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CAPÍTULO QUARENTA E SETE

O Cântico da Abelha

Este capítulo descreve como Uddhava, por ordem do Senhor Śrī Kṛṣṇa, transmitiu a mensagem do Senhor às gopīs, consolou-as e, então, voltou para Mathurā.

Ao verem o belo Uddhava de olhos de lótus, usando trajes amare­los e brincos atraentes, as donzelas de Vraja ficaram espantadas com a grande semelhança que ele tinha com Kṛṣṇa. Pensando: “Quem é este?”, elas se aproximaram e rodearam-no. Quando entenderam que Kṛṣṇa devia tê-lo enviado, elas o levaram a um lugar isolado onde ele poderia falar com elas em particular.

As gopīs, então, começaram a lembrar os passatempos que tinham desfrutado com Śrī Kṛṣṇa e, deixando de lado todas as normas de comportamento social e timidez usuais, puseram-se a chorar bem alto. Certa gopī, enquanto meditava profundamente em Sua associa­ção com Kṛṣṇa, percebeu um abelhão diante dEla. Imaginando ser a abelha um mensageiro de Kṛṣṇa, Ela disse: “Assim como as abelhas vagueiam de flor em flor, Śrī Kṛṣṇa abandonou as jovens de Vraja e desenvolveu afeição por outras mulheres.” A gopī continuou a falar dessa maneira, contrastando Sua própria suposta má fortuna à boa fortuna de Suas rivais, ao mesmo tempo que não parava de glorificar os nomes, formas, qualidades e passatempos do Senhor Kṛṣṇa. Ela, então, declarou que, embora Kṛṣṇa pudesse ter abandonado as gopīs, estas não conseguiam esquecê-lO sequer por um instante.

Uddhava tentou consolar as donzelas de Vraja, que estavam muito ansiosas por ver Kṛṣṇa mais uma vez. Uddhava explicou: “Enquanto pessoas comuns têm de praticar muitas ações piedosas a fim de se qualificarem como servas do Senhor Kṛṣṇa, vós, simples vaqueiri­nhas, sois tão extremamente afortunadas que o Senhor vos favore­ceu com o mais alto grau de devoção pura por Ele.” Uddhava, então, transmitiu-lhes a mensagem enviada pelo Senhor.

Repetindo as palavras do Senhor Kṛṣṇa, Uddhava disse: “‘Eu sou a Alma Suprema e o refúgio supremo de todos. Através de Minhas potências, crio, mantenho e destruo o cosmos. Sou, de fato, muito querido a vós, gopīs, mas, para aumentar vossa atração por Mim e intensificar vossa lembrança de Mim, Eu vos deixei. Afinal, quando o amante de uma mulher está longe, ela fixa a mente nele sem cessar. Por causa da constante lembrança de Mim, podeis ter a certeza de que recuperareis Minha associação sem demora.’”

As gopīs, em seguida, perguntaram a Uddhava: “Kṛṣṇa está feliz agora que Kaṁsa está morto e Ele pode desfrutar a companhia dos membros de Sua família e das mulheres de Mathurā? Ele ainda Se lembra de todos os passatempos que desfrutou conosco, tais como a dança da rāsa? Será que Śrī Kṛṣṇa reaparecerá diante de nós e nos dará o êxtase, assim como o senhor Indra, com sua chuva, devol­ve a vida às florestas fustigadas pelo calor do verão? Apesar de sabermos que a felicidade suprema vem da renúncia, simplesmente não conseguimos abandonar a esperança de alcançar Kṛṣṇa, pois as marcas de Seus pés de lótus ainda estão presentes por toda a terra de Vraja, fazendo-nos lembrar de Seu andar gracioso, sorrisos genero­sos e conversas gentis. Por todas essas coisas, nossos corações foram roubados.”

Depois de dizerem isso, as gopīs cantaram bem alto os nomes do Senhor Kṛṣṇa, clamando: “Ó Govinda, por favor, vem destruir nosso sofrimento!” Uddhava, então, tranquilizou as gopīs com afirmações que dissiparam a dor da separação que elas sentiam, e estas, por sua vez, adoraram-no como sendo não diferente de Śrī Kṛṣṇa.

