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VERSO 26

sad iva manas tri-vṛt tvayi vibhāty asad ā-manujāt
sad abhimṛśanty aśeṣam idam ātmatayātma-vidaḥ
na hi vikṛtiṁ tyajanti kanakasya tad-ātmatayā
sva-kṛtam anupraviṣṭam idam ātmatayāvasitam

sat — real; iva — como se; manaḥ — a mente (e suas manifestações); tri-vṛt — de três espécies (pelos modos da natureza material); tvayi — em Vós; vibhāti — parece; asat — irreal; ā-manujāt — estendendo-se aos seres humanos; sat — como real; abhimṛśanti — consideram; aśeṣam — inteiro; idam — este (mundo); ātmatayā — como não diferente do Eu; ātma-vidaḥ — os conhecedores do Eu; na — não; hi — de fato; vikṛtim — as transformações; tyajanti — rejeitam; kanakasya — de ouro; tat-ātma­tayā — visto que são não diferentes dele; sva — por Si mesmo; ktam — criado; anupraviṣṭam — e penetrado; idam — este; ātmatayā — como não diferente dEle mesmo; avasitam — verificado.

Os três modos da natureza material englobam tudo neste mundo – dos fenômenos mais simples até o complexo corpo hu­mano. Embora pareçam reais, esses fenômenos não passam de um falso reflexo da realidade espiritual, sendo uma superimposi­ção da mente sobre Vós. Ainda assim, aqueles que conhecem o Eu Supremo consideram real a criação material inteira, visto ser esta não diferente do Eu. Assim como objetos feitos de ouro de fato não devem ser rejeitados, já que sua substância é ouro ver­dadeiro, da mesma maneira este mundo é, sem dúvida, não dife­rente do Senhor que o criou e, então, entrou nele.

SIGNIFICADO—Em certo sentido, o mundo visível é real (sat), enquanto, em outro, ele não o é (asat). A substância deste universo é fato sólido, por ser a energia externa do Senhor, mas as formas que māyā impõe a esta substância são apenas temporárias. E porque as formas materiais são manifestações temporárias, aqueles que as consideram permanen­tes estão em ilusão. Eruditos impersonalistas, todavia, interpretam mal essa divisão de sat e asat; negando a realidade aceita pelo senso comum, eles declaram que não apenas a forma material é irreal, mas também a substância material, e confundem sua própria essência espiritual com a do Todo Absoluto. Um filósofo māyāvādī tomaria as palavras faladas pelos Vedas personificados na oração precedente – tri-guṇa-mayaḥ pumān iti bhidā – como uma negação de qual­quer distinção entre o Paramātmā e a alma jīva. Ele alegaria que, como a incorporação material da jīva é uma exibição efêmera dos três modos da natureza, quando a ignorância da jīva é destruída pelo conhecimento, ela se torna o Paramātmā, a Alma Suprema; cativeiro, liberação e o mundo manifesto são todos criações irreais da ignorân­cia. Em resposta a tais ideias, os Vedas aqui esclarecem a verdadeira relação entre sat e asat.

Na literatura śruti, encontramos esta afirmação, asato ’dhimano ’sṛjyata, manaḥ prajāpatim asṛjat, prajāpatiḥ prajā asṛjat, tad vā idaṁ manasy eva paramaṁ pratiṣṭhitaṁ yad idaṁ kiṁ ca: “A mente suprema foi criada originalmente a partir do asat. Essa mente criou o Prajāpati, e o Prajāpati criou todos os seres vivos. Desse modo, a mente sozinha é o alicerce último de tudo o que existe neste mundo.” Embora os impersonalistas, interpretando erroneamente essa citação, pudessem advogar que toda a existência manifesta se baseia na irrealidade da ilusão (asat), o uso aparentemente oposto da palavra asat nesta passagem de fato refere-se à causa original, a Divindade Suprema, porque Ele é transcen­dental à existência material (sat). A lógica do Vedānta-sūtra (2.1.17) corrobora essa interpretação, ao passo que nega a interpretação equi­vocada dos impersonalistas, asad-vyapadeśān neti cen na dharmāntareṇa vākya-śeṣāt: “Se alguém objetar que o mundo material e sua fonte não podem ser de uma só substância porque o mundo foi chama­do irreal, nós respondemos: ‘Não, porque a afirmação de que Brahman é asat faz sentido em termos de Ele ter qualidades distintas daquelas da criação.’” A Taittirīya Upaniṣad (2.7.1) também declara que asad vā idam agra āsīt: “No início desta criação, apenas asat estava presente.”

Na opinião de Śrīla Jīva Gosvāmī, a palavra adhimanaḥ na passa­gem acima citada refere-se ao regente da mente agregada do universo, o Senhor Aniruddha, que aparece como expansão plenária de Śrī Nārāyaṇa quando este deseja criar. O Prajāpati é Brahmā, o pai de todos os outros seres criados. Descreve-se isso na Mahā-nārāyaṇa Upaniṣad (1.4), atha punar eva nārāyaṇaḥ so ’nyaṁ kāmaṁ manasā dhyāyet; tasya dhyānāntaḥ-sthasya lalanāt svedo ’patat; tā imā pratatāpa tāsu tejo hiraṇ-mayam aṇḍaṁ tatra brahmā catur-mukho ’jāyata: “Então, o Senhor Nārāyaṇa meditou sobre outro desejo Seu, e, enquanto pon­derava, uma gota de suor caiu de Sua testa. Todas as criações mate­riais evoluíram da fermentação dessa gota. Então, apareceu o ígneo ovo dourado do universo, e, dentro desse globo, nasceu o Brahmā de quatro cabeças.”

Quando se manufatura um objeto em particular, este aparece como uma transformação de sua causa constituinte, como no caso da joia feita de ouro. Pessoas que querem ouro não rejeitarão brincos ou colares de ouro, pois esses objetos ainda são ouro, apesar de sua modificação. Os verdadeiros jñānīs veem neste exemplo mundano uma analogia com a relação diferente-porém-não-diferente entre o Puruṣa e Suas emanações, tanto materiais quanto espirituais. Dessa maneira, este conhecimento transcendental liberta-os do cativeiro da ilusão, pois eles podem, então, ver o Senhor em toda a Sua criação.

Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

yat sattvataḥ sadā bhāti
jagad etad asat svataḥ
sad-ābhāsam asaty asmin
bhagavantaṁ bhajāma tam

“Adoremos a Suprema Personalidade de Deus, em virtude de cuja existência substancial este mundo criado parece existir perpetuamen­te, embora, em essência, seja insubstancial. Como a Superalma, Ele constitui a representação do real dentro desta irrealidade.”

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