VERSOS 39-40
payāṁsi yāsām apibat
putra-sneha-snutāny alam
bhagavān devakī-putraḥ
kaivalyādy-akhila-pradaḥ
tāsām avirataṁ kṛṣṇe
kurvatīnāṁ sutekṣaṇam
na punaḥ kalpate rājan
saṁsāro ’jñāna-sambhavaḥ
payāṁsi — leite (proveniente do corpo); yāsām — de todas que; apibat — o senhor Kṛṣṇa bebeu; putra-sneha-snutāni — aquele leite proveniente dos corpos das gopīs, não artificialmente, mas devido à afeição materna; alam — em quantidade suficiente; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; devakī-putra — que apareceu como filho de Devakī; kaivalya-ādi — como a liberação ou imersão na refulgência Brahman; akhila-pradaḥ — o outorgador de todas as bênçãos semelhantes; tāsām — de todas elas (de todas as gopīs); aviratam — constantemente; kṛṣṇe — ao Senhor Kṛṣṇa; kurvatīnām — fazendo; suta-īkṣaṇam — como a mãe cuida de seu filho; na — nunca; punaḥ — novamente; kalpate — pode ser imaginado; rājan — o rei Parīkṣit; saṁsāraḥ — o cativeiro material sob a forma de nascimento e morte; ajñāna-sambhavaḥ — que está fadado a ser aceito pelos tolos que tentam ser felizes na ignorância.
A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, é o outorgador de muitas bênçãos, incluindo a liberação (kaivalya), ou a unidade na refulgência Brahman. As gopīs sempre sentiam amor materno por essa Personalidade de Deus, e Kṛṣṇa mamava em seus seios com plena satisfação. Portanto, devido ao seu relacionamento como mãe e filho, embora as gopīs estivessem ocupadas em várias atividades familiares, ninguém jamais deve pensar que elas regressaram a este mundo material após deixarem seus corpos.
SIGNIFICADO—Nesta passagem, descreve-se a vantagem da consciência de Kṛṣṇa, A consciência de Kṛṣṇa pouco a pouco desenvolve-se na plataforma transcendental. Alguém pode pensar em Kṛṣṇa como a Personalidade Suprema, outrem pode pensar em Kṛṣṇa como o mestre Supremo, há aqueles que preferem pensar em Kṛṣṇa como o amigo supremo, outros podem pensar em Kṛṣṇa como o filho supremo, ou pode-se pensar em Kṛṣṇa como o supremo amante conjugal. Se alguém estabelece um elo com Kṛṣṇa em qualquer dessas relações transcendentais, compreende-se que o curso de sua vida material já chegou ao fim. Como se confirma na Bhagavad-gītā (4.9), tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti: para esses devotos, a volta ao lar, a volta ao Supremo, está garantida. Na punaḥ kalpate rājan saṁsāro jñāna-sambhavaḥ. Este verso também assegura que os devotos que constantemente estabelecem com Kṛṣṇa uma relação específica jamais retornarão a este mundo material. Neste mundo material do saṁsāra, existem as mesma relações. Alguém pensa: “Eis o meu filho”, “eis minha esposa, “eis meu amante, “eis meu amigo”. Mas essas relações são ilusórias e temporárias. Ajñāna-sambhavaḥ: tal consciência é produto da ignorância. Mas quando as mesmas relações despontam em consciência de Kṛṣṇa, a vida espiritual da pessoa é revivida, e fica-lhe garantida a volta ao lar, a volta ao Supremo. Muito embora as gopīs que eram amigas de Rohiṇī e mãe Yaśodā e que deram seus seios para Kṛṣṇa mamar não fossem diretamente mães de Kṛṣṇa, todas elas, assim como Rohiṇī e mãe Yaśodā, receberam a mesma oportunidade de voltar ao Supremo e agir como sogras de Kṛṣṇa, Suas servas e assim por diante. A palavra saṁsāra refere-se ao apego a corpo, lar, esposo ou esposa, e filhos, mas, embora as gopīs e todas as outras habitantes de Vṛndāvana tivessem essa mesma afeição e apego a esposo e lar, elas mantinham com Kṛṣṇa alguma relação transcendental, e Ele era o ponto central de sua afeição, motivo pelo qual elas tinham a garantia de serem promovidas a Goloka Vṛndāvana na próxima vida, para viverem eternamente com Kṛṣṇa em felicidade espiritual. A maneira mais fácil de se alcançar a elevação espiritual, de libertar-se deste mundo material, e voltar ao lar, voltar ao Supremo, é recomendada por Bhaktivinoda Ṭhākura: kṛṣṇera saṁsāra kara chāḍi’ anācāra. A pessoa deve abandonar todas as atividades pecaminosas e permanecer na família de Kṛṣṇa. Então, estará garantida a sua liberação.