Uddhava permaneceu no distrito de Vraja por vários meses e deu prazer a seus habitantes fazendo-os se lembrarem do Senhor Kṛṣṇa de várias maneiras. Satisfeitíssimo por ver a extensão do amor das gopīs pelo Senhor, ele declarou: “Estas vaqueirinhas aperfeiçoaram suas vidas chegando à plataforma de amor imaculado por Kṛṣṇa. De fato, até o senhor Brahmā é inferior a elas. A própria deusa da fortuna, que sempre reside no peito de Kṛṣṇa, não logrou a mesma misericór­dia que as gopīs obtiveram durante a dança da rāsa, quando Kṛṣṇa abraçou-lhes com Seus braços poderosos. O que se dizer, então, de outras mulheres? Na verdade, eu me consideraria muito afortunado de nascer até mesmo como um arbusto ou trepadeira que às vezes fosse tocado pela poeira dos pés de lótus dessas gopīs.”

Por fim, Uddhava solicitou a Nanda Mahārāja e aos outros vaquei­ros permissão para voltar para Mathurā. Nanda lhe deu muitos pre­sentes e orou a Uddhava pela capacidade de sempre se lembrar de Kṛṣṇa. Voltando para Mathurā, Uddhava ofereceu a Balarāma, a Kṛṣṇa e ao rei Ugrasena os presentes enviados por Nanda Mahārāja e des­creveu-lhes tudo o que presenciara em Vraja.

VERSOS 1-2: Śukadeva Gosvāmī disse: As jovens de Vraja ficaram espantadas ao verem o servo do Senhor Kṛṣṇa, que tinha braços longos, cujos olhos assemelhavam-se ao lótus recém-crescido, que usava roupa amarela e uma guirlanda de lótus e cujo rosto de lótus reluzia com brilhantes brincos polidos. “Quem é este belo homem?”, perguntaram as gopīs. “De onde veio e de quem é servo? Ele usa as roupas e os ornamentos de Kṛṣṇa!” Dizendo isso, as gopīs avida­mente se aglomeraram ao redor de Uddhava, cujo abrigo eram os pés de lótus do Senhor Uttamaḥśloka, Śrī Kṛṣṇa.

VERSO 3: Inclinando a cabeça em sinal de humildade, as gopīs honraram devidamente Uddhava com seus olhares tímidos e sorridentes e palavras agradáveis. Levando-o a um lugar tranquilo, fizeram-no sentar-se à vontade e começaram a fazer-lhe perguntas, pois reconheceram que ele era mensageiro de Kṛṣṇa, o senhor da deusa da fortuna.

VERSO 4: [As gopīs disseram:] Sabemos que és o servo pessoal de Kṛṣṇa, o chefe dos Yadus, e que vieste para cá por ordem de teu bom amo, que deseja dar prazer a Seus pais.

VERSO 5: Não vemos nada mais que Ele pudesse considerar digno de lembrança nestes pastos de Vraja. De fato, é difícil romper os vínculos de afeição com os membros da própria família, até mesmo para um sábio.

VERSO 6: A amizade demonstrada a outros – os que não são membros da família – é motivada pelo interesse pessoal e, por isso, não passa de um fingimento que dura até que se satisfaça o propósito da pessoa. Essa amizade é igual ao interesse que os homens têm pelas mulheres, ou as abelhas pelas flores.

VERSO 7: As prostitutas abandonam um homem sem dinheiro; os súditos, um rei incompetente; os estudantes, seu mestre, uma vez concluída sua educação; e os sacerdotes, um homem que lhes pagou por um sacrifício.

VERSO 8: As aves abandonam uma árvore quando seus frutos se aca­bam; os hóspedes, uma casa depois de terem comido; os animais, uma floresta que foi destruída pelo fogo; e um amante, a mulher que ele desfrutou, embora ela permaneça apegada a ele.

VERSOS 9-10: Falando assim, as gopīs, cujas palavras, corpos e mentes estavam cem por cento dedicados ao Senhor Govinda, deixaram de lado todos os seus afazeres regulares agora que o mensageiro de Kṛṣṇa, Śrī Uddhava, aparecera entre elas. Lembrando constantemente as atividades que seu amado Kṛṣṇa realizara em Sua in­fância e adolescência, as gopīs cantavam sobre elas e choravam sem qualquer constrangimento.

VERSO 11: Uma das gopīs, enquanto meditava sobre Sua associação anterior com Kṛṣṇa, viu diante de Si uma abelha e imaginou que esta fosse um mensageiro enviado por Seu amado. Ela, então, disse o seguinte.

