VERSOS 41-42
na vayaṁ sādhvi sāmrājyaṁ
svārājyaṁ bhaujyam apy uta
vairājyaṁ pārameṣṭhyaṁ ca
ānantyaṁ vā hareḥ padam
kāmayāmaha etasya
śrīmat-pāda-rajaḥ śriyaḥ
kuca-kuṅkuma-gandhāḍhyaṁ
mūrdhnā voḍhuṁ gadā-bhṛtaḥ
na — não; vayam — nós; sādhvi — ó dama santa (Draupadī); sāmrājyan — domínio sobre a Terra inteira; sva-rājyam — a posição do senhor Indra, o rei dos céus; bhaujyam — poderes ilimitados de desfrute; api uta — nem mesmo; vairājyam — poder místico; pārameṣṭhyam — a posição do senhor Brahmā, criador do universo; ca — e; ānantyam — imortalidade; vā — ou; hareḥ — do Senhor Supremo; padam — a morada; kāmayāmahe — desejamos; etasya — dEle; śrī-mat — divino; pāda — dos pés; rajaḥ — a poeira; śrīyaḥ — da deusa da fortuna; kuca — do seio; kuṅkuma — do pó cosmético; gandha — pelo perfume; āḍhyam — enriquecida; mūrdhnā — sobre nossas cabeças; voḍhum — carregar; gadā-bhṛtaḥ — do Senhor Kṛṣṇa, o manejador da maça.
Ó dama santa, não desejamos domínio sobre a Terra, a soberania do rei dos céus, ilimitada facilidade para o desfrute, poder místico, a posição do senhor Brahmā, imortalidade, tampouco a entrada no reino de Deus. Desejamos apenas levar em nossas cabeças a gloriosa poeira dos pés do Senhor Kṛṣṇa, enriquecida pela fragrância do kuṅkuma dos seios de Sua consorte.
SIGNIFICADO—O verbo rāj quer dizer “governar”, e dele derivam as palavras sāmrājyam, que significa “domínio sobre a Terra inteira”, e svārājyam, que significa “soberania sobre os céus”. Bhaujyam vem do verbo bhuj, “desfrutar”, de modo que se refere à capacidade de desfrutar de qualquer coisa que se deseje. Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que virāṭ representa a frase vividhaṁ virājate (“desfrutam-se muitas espécies de opulência”) e indica especificamente as oito perfeições místicas: aṇimā e assim por diante.
Śrīla Śrīdhara Svāmī apresenta uma explicação alternativa desses termos, dizendo que, segundo o Bahv-ṛca Brāhmaṇa, esses quatro termos designam o poder de soberania sobre cada um dos quatro pontos cardeais: sāmrājya refere-se ao leste; bhaujya, ao sul; svārājya, ao oeste; e vairājya, ao norte.
As rainhas do Senhor Kṛṣṇa deixam claro que não desejam nenhum desses poderes, nem mesmo a posição de Brahmā, a liberação ou a entrada no reino de Deus. Elas querem apenas a poeira dos pés de Śrī Kṛṣṇa, a qual a própria deusa Śrī adora. Śrīla Viśvanātha Cakravartī nos diz que a deusa da fortuna que se menciona aqui não é Lakṣmī, a consorte de Nārāyaṇa. Afinal, o ācārya explica, a deusa Lakṣmī não pôde alcançar a associação direta com Kṛṣṇa nem mesmo depois de praticar demoradas austeridades, como declara Uddhava: nāyaṁ śrīyo ’ṅga u nitānta-rateḥ prasādaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 10.47.60) Em vez disso, a Śrī a que se refere esta passagem é a suprema deusa da fortuna identificada pelo Bṛhad-gautamīya-tantra:
devī kṛṣṇa-mayī proktā
rādhikā para-devatā
sarva-lakṣmī-mayī sarva
kāntiḥ sammohinī parā
“A transcendental deusa Śrīmatī Rādhārāṇī é o complemento direto do Senhor Śrī Kṛṣṇa. Ela é a figura central de todas as deusas da fortuna. Possui todo o poder de atração para atrair a todo-atrativa Personalidade de Deus. É a primordial potência interna do Senhor.”