaz de tez escura, mesmo que não consigamos deixar de falar sobre Ele.

SIGNIFICADO—Em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda explica o significado deste verso como segue: “[Śrīmatī Rādhārāṇī disse à abelha:] ‘Tu, pobre mensageiro, não passas de um servo pouco inteligente. Não sabes muita coisa a respeito de Kṛṣṇa — quanto Ele tem sido ingrato e duro de coração, não só nesta vida, mas também em vidas anteriores. Nossa avó, Paurṇamāsī, contou-nos tudo sobre isso. Ela nos informou que Kṛṣṇa, antes deste nascimento, nasceu em uma família katriya e era conhecido como Rāmacandra. Nesse nas­cimento, em vez de matar Vālī, um inimigo de Seu amigo, de acordo com a conduta de um katriya, Ele o matou tal qual um caçador. Um caçador esconde-se em um lugar seguro e, então, mata o animal sem en­frentá-lo. Assim, o Senhor Rāmacandra, sendo um katriya, deveria ter lutado com Vālī face a face; porém, instigado por Seu amigo, matou-o por de trás de uma árvore. Dessa maneira, Ele Se desviou dos princípios religiosos de um katriya. Além disso, estava tão atraí­do pela beleza de Sītā que transformou Śūrpaṇakhā, a irmã de Rā­vaṇa, em uma mulher feia, cortando-lhe o nariz e as orelhas. Śūrpaṇakhā propôs ter uma relação íntima com Ele e, como katriya, Ele deve­ria tê-la satisfeito. Mas era tão dominado pela esposa que não conse­guiu esquecer Sītādevī e transformou Śūrpaṇakhā em uma mulher feia. Antes desse nascimento como katriya, Ele nasceu como um menino brāhmaa chamado Vāmanadeva e pediu caridade a Bali Mahārāja. Bali foi tão magnânimo que Lhe deu tudo o que tinha, mas Kṛṣṇa, sob a forma de Vāmanadeva, ingratamente o prendeu como a um corvo e lançou-o ao reino inferior de Pātāla. Sabemos tudo sobre Kṛṣṇa e quão ingrato Ele é. Mas eis aqui a dificuldade: apesar de Ele ser tão cruel e duro de coração, é muito difícil que deixemos de falar sobre Ele.’”

Śrīla Viśvanātha Cakravartī observa que este discurso de Rādhārāṇī chama-se avajalpa, como Rūpa Gosvāmī o descreve no seguinte verso do Ujjvala-nīlamai (14.192):

harau kāṭhinya-kāmitva-
dhaurtyād āsakty-ayogyatā
yatra serṣyā-bhiyevoktā
so ’vajalpaḥ satāṁ mataḥ

“As pessoas santas concluíram que, quando uma amante, impeli­da pelo ciúme e medo, declara que o Senhor Hari é indigno de seu apego por causa de Sua rispidez, luxúria e desonestidade, tal discurso chama-se avajalpa.”

« Previous Next »