VERSO 12: A gopī disse: Ó abelhão, ó amigo de um enganador, não toques meus pés com teus bigodes, que estão lambuzados com o kuṅkuma que passou para a guirlanda de Kṛṣṇa quando esta foi esmagada pelos seios de nossa amante rival! Deixa que Kṛṣṇa satisfaça as mulheres de Mathurā! Quem envia um mensageiro como tu, decerto será ridicularizado na assembleia dos Yadus.

VERSO 13: Após fazer-nos beber o encantador néctar de Seus lábios uma única vez, Kṛṣṇa de repente nos abandonou, assim como tu podes abandonar logo algumas flores. Como é, então, que a Deusa Padmā serve de boa vontade a Seus pés de lótus? Ai! A resposta decerto deve ser que a mente dela foi arrebatada pelas enganadoras palavras dEle.

VERSO 14: Ó abelhão, por que cantas tanto aqui sobre o Senhor dos Yadus, diante de nós, gente sem lar? Estes tópicos são notícias velhas para nós. É melhor que cantes sobre aquele amigo de Arjuna diante de Suas novas namoradas, de cujos seios Ele agora aliviou o desejo ardente. Sem dúvida, aquelas damas te darão a caridade que mendigas.

VERSO 15: No céu, na Terra ou na esfera subterrânea, que mulheres não Lhe são acessíveis? Basta Ele arquear as sobrancelhas e sorrir com fascínio enganador que todas elas se tornam Suas. Visto que a própria deusa suprema adora a poeira de Seus pés, qual é a nossa posição em comparação com a dela? Mas pelo menos aqueles que são desventurados podem cantar Seu nome, Uttamaḥśloka.

 VERSO 16: Mantém tua cabeça longe de Meus pés! Sei o que estás fazen­do. Aprendeste muito bem com Mukunda a arte da diplomacia e agora vens como Seu mensageiro trazendo palavras adulado­ras. Mas Ele abandonou aquelas que só por causa dEle deixaram filhos, maridos e todos os outros parentes. Ele não passa de um ingrato. Por que Eu haveria de Me reconciliar com Ele agora?

VERSO 17: Como um caçador, Ele cruelmente atirou flechas no rei dos macacos. Por ter sido conquistado por uma mulher, Ele desfigu­rou uma outra que se aproximou dEle com desejos luxuriosos. E mesmo depois de consumir os presentes de Bali Mahārāja, Ele o amarrou com cordas como se aquele fosse um corvo. Abandone­mos, pois, toda amizade com este rapaz de tez escura, mesmo que não consigamos deixar de falar sobre Ele.

VERSO 18: Ouvir sobre os passatempos que Kṛṣṇa realiza regularmente é néctar para os ouvidos. Para aqueles que saboreiam uma mera gota deste néctar, mesmo uma só vez, arruína-se sua dedicação à dualidade material. Muitas pessoas assim abandonaram de repen­te seus lares e pobres famílias e, tornando-se elas mesmas pobres, viajaram para cá, Vṛndāvana, para vaguear feito aves, vivendo à custa de mendicância.

VERSO 19: Tomando fielmente Suas enganadoras palavras como verdadeiras, tornamo-nos como as tolas esposas do veado negro, que con­fiam no canto do cruel caçador. Desse modo, sentimos repetidas vezes a dor aguda da luxúria causada pelo toque de Suas unhas. Ó mensageiro, por favor, fala sobre algo diferente de Kṛṣṇa.

VERSO 20: Ó amigo de Meu amado, será que Ele te enviou aqui mais uma vez? Visto que devo honrar-te, ó amigo, escolhe, por favor, qualquer dádiva que desejas. Mas por que voltaste para cá a fim de levar-nos até Ele, cujo amor conjugal é tão difícil de abandonar? Afinal, gentil abelhão, a consorte dEle é a deusa Śrī, e esta vive com Ele em Seu peito.

VERSO 21: “Ó Uddhava! Na verdade, é lamentável que Kṛṣṇa resida em Mathurā. Acaso Ele Se lembra dos afazeres domésticos de Seu pai e de Seus amigos, os vaqueirinhos? Ó grande alma! Acaso Ele alguma vez falou de nós, Suas criadas? Quando Ele descansará Sua mão com aroma de aguru sobre nossas cabeças?”

VERSO 22: Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo ouvido isto, Uddhava, então, tentou tranquilizar as gopīs, que estavam muito ansiosas por ver o Senhor Kṛṣṇa. Ele, em seguida, começou a relatar-lhes a mensagem de seu amado.

