VERSOS 51-55
tāṁ deva-māyām iva dhīra-mohinīṁ
su-madhyamāṁ kuṇḍala-maṇḍitānanām
śyāmāṁ nitambārpita-ratna-mekhalāṁ
vyañjat-stanīṁ kuntala-śaṅkitekṣaṇām
śuci-smitāṁ bimba-phalādhara-dyuti-
śoṇāyamāna-dvija-kunda-kuḍmalām
padā calantīṁ kala-haṁsa-gāminīṁ
siñjat-kalā-nūpura-dhāma-śobhinā
vilokya vīrā mumuhuḥ samāgatā
yaśasvinas tat-kṛta-hṛc-chayārditāḥ
yāṁ vīkṣya te nṛpatayas tad udāra-hāsa-
vrīdāvaloka-hṛta-cetasa ujjhitāstrāḥ
petuḥ kṣitau gaja-rathāśva-gatā vimūḍhā
yātrā-cchalena haraye ’rpayatīṁ sva-śobhām
saivaṁ śanaiś calayatī cala-padma-kośau
prāptiṁ tadā bhagavataḥ prasamīkṣamāṇā
utsārya vāma-karajair alakān apaṅgaiḥ
prāptān hriyaikṣata nṛpān dadṛśe ’cyutaṁ ca
tāṁ rāja-kanyāṁ ratham ārurakṣatīṁ
jahāra kṛṣṇo dviṣatāṁ samīkṣatām
tām — a ela; deva — do Senhor Supremo; māyām — a potência ilusória; iva — como se; dhīra — mesmo aqueles que são sóbrios; mohinīm — que confunde; su-madhyamām — cuja cintura era bem formada; kuṇḍala — com brincos; maṇḍita — decorado; ānanām — seu rosto; śyāmām — beleza não contaminada; nitamba — em cujos quadris; arpita — colocado; ratna — incrustado de pedras preciosas; mekhalām — um cinto; vyañjat — em botão; stanīm — cujos seios; kuntala — dos cachos de seu cabelo; śaṅkita — espantados; īkṣaṇām — cujos olhos; śuci — puro; smitām — com um sorriso; bimba-phala — como uma fruta bimba; adhara — de cujos lábios; dyuti — pelo esplendor; śoṇāyamāna — avermelhando-se; dvija — cujos dentes; kunda — de jasmim; kuḍmalām — como botões; padā — com seus pés; calantīm — caminhando; kala-haṁsa — como o do cisne real; gāminīm — cujo passo; siñjat — tilintando; kalā — colocados com habilidade; nūpura — de seus guizos de tornozelo; dhāma — pela refulgência; śobhinā — embelezado; vilokya — vendo; vīrāḥ — os heróis; mumuhuḥ — ficaram perplexos; samāgatāḥ — reunidos; yaśasvinaḥ — respeitáveis; tat — por isto; kṛta — gerada; hṛt-śaya — pela luxúria; ārditāḥ — aflitos; yām — a quem; vīkṣya — ao ver; te — estes; nṛ-patayaḥ — reis; tat — dela; udāra — largos; hāsa — pelos sorrisos; vrīḍā — de timidez; avaloka — e os olhares; hṛta — roubadas; cetasaḥ — cujas mentes; ujjhita — deixando escorregar; astrāḥ — suas armas; petuḥ — caíram; kṣitau — no chão; gaja — em elefantes; ratha — quadrigas; aśva — e cavalos; gatāḥ — sentados; vimūḍhāḥ — desmaiando; yātrā — da procissão; chalena — com o pretexto; haraye — ao Senhor Hari, Kṛṣṇa; arpayatīm — que estava oferecendo; sva — sua própria; śobhām — beleza; sā — ela; evam — assim; śanaiḥ — devagar; calayatī — fazendo andar; cala — móveis; padma — das flores de lótus; kośau — os dois verticilos (isto é, seus pés); prāptim — a chegada; tadā — então; bhagavataḥ — do Senhor Supremo; prasamīkṣamāṇā — esperando ansiosamente; utsārya — empurrando; vāma — esquerda; kara-jaiḥ — com as unhas de sua mão; alakān — seu cabelo; apāṅgaiḥ — com olhares de lado; prāptān — aqueles presentes; hriyā — com timidez; aikṣata — olhava; nṛpān — aos reis; dadṛśe — viu; acyutam — Kṛṣṇa; ca — e; tām — a ela; rāja-kanyām — a filha do rei; ratham — Sua quadriga; ārurukṣatīm — que estava pronta para montar; jahāra — agarrou; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; dviṣatām — Seus inimigos; samīkṣatām — enquanto olhavam.
