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VERSO 38

tvam eka ādyaḥ puruṣo ’dvitīyas
turyaḥ sva-dṛg dhetur ahetur īśaḥ
pratīyase ’thāpi yathā-vikāraṁ
sva-māyayā sarva-guṇa-prasiddhyai

tvam — Vós; eka — um; ādya — original; purua — a Pessoa Suprema; advitīya — inigualável; turya — transcendental; sva-dk — automanifestante; hetu — a causa; ahetu — sem causa; īśa — o controlador supremo; pratīyase — és percebido; atha api — não obstante; yathā — se­gundo; vikāram — várias transformações; sva — por Vossa; māyayā — potência ilusória; sarva — de todas; gua — qualidades materiais; prasiddhyai — para a completa manifestação.

Sois a pessoa original, única e inigualável, transcendental e automanifestante. Não causado, sois a causa de tudo e o controlador último. Não obstante, sois percebido em termos das transforma­ções de matéria efetuadas por Vossa energia ilusória – transfor­mações que sancionais para que as várias qualidades materiais possam manifestar-se por completo.

SIGNIFICADO—Os ācāryas tecem sobre este verso os seguintes comentários: Śrīla Śrīdhara Svāmī explica que o termo ādya purua, “o purua original”, indica que o Senhor Kṛṣṇa expande-Se como Mahā-Viṣṇu, o primeiro dos três puruas que se encarregam da manifestação cós­mica. O Senhor é eka advitīya, “único e inigualável”, porque não existe ninguém igual ao Senhor ou diferente dEle. Ninguém é com­pletamente igual à Divindade Suprema; mesmo assim, por serem todos os seres vivos expansões da potência da Divindade, ninguém é qualitativamente diferente dEle. Śrī Caitanya Mahāprabhu explica bem esta situação inconcebível afirmando que a Verdade Absoluta e os seres vivos são unos em qualidade, mas diferentes quanto à quan­tidade. O Absoluto possui consciência espiritual infinita, enquanto os seres vivos possuem consciência infinitesimal, que está sujeita a cobrir-se pela ilusão.

Śrīla Jīva Gosvāmī, comentando o termo ādya purua, cita a seguinte passagem do Sātvata-tantra, viṣṇos tu trīi rūpāi: “Há três formas de Viṣṇu [para a manifestação cósmica etc.].” Śrīla Jīva Gosvāmī também cita uma afirmação do Senhor extraída do śruti, pūrvam evāham ihāsam: “No começo, só Eu existia neste mundo.” Essa declaração descreve a forma do Senhor chamada purua-avatāra, que existe antes da manifestação cósmica. Śrīla Jīva Gosvāmī também cita o seguinte śruti-mantra, tat-puruasya puruatvam, que quer dizer: “Isto constitui o estado do Senhor como o purua.” De fato, o Senhor Kṛṣṇa é a essência da encarnação purua porque Ele é turīya, como se descreve neste verso. Jīva Gosvāmī explica o termo turīya (literalmente, “o quarto”) citando o comentário de Śrīdhara Svāmī sobre o verso 11.15.16 do Bhāgavatam:

virāṭ hiraṇyagarbhaś ca
kāraṇaṁ cety upādhayaḥ
īśasya yat tribhir hīnaṁ
turīyaṁ tad vidur budhāḥ

“A forma universal do Senhor, Sua forma Hiraṇyagarbha e a manifestação causal primordial da natureza material são todos conceitos relativos, mas, porque o próprio Senhor não é encoberto por esses três, as autoridades inteligentes chamam-nO de ‘o quarto’.”­

Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, a palavra turīya indica que o Senhor é o quarto membro da expansão quádrupla da Divindade chamada Catur-vyūha. Em outras palavras, o Senhor Kṛṣṇa é Vāsudeva.

O Senhor Kṛṣṇa é sva-dk – isto é, só Ele pode perceber a Si mesmo perfeitamente – porque Ele é a existência espiritual infinita, infinitamente pura. Ele é hetu, a causa de tudo, apesar do que é ahetu, sem causa. Portanto, Ele é īśa, o controlador supremo.

As duas últimas linhas deste verso têm um significado filosófico especial. Por que o Senhor é percebido de maneiras diferentes por diferentes pessoas, embora Ele seja um só? Aqui se dá uma explica­ção parcial. Por ação de māyā, a potência externa do Senhor, a natu­reza material está em constante estado de transformação, vikāra. Em um sentido, então, a natureza material é “irreal”, asat. Mas porque Deus é a suprema realidade, e porque Ele está presente dentro de todas as coisas e todas as coisas são potências dEle, os objetos e energias materiais possuem um grau de realidade. Por isso, algumas pessoas veem um aspecto da energia material e pensam: “Isso é a realidade”, enquanto outras veem um aspecto diferente da energia material e pensam: “Não, isto é a realidade.” Sendo almas condicionadas, somos cobertos por diferentes configurações da natureza material e, dessa maneira, descrevemos a Verdade Suprema ou o Senhor Supremo em termos de nossa visão corrompida. Todavia, mesmo as qualidades encobridoras da natureza material, tais como nossa inteligência, mente e sentidos condicionados, são reais (por se constituírem da potência do Senhor Supremo), e, portanto, através de todas as coisas, podemos perceber, de modo mais ou menos subjetivo, a Suprema Personalidade de Deus. É por isso que o presente verso afirma que pratīyase: “Vós sois percebido.” Além disso, sem a manifestação das qualidades encobridoras da natureza material, a criação não poderia cumprir seu propósito – isto é, permitir que as almas condicionadas tentem ao máximo desfrutar sem Deus até que cheguem ao ponto de compreen­derem a futilidade de tal ideia ilusória.

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