VERSO 23: Śrī Uddhava disse: É certo que vós, gopīs, lograstes todo o sucesso e sois adoradas no universo inteiro porque dedicastes vossa mente dessa maneira à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva.

VERSO 24: Alcança-se o serviço devocional ao Senhor Kṛṣṇa através de caridade, votos estritos, austeridades e sacrifícios de fogo, através de japa, estudo dos textos védicos, observância dos princípios reguladores e, de fato, através da execução de muitas outras práticas auspiciosas.

VERSO 25: Em virtude de vossa grande fortuna, estabelecestes um padrão insuperável de devoção pura ao Senhor, Uttamaḥśloka – padrão este que até mesmo os sábios dificilmente alcançam.

VERSO 26: Por vossa grande fortuna, deixastes vossos filhos, maridos, confortos corpóreos, parentes e lares em favor do varão supremo, que é conhecido como Kṛṣṇa.

VERSO 27: Exigistes com razão o privilégio do amor imaculado pelo Senhor transcendental, ó gloriosíssimas gopīs. De fato, exibindo vosso amor por Kṛṣṇa em estado de separação dEle, mostrastes grande misericórdia para comigo.

VERSO 28: Minhas boas damas, agora, por favor, escutai a mensagem de vosso amado, a qual eu, o servo confidencial de meu amo, vim aqui vos trazer.

VERSO 29: O Senhor Supremo disse: Vós nunca estais de fato separadas de Mim, pois sou a Alma de toda a criação. Assim como os elementos da natureza — éter, ar, fogo, água e terra — estão presentes em tudo o que é criado, da mesma forma estou presen­te dentro da mente, do ar vital e dos sentidos de todos, e também dentro dos elementos físicos e dos modos da natureza material.

VERSO 30: Sozinho, Eu pessoalmente crio, sustento e recolho-Me para dentro de Mim mesmo mediante o poder de Minha energia pessoal, que abrange os elementos materiais, os sentidos e os modos da natureza.

VERSO 31: Por ser constituída de consciência pura, ou conhecimento, a alma distingue-se de tudo o que é material e não se envolve nos enredamentos dos modos da natureza. Podemos perceber a alma através das três funções da natureza material conhecidas como vigília, sono e sono profundo.

VERSO 32: Assim como uma pessoa que acaba de despertar pode conti­nuar a meditar em um sonho, ainda que este seja ilusório, do mesmo modo, por meio da mente, uma pessoa medita nos objetos sensoriais, que os sentidos podem, então, obter. Portanto, deve-se ficar completamente alerta e colocar a mente sob controle.

VERSO 33: Segundo inteligentes autoridades, esta é a conclusão última de todos os Vedas, bem como de toda a prática de yoga, sāṅkhya, renúncia, austeridade, controle dos sentidos e veracidade, da mesma forma que o mar é o destino final de todos os rios.

VERSO 34: Mas a verdadeira razão pela qual Eu, o objeto amado de vossa visão, afastei-Me de vós é que Eu queria intensificar vossa meditação em Mim e, deste modo, atrair vossas mentes para mais perto de Mim.

VERSO 35: Quando o amante está longe, a mulher pensa nele mais do que quando ele está presente.

VERSO 36: Porque vossas mentes estão cem por cento absortas em Mim e livres de qualquer outra ocupação, vós sempre Se lembrais de Mim e, por isso, logo Me tereis de novo em vossa presença.

VERSO 37: Apesar de que algumas gopīs tiveram de permanecer na vila dos vaqueiros e, por isso, não puderam participar da dança da rāsa e se divertir coMigo à noite na floresta, elas, ainda assim, foram afortunadas. De fato, elas Me alcançaram pelo fato de es­tarem pensando em Meus passatempos varonis.

VERSO 38: Śukadeva Gosvāmī disse: As mulheres de Vraja ficaram satisfeitas de ouvir esta mensagem enviada por seu querido Kṛṣṇa. Porque Suas palavras reavivaram-lhes a memória, elas se dirigiram a Uddhava da seguinte maneira.

VERSO 39: As gopīs disseram: É muito bom que Kaṁsa, o inimigo e perseguidor dos Yadus, agora esteja morto, junto de seus seguidores. E também é muito bom que o Senhor Acyuta esteja vivendo feliz na companhia de Seus benquerentes amigos e parentes, cujos desejos agora se cumpriram todos.

VERSO 40: Gentil Uddhava, o irmão mais velho de Gada está agora concedendo às mulheres da cidade o prazer que, na verdade, pertence a nós? Supomos que aquelas damas O adorem com generosos olhares repletos de sorrisos afetuosos e tímidos.

