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VERSO 48

jayati jana-nivāso devakī-janma-vādo
yadu-vara-pariṣat svair dorbhir asyann adharmam
sthira-cara-vṛjina-ghnaḥ su-smita-śrī-mukhena
vraja-pura-vanitānāṁ vardhayan kāma-devam

jayati — vive em eterna glória; jana-nivāsaḥ — aquele que vive entre os seres humanos, tais como os membros da dinastia Yadu, e é o último recurso de todas as entidades vivas; devakī-janma-vādaḥ — conhecido como o filho