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VERSO 32

nṛṣu tava mayayā bhramam amīṣv avagatya bhṛśaṁ
tvayi su-dhiyo ’bhave dadhati bhāvam anuprabhavam
katham anuvartatāṁ bhava-bhayaṁ tava yad bhru-kuṭiḥ
sṛjati muhus tri-nemir abhavac-charaṇeṣu bhayam

nṛṣu — entre seres humanos; tava — Vossa; māyayā — pela energia ilusória; bhramam — confusão; amīṣu — entre estes; avagatya — compreendendo; bhṛśam — fervoroso; tvayi — para Vós; su-dhiyaḥ — aqueles que são sábios; abhave — para a fonte de liberação; dadhati — prestam; bhāvam — serviço amoroso; anuprabhavam — potente; katham — como; anuvartatām — para aqueles que Vos seguem fielmente; bhava — da vida material; bhayam — temor; tava — Vosso; yat — desde que; bhru — das sobrancelhas; kuṭiḥ — o franzir; sṛjati — cria; muhuḥ — repetida­mente; tri-nemiḥ — de três aros (nas três fases do tempo, a saber, pas­sado, presente e futuro); a — não; bhavat — em Vós; śaraṇeṣu — para aqueles que se abrigam; bhayam — temor.

As almas sábias que compreendem como Vossa māyā enga­na todos os seres humanos prestam poderoso serviço amoroso a Vós, que sois a fonte de liberação dos nascimentos e mortes. Como, de fato, o medo da vida material pode afetar Vossos fiéis servos? Por outro lado, Vossas sobrancelhas franzidas – a roda do tempo, a qual tem três aros – aterrorizam repetidamente aqueles que se recusam a abrigar-se em Vós.

SIGNIFICADO—Os Vedas revelam seu segredo mais precioso – o serviço devocio­nal à Personalidade de Deus – somente àqueles que estão cansados da ilusão material, que se baseia num falso sentido de independên­cia do Senhor. A Vājasaneyī-saṁhitā (32.11) do Yajur Veda Branco contém o seguinte mantra:

parītya bhūtāni parītya lokān
parītya sarvāḥ pradiśo diśaś ca
upasthāya prathama-jāmṛtasyā-
tmanātmānam abhisaṁviveśa

“Depois de passar por todas as espécies de vida, todos os sistemas planetários e todos os limites do espaço em todas as direções, a pessoa se aproxima da Alma original da imortalidade. Então, recebe a opor­tunidade de entrar permanentemente em Seu domínio e adorá-lO com serviço pessoal.”

Os proponentes de várias filosofias materialistas divergentes podem considerar-se muito sábios, mas de fato todos eles estão iludidos pela māyā do Senhor Supremo. Os vaiṣṇavas reconhecem esse padrão de ilusão geral e submetem-se ao Senhor Supremo mediante as atitudes devocionais de serviço, amizade etc. Em vez do calor e luta da discussão filosófica, os vaiṣṇavas puros experimentam apenas prazer a cada momento, dado que o objeto de seu amor é aquele que põe fim a todo o enredamento material. E os devotos do Senhor Viṣṇu desfru­tam de um prazer constante não só nesta vida, mas também nas vidas futuras. Em quaisquer nascimentos que aceitem, eles gozam de um intercâmbio amo­roso com o Senhor. Por isso, o vaiṣṇava sincero ora:

nātha yoni-sahasreṣu
yeṣu yeṣu bhramāmy aham
tatra tatrācyutā bhaktir
acyutāstu dṛḍhā tvayi

“Por onde quer que eu vagueie, ó amo, entre milhares de espécies de vida, que em toda situação eu tenha firme e fixa devoção a Vós, ó Acyuta.” (Viṣṇu Purāṇa)

Alguns filósofos questionarão como os vaiṣṇavas podem superar sua armadilha material sem um conhecimento analítico completo das entidades tvam (“tu”, a jīva) e tat (“aquilo”, o Supremo), e sem desenvolver um ódio suficiente à vida material. Os Vedas personifi­cados aqui respondem que não há possibilidade de a ilusão material continuar a agir sobre os devotos do Senhor porque, mesmo nas fases iniciais do serviço devocional, todo o medo e apego são retirados pela graça do Senhor.

O tempo é a causa original de todo o temor neste mundo. De fato, com suas três divisões, a saber, passado, presente e futuro, ele cria terror ante a perspectiva de doença, morte e sofrimento infernal imi­nentes –, mas apenas para aqueles que deixaram de obter abrigo aos pés do Senhor Supremo. Como o próprio Senhor diz no Rāmāyaṇa (Laṅkā-khaṇḍa 18.33):

sakṛd eva prapanno yas
tavāsmīti ca yācate
abhayaṁ sarvadā tasmai
dadāmy etad vrataṁ mama

“Para quem quer que ao menos uma vez se renda a Mim, dizendo: ‘Sou Vosso’, Eu dou eterno destemor. Este é Meu voto solene.” Além disso, o Senhor diz na Bhagavad-gītā (7.14):

daivī hy eṣā guṇa-mayī
mama māyā duratyayā
mām eva ye prapadyante
māyāṁ etāṁ taranti te

“Esta Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la.”