VERSO 41: Śrī Kṛṣṇa é perito em todas as espécies de aventuras conjugais e é o amado das mulheres da cidade. Como Ele poderá não Se envolver, agora que é constantemente adorado por suas falas­ e gestos encantadores?

VERSO 42: Ó santo, Govinda alguma vez Se lembra de nós durante Suas conversas com as mulheres da cidade? Ele alguma vez faz menção de nós, meninas provincianas, enquanto fala à vontade com elas?

VERSO 43: Ele Se lembra daquelas noites na floresta de Vṛndāvana, adorável com flores de lótus, jasmins e a lua reluzente? Enquanto glorificávamos Seus encantadores passatempos, Ele desfrutava conosco, Suas queridas namoradas, no círculo da dança da rāsa, que ressoava com a música dos guizos de tornozelo.

VERSO 44: Será que aquele descendente de Daśārha voltará aqui e, com o toque dos membros de Seu corpo, devolverá à vida aquelas que agora estão ardendo nas chamas da aflição que Ele mesmo causou? Será que Ele nos salvará dessa maneira, assim como o senhor Indra, com suas nuvens cheias de água, restitui a vida de uma floresta?

VERSO 45: Mas por que Kṛṣṇa deveria vir aqui depois de ganhar um reino, matar Seus inimigos e casar com as filhas de reis? Ele está satisfeito lá, rodeado de todos os Seus amigos e benquerentes.

VERSO 46: O magnânimo Kṛṣṇa é o Senhor da deusa da fortuna e con­segue automaticamente tudo o que deseja. Como podemos nós, habitantes da floresta, ou quaisquer outras mulheres satisfazer a Seus propósitos quando Ele já está satisfeito em Si mesmo?

VERSO 47: De fato, a felicidade máxima consiste em renunciar a todos os desejos, assim como até mesmo a prostituta Piṅgalā o declarou. Contudo, ainda que saibamos disso, não conseguimos abandonar nossas esperanças de alcançar Kṛṣṇa.

VERSO 48: Quem consegue abandonar as conversas íntimas com o Senhor Uttamaḥśloka? Embora Ele não mostre interesse nela, a Deusa Śrī jamais se afasta de seu lugar no peito dEle.

VERSO 49: Querido Uddhava Prabhu, quando estava aqui na companhia de Saṅkarṣaṇa, Kṛṣṇa desfrutava de todos estes rios, colinas, flores­tas, vacas e sons de flauta.

VERSO 50: Tudo isso nos faz lembrar sempre do filho de Nanda. De fato, porque vemos as pegadas de Kṛṣṇa, as quais trazem as marcas de símbolos divinos, jamais podemos esquecê-lO.

VERSO 51: Ó Uddhava, como podemos esquecê-lO se nossos cora­ções foram arrebatados por Sua maneira encantadora de andar, Seu sorriso generoso, olhares divertidos e palavras doces como o mel?

VERSO 52: Ó mestre, ó amo da deusa da fortuna, ó senhor de Vraja! Ó destruidor de todo o sofrimento, Govinda, por favor, ergue Tua Gokula do oceano de aflição em que ela está se afogando.

VERSO 53: Śukadeva Gosvāmī continuou: Tendo as mensagens do Senhor Kṛṣṇa aliviado a febre de sua separação, as gopīs, então, adora­ram Uddhava, reconhecendo-o como não diferente de seu Senhor, Kṛṣṇa.

VERSO 54: Uddhava permaneceu ali por vários meses e, mediante o cantar dos tópicos relacionados aos passatempos do Senhor Kṛṣṇa, dissipou o pesar das gopīs. Dessa maneira, ele levou alegria a todo o povo de Gokula.

VERSO 55: Todos os dias que Uddhava residiu na vila pastoril de Nanda pareciam durar um único momento para os habitantes de Vraja, pois Uddhava estava sempre falando sobre Kṛṣṇa.

VERSO 56: Aquele servo do Senhor Hari, vendo os rios, florestas, montanhas, vales e árvores floridas de Vraja, sentia prazer em inspi­rar os habitantes de Vṛndāvana e fazê-los lembrarem-se do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 57: Vendo, então, como as gopīs estavam sempre perturbadas por causa de sua total absorção em Kṛṣṇa, Uddhava ficou sumamen­te satisfeito. Desejando oferecer-lhes todo o respeito, ele cantou a seguinte canção.

