VERSO 15
mahiṣya ūcuḥ
kurari vilapasi tvaṁ vīta-nidrā na śeṣe
svapiti jagati rātryām īśvaro gupta-bodhaḥ
vayam iva sakhi kaccid gāḍha-nirviddha-cetā
nalina-nayana-hāsodāra-līlekṣitena
mahiṣyaḥ ūcuḥ — as rainhas disseram; kurari — ó ave kurarī (águia marinha fêmea); vilapasi — estás lamentando; tvam — tu; vīta — privada; nidrā — de sono; na śeṣe — não podes descansar; svapiti — está dormindo; jagati — (em alguma parte) no mundo; rātryām — durante a noite; īśvaraḥ — o Senhor Supremo; gupta — oculto; bodhaḥ — cujo paradeiro; vayam — nós; iva — assim como; sakhi — ó amiga; kaccit — acaso; gāḍha — profundamente; nirviddha — transpassado; cetāḥ — cujo coração; nalina — (como) um lótus; nayana — cujos olhos; hāsa — sorridente; udāra — liberal; līlā — brincalhão; īkṣitena — pelo olhar.
As rainhas disseram: Ó ave kurarī, estás lamentando. Agora é noite, e em alguma parte neste mundo o Senhor Supremo está adormecido num lugar oculto. Mas tu estás bem acordada, ó amiga, incapaz de adormecer. Será que o âmago de teu coração, assim como o nosso, foi transpassado pelos olhares sorridentes, brincalhões e munificentes do Senhor de olhos de lótus?
SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que a loucura (unmāda) transcendental das rainhas enchia-as de um êxtase tal que elas viam seu próprio humor refletido em todos e em tudo mais. Nesta passagem, elas indicam para a ave kurarī, que elas supõem que esteja lamentando devido à saudade do Senhor Kṛṣṇa, que, se o Senhor de fato tivesse alguma consideração por ela ou por elas, Ele não estaria dormindo confortavelmente naquele momento. Elas aconselham a kurarī a não esperar que Kṛṣṇa ouça sua lamentação e mostre alguma misericórdia. Caso a kurarī pense que Kṛṣṇa está dormindo com Suas rainhas, elas negam isso dizendo que gupta-bodha: Seu paradeiro lhes é desconhecido. Ele está em alguma parte do mundo esta noite, mas elas não têm ideia de onde procurá-lO. “Ah! Querida ave”, exclamam elas, “embora sejas uma criatura simples, teu coração foi profundamente perfurado, assim como o nosso. Deves ter tido algum contato, então, com nosso Kṛṣṇa. O que te impede de abandonar teu desesperançado apego por Ele?”