Os vaiṣṇavas não gostam de desperdiçar seu tempo em prolongada e infrutífera discussão sobre áridos assuntos filosóficos. Eles pre­ferem adorar a Personalidade de Deus a disputar com adversários fi­losóficos. A compreensão dos vaiṣṇavas concorda com a mensagem essencial da escritura revelada. A concepção que esses devotos têm da Suprema Verdade Absoluta como o oceano infinito de personali­dade e passatempos amorosos em Suas adoráveis formas de Kṛṣṇa, Rāma e outras manifestações divinas, e sua concepção de si mesmos como servos eternos dEle, equivalem à perfeita conclusão da filoso­fia vedānta em termos das entidades tat e tvam.

A Personalidade de Deus e Suas emanações, tais como as almas jīvas, são diferentes e não diferentes ao mesmo tempo, assim como o Sol e os raios que emanam dele. Existem mais jīvas do que alguém pode contar, e cada uma delas está eternamente viva em consciência, como confirmam os śrutis: nityo nityānāṁ cetanaś cetanānām. (Kaṭha Upaniṣad 5.13 e Śvetāśvatara Upaniṣad 6.13) Quando são geradas do corpo do Mahā-Viṣṇu no início da criação material, as jīvas são todas iguais no sentido de que são todas partículas atômicas da energia marginal do Senhor. De acordo com suas diferentes condições, no entanto, elas se di­videm em quatro grupos: Algumas são cobertas pela ignorância, que obscurece sua visão como uma nuvem. Outras se libertam da igno­rância através de uma combinação de conhecimento e devoção. Um terceiro grupo de almas torna-se dotado de devoção pura, com uma leve mistura de desejo de conhecimento especulativo e atividade fruitiva. Essas almas obtêm corpos purificados constituídos de co­nhecimento perfeito e bem-aventurança, com os quais podem ocupar­-se no serviço ao Senhor. Por fim, há aquelas que são desprovidas de qualquer ligação com a ignorância; estas são os companheiros eternos do Senhor.

A posição marginal da alma jīva é descrita no Nārada Pañcarātra:

yat taṭa-sthaṁ tu cid-rūpaṁ
sva-saṁvedyād vinirgatam
rañjitaṁ guṇa-rāgeṇa
sa jīva iti kathyate

“Deve-se entender a potência taṭastha como emanação da energia saṁvit [de conhecimento] do Senhor. Essa emanação, chamada jīva, fica condicionada pelas qualidades da natureza material.” Porque a diminuta jīva vive dentro da margem, entre a potência externa ilusó­ria do Senhor, māyā, e Sua potência espiritual interna, cit, a jīva é chamada taṭastha, “marginal”. Ao lograr a liberação mediante o cultivo de devoção ao Senhor, porém, ela fica completamente sob o abrigo da potência interna do Senhor, e nesse momento ela não está mais maculada pelos modos da natureza material. O Senhor Kṛṣṇa confirma isso na Bhagavad-gītā (14.26):

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

“Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno e não falha em circunstância alguma transcende de imediato os modos da natureza material e chega, então, ao nível de Brahman.”

O objeto da adoração da alma é compreendido em três aspectos: Brahman, Paramātmā e Bhagavān. O Brahman impessoal é como a radiante refulgência do Sol; a Superalma, ou Paramātmā, é como o globo solar; e a Personalidade de Deus, Bhagavān, é como a deidade que rege o Sol, complementada por sua elaborada comitiva e para­fernália. Ou, para citar outra analogia, viajantes que se aproximam de uma cidade não podem, à distância, distinguir suas características, mas apenas ver algo vagamente brilhando adiante deles. Ao chegarem mais perto, podem perceber alguns dos edifícios mais altos. Então, quando estão bastante perto, eles verão a cidade como ela é – uma fervilhante metrópole com muitos cidadãos, residências, edifícios pú­blicos, rodovias e parques. Da mesma maneira, pessoas inclinadas à meditação impessoal podem, quando muito, conseguir alguma percep­ção da refulgência do Senhor Supremo (Brahman), aqueles que se aproximam mais podem aprender a vê-lO como o Senhor no coração (Paramātmā), e aqueles que chegam muito perto podem conhecê-lO em Sua plena personalidade (Bhagavān).

Em resumo, Śrīla Śrīdhara Svāmī ora:

saṁsāra-cakra-krakacair vidīrṇam
udīrṇa-nānā-bhava-tāpa-taptam
kathañcid āpannam iha prapannaṁ
tvam uddhara śrī-nṛhare nṛ-lokam

“Ó Śrī Nṛhari, por favor, salvai aqueles seres humanos que têm so­frido todas as espécies de tormentos e foram cortados em pedaços pela roda afiada do saṁsāra, mas que agora, de alguma maneira, encontraram-Vos e estão rendendo-se a Vós.”

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