VERSO 59
kvemāḥ striyo vana-carīr vyabhicāra-duṣṭāḥ
kṛṣṇe kva caiṣa paramātmani rūḍha-bhāvaḥ
nanv īśvaro ’nubhajato ’viduṣo ’pi sākṣāc
chreyas tanoty agada-rāja ivopayuktaḥ
kva — onde, em comparação; imāḥ — estas; striyaḥ — mulheres; vana — nas florestas; carīḥ — que vagueiam; vyabhicāra — por comportamento impróprio; duṣṭāḥ — contaminadas; kṛṣṇe — para Kṛṣṇa; kva ca — e onde; eṣaḥ — este; parama-ātmani — para a Alma Suprema; rūḍha-bhāvaḥ — fase de amor perfeito (conhecida tecnicamente como mahā-bhāva); nanu — decerto; īśvaraḥ — a Personalidade de Deus; anubhajataḥ — a alguém que O adore constantemente; aviduṣaḥ — não erudito; api — muito embora; sākṣāt — diretamente; śreyaḥ — o bem supremo; tanoti — concede; agada — de remédios; rājaḥ — o rei (a saber, o néctar que os semideuses bebem para ter uma vida longa); iva — como se; upayuktaḥ — tomado.
Quão surpreendente é que estas mulheres simples que vagueiam pela floresta, aparentemente arruinadas devido ao comportamento impróprio, tenham atingido a perfeição do amor imaculado por Kṛṣṇa, a Alma Suprema! Ainda assim, é verdade que o próprio Senhor Supremo concede Suas bênçãos mesmo a um adorador ignorante, assim como o melhor remédio faz efeito até quando tomado por quem desconhece seus ingredientes.
SIGNIFICADO—O uso da palavra kva nas duas primeiras linhas indica um nítido contraste entre itens aparentemente incompatíveis, neste caso, a posição das gopīs que pode parecer insignificante e até impura, mencionada na primeira linha, e o fato de elas terem alcançado a perfeição máxima da vida, mencionado na segunda. A esse respeito, Śrīla Viśvanātha Cakravartī descreve três espécies de mulheres adúlteras. A primeira é a mulher que desfruta tanto com o marido quanto com o amante, sem ser fiel a nenhum dos dois. Tanto a sociedade comum quanto as escrituras condenam esta conduta. O segundo tipo de mulher adúltera é a que abandona o marido para desfrutar só com o amante. A sociedade e as escrituras também condenam este comportamento, ainda que se possa dizer que tal mulher degradada tem pelo menos a bondade de se dedicar a um homem só. A última espécie de mulher adúltera é a que abandona o marido e desfruta na atitude de amante exclusiva do Senhor Supremo. Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que, embora as pessoas tolas comuns critiquem esta posição, semelhante procedimento é louvado por aqueles que são sábios na ciência espiritual. Os membros eruditos da sociedade e as escrituras reveladas, portanto, louvam essa devoção exclusiva ao Senhor. Tal era o comportamento das gopīs. Assim, o termo vyabhicāra-duṣṭāḥ, ‘corrompidas pelo desvio’, indica a aparente semelhança entre o comportamento das gopīs e o das mulheres adúlteras comuns.