Rukmiṇī parecia tão encantadora quanto a potência ilusória do Senhor, que encanta até os homens sóbrios e graves. Deste modo, os reis contemplavam sua beleza virginal, sua cintura formosa e seu gracioso rosto adornado de brincos. Seus quadris estavam enfeitados com um cinto incrustado de pedras preciosas, seus seios apenas despontavam, e seus olhos pareciam apreensivos com seus profusos cachos de cabelo. Ela tinha um doce sorriso, e seus dentes semelhantes a botões de jasmim refletiam o esplendor de seus lábios vermelhos como a fruta bimba. Enquanto caminhava com os movimentos de um cisne real, a refulgência de seus tilintantes guizos de tornozelo embelezava-lhe os pés. Ao verem-na, os heróis reunidos ficaram totalmente perplexos. E a luxúria dilacerou-lhes o coração. De fato, quando viram seu sorriso largo e olhar tímido, os reis ficaram estupefatos, deixaram escorregar suas armas e caíram inconscientes do alto de seus elefantes, quadrigas e cavalos. A pretexto da procissão, Rukmiṇī exibia sua beleza para Kṛṣṇa apenas. Devagar, ela caminhava com os dois verticilos de lótus que eram seus pés, aguardando a chegada do Senhor Supremo. Com as unhas da mão esquerda, ela tirava alguns fios de cabelo que caíam em seu rosto e timidamente olhava do canto dos olhos para os reis que se postavam diante dela. Naquele momento, ela viu Kṛṣṇa. Então, enquanto Seus inimigos olhavam, o Senhor agarrou a princesa, que ansiava por montar em Sua quadriga.
SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, Rukmiṇī estava preocupada em não deixar que os cachos de seu cabelo lhe impedissem a visão, pois ela ansiava ardentemente por ver seu amado Kṛṣṇa. Os não-devotos, ou demônios, ficam perplexos ao verem as opulências do Senhor e acham que a potência dEle destina-se a seu grosseiro gozo dos sentidos. Mas Rukmiṇī, uma expansão da potência interna de prazer de Kṛṣṇa, destinava-se apenas ao Senhor.
Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita o seguinte verso para descrever a espécie de mulher conhecida como śyāmā:
śīta-kāle bhaved usṇo
uṣṇa-kāle tu śītalā
stanau su-kaṭhinau yasyāḥ
sā śyāmā parikīrtitā
“Uma mulher é chamada śyāmā quando seus seios são muito firmes e quando alguém em sua presença sente-se aquecido no inverno e refrescado no verão.”
Śrīla Viśvanātha Cakravartī salienta ainda que, como a bela forma de Rukmiṇī é uma manifestação da energia interna do Senhor, os não-devotos não a podem perceber. Dessa maneira, os reis heroicos reunidos em Vidarbha ficaram agitados pela luxúria ao verem a potência ilusória do Senhor, uma expansão de Rukmiṇī. Em outras palavras, nenhum homem pode cobiçar a consorte eterna do Senhor, pois logo que sua mente se contamina com a luxúria, a cobertura de māyā separa-o da beleza original do mundo espiritual e de seus habitantes.
Por fim, Śrīmatī Rukmiṇī-devī sentia-se tímida ao olhar dos cantos dos olhos para os outros reis, pois não queria cruzar com os olhares daqueles homens inferiores.