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VERSO 18

udaram upāsate ya ṛṣi-vartmasu kūrpa-dṛśaḥ
parisara-paddhatiṁ hṛdayam āruṇayo daharam
tata udagād ananta tava dhāma śiraḥ paramaṁ
punar iha yat sametya na patanti kṛtānta-mukhe

udaram — o abdômen; upāsate — adoram; ye — os que; ṛṣi — dos sábios; vartmasu — segundo os métodos padrão; kūrpa — grosseira; dṛśaḥ — cuja visão; parisara — do qual emanam todos os canais prânicos; paddhatim — o nó; hṛdayam — o coração; āruṇayaḥ — os sábios Āruṇis; daharam — sutil; tataḥ — de lá; udagāt — (a alma) se ergue; ananta — ó Senhor ilimitado; tava — Vosso; dhāma — lugar de aparecimento; śiraḥ — à cabeça; paramam — o destino mais elevado; punaḥ­ — de novo; iha — neste mundo; yat — que; sametya — alcançando; na pa­tanti — não caem; kṛta-anta — da morte; mukhe — na boca.

Dentre os seguidores dos métodos estabelecidos por grandes sábios, aqueles com visão menos refinada adoram o Supremo como presente na região do abdômen, enquanto os Āruṇis adoram-nO como presente no coração, no centro sutil do qual emanam todos os canais prânicos. Dali, ó Senhor ilimitado, esses adoradores elevam sua consciência até o topo da cabeça, onde podem perce­ber-Vos diretamente. Então, atravessando o topo da cabeça rumo ao destino supremo, eles alcançam aquele lugar do qual jamais voltarão a cair neste mundo, na boca da morte.

SIGNIFICADO—Nesta passagem, os śrutis que ensinam o yoga da meditação glorificam a Personalidade de Deus. Os vários processos de yoga são, em sua maioria, graduais e cheios de oportunidades de distração. Métodos autênticos de yoga, no entanto, visam todos à meditação na Superalma (Paramātmā), cuja residência primária está na região do coração ao lado da alma jīva. Essa manifestação do Paramātmā no coração é muito sutil e difícil de perceber (daharam), daí só yogīs avançados poderem perceber Sua presença ali.

Meditadores neófitos costumam praticar o processo de focalizar a presença secundária da Superalma em um dos centros inferiores de energia vital, tais como o mūlādhāra-cakra, na base da espinha; o svādhiṣṭhāna-cakra, na área do umbigo; ou o maṇipūra-cakra, no abdômen. O Senhor Kṛṣṇa refere-Se à Sua expansão como Paramātmā no cakra abdominal da seguinte maneira:

ahaṁ vaiśvānaro bhūtvā
prāṇinaṁ deham āsthitaḥ
prāṇāpāna-samāyuktaḥ
pacāmy annaṁ catur-vidham

“Nos corpos de todas as entidades vivas, Eu sou o fogo da diges­tão e Me uno ao ar vital, que sai e que entra, para digerir as quatro espécies de alimentos.” (Bhagavad-gītā 15.14) O Senhor Vaiśvānara rege a digestão e, em geral, concede a capacidade de movimento aos animais, seres humanos e semideuses. No julgamento dos śrutis que falam este verso, aqueles que limitam sua meditação a essa forma do Senhor são menos inteligentes, kūrpa-dṛśaḥ, o que literalmente significa “com olhos obstruídos pela poeira”.

Os yogīs superiores conhecidos como Āruṇis, por outro lado, adoram a Superalma em Sua forma de companheiro da jīva, o qual habita no coração, o Senhor que dota Seu dependente com o poder de co­nhecimento e que o inspira com todas as variedades de inteligência prática. E assim como o coração físico é o centro da circulação san­guínea, do mesmo modo o sutil cakra do coração é a encruzilhada de numerosos canais de prāṇa, chamados nāḍīs, que se estendem para todas as partes do corpo. Quando essas passagens foram bastan­te purificadas, os yogīs Āruṇis podem deixar a região do coração e se elevar ao cakra no topo do cérebro. Os yogīs que abandonam o corpo através desse cakra, o brahma-randhra, vão direto para o reino de Deus, de onde jamais precisam retornar. Dessa maneira, até mesmo o processo inseguro do yoga meditacional pode produzir o fruto da devoção pura se for seguido com perfeição.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura cita vários śruti-mantras que ecoam as palavras deste verso, udaraṁ brahmeti śārkarākṣā upāsate hṛdayaṁ brahmeti āruṇayo brahmā haivaitā ita ūrdhvaṁ tv evodasarpat tac-chiro ’śrayate: “Aqueles cuja visão está obscurecida iden­tificam o Brahman com o abdômen, ao passo que os Āruṇis adoram o Brahman no coração. Quem de fato compreendeu o Brahman viaja do coração ao topo da cabeça, onde se refugia no Senhor que ali Se manifesta.”

śataṁ caikā ca hṛdayasya nāḍyas
tāsāṁ mūrdhānam abhiniḥsṛtaikā
tayordhvam āyann amṛtatvam eti
viśvaṅṅ anyā utkramaṇe bhavanti

“Há cento e um canais prânicos sutis que emanam do coração. Um destes – o suṣumṇā – estende-se até o topo da cabeça. Elevando-­se através desse canal, a pessoa transcende a morte. Os outros canais levam a todas as direções, a várias espécies de renascimento.” (Chāndogya Upaniṣad 8.6.6)

As Upaniṣads referem-se repetidamente ao Paramātmā interior. A Śrī Śvetāśvatara Upaniṣad (3.12-13) descreve-O assim:

mahān prabhur vai puruṣaḥ
sattvasyaiṣa pravartakaḥ
su-nirmalāṁ imāṁ prāptim
īśāno jyotir avyayaḥ

aṅguṣṭha-mātraḥ puruṣo ’ntar-ātmā
sadā janānāṁ hṛdaye sanniviṣṭaḥ
hṛdā manīṣā manasābhikḷpto
ya etad vidur amṛtās te bhavanti

“A Suprema Personalidade de Deus torna-Se o Puruṣa para iniciar a expansão deste cosmos. Ele é a meta perfeitamente pura que os yogīs lutam por alcançar, o refulgente e infalível controlador último. Medindo o tamanho de um polegar, o Puruṣa está sempre presente como a Superalma dentro dos corações de todos os seres vivos. Pelo exer­cício adequado da inteligência, pode-se percebê-lO dentro do coração; aqueles que aprendem este método lograrão a imortalidade.”

Em conclusão, Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

udarādiṣu yaḥ puṁsāṁ
cintito muni-vartmabhiḥ
hanti mṛtyu-bhayam devo
hṛd-gataṁ tam upāsmahe

“Adoremos o Senhor Supremo, que reside no coração. Quando os seres mortais pensam nEle mediante os processos clássicos estabelecidos pelos grandes sábios e meditam nEle presente em Suas ex­pansões no abdômen e em outras regiões do corpo, o Senhor retribui destruindo todo o medo da morte.”

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