VERSO 58:  [Uddhava cantou:] Dentre todas as pessoas na terra, só estas vaqueirinhas aperfeiçoaram de fato suas vidas corporificadas, pois alcançaram a perfeição do amor imaculado pelo Senhor Govinda. Aqueles que temem a existência material, os grandes sábios e até nós mesmos também, ansiamos por alcançar o amor puro que elas sentem. Para quem saboreou as narrações a respei­to do ilimitado Senhor, de que adianta nascer como um brāhma­ṇa de alta classe ou até mesmo como o próprio senhor Brahmā?

VERSO 59: Quão surpreendente é que estas mulheres simples que vagueiam pela floresta, aparentemente arruinadas devido ao comportamen­to impróprio, tenham atingido a perfeição do amor imaculado por Kṛṣṇa, a Alma Suprema! Ainda assim, é verdade que o próprio Senhor Supremo concede Suas bênçãos mesmo a um adorador ignorante, assim como o melhor remédio faz efeito até quando tomado por quem desconhece seus ingredientes.

VERSO 60: Enquanto o Senhor Śrī Kṛṣṇa dançava com as gopīs na rāsa-līlā, Seus braços abraçavam-nas. Este favor transcendental jamais foi concedido à deusa da fortuna ou às outras consortes no mundo espiritual. De fato, nem as mais belas moças dos planetas celes­tiais, cujo brilho e aroma corpóreos assemelham-se à flor de lótus, jamais chegaram a imaginar tal coisa. O que se dizer, então, de mulheres mundanas que são belíssimas segundo a estimativa material?

VERSO 61: As gopīs de Vṛndāvana abandonaram a companhia de seus maridos, filhos e outros membros familiares, que são muito difí­ceis de abandonar, e renegaram o caminho da castidade só para refugiar-se aos pés de lótus de Mukunda, Kṛṣṇa, a quem deve­mos buscar valendo-nos do conhecimento védico. Oh! Que eu seja bastante afortunado para tornar-me um dos arbustos, trepadeiras ou ervas de Vṛndāvana, pois as gopīs pisam neles e abençoam-nos com a poeira de seus pés de lótus.

VERSO 62: A própria deusa da fortuna, bem como o senhor Brahmā e todos os outros semideuses, que são mestres na perfeição ióguica, podem adorar os pés de lótus de Kṛṣṇa apenas em sua mente. Durante a dança da rāsa, no entanto, o Senhor Kṛṣṇa colocou Seus pés sobre os seios destas gopīs e, ao abraçarem aqueles pés, elas abandonaram todo o sofrimento.

VERSO 63: Repetidas vezes, ofereço meus respeitos à poeira dos pés das mulheres da vila pastoril de Nanda Mahārāja. Quando estas gopīs cantam em voz alta as glórias de Śrī Kṛṣṇa, esta vibração purifica os três mundos.

VERSO 64: Śukadeva Gosvāmī disse: Uddhava, o descendente de Daśārha, então pediu às gopīs, mãe Yaśodā e Nanda Mahārāja permissão para ir embora. Ele se despediu de todos os vaqueiros e, estando prestes a partir, subiu na quadriga.

VERSO 65: Quando Uddhava estava para partir, Nanda e os outros aproximaram-se dele trazendo vários artigos de adoração. Com lágri­mas nos olhos, disseram-lhe o seguinte.

VERSO 66: [Nanda e os outros vaqueiros disseram:] Que nossas funções mentais sempre se abriguem nos pés de lótus de Kṛṣṇa, que nossas palavras sempre cantem Seus nomes e que nossos corpos sempre se prostrem diante dEle e O sirvam.

VERSO 67: Por onde quer que sejamos forçados a divagar neste mundo pela vontade do Senhor Supremo, de acordo com as reações ao nosso trabalho fruitivo, que nossas boas obras e caridade nos concedam sempre o amor pelo Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 68: [Śukadeva Gosvāmī continuou:] Ó governante dos homens, honrado assim pelos vaqueiros com expressões de devoção pelo Senhor Kṛṣṇa, Uddhava regressou à cidade de Mathurā, que estava sob a proteção de Kṛṣṇa.

VERSO 69: Após prostrar-se em sinal de respeito, Uddhava descreveu ao Senhor Kṛṣṇa a imensa devoção dos residentes de Vraja. Uddhava também a descreveu a Vasudeva, Balarāma e ao rei Ugrasena, e entregou-lhes os presentes de tributo que trouxera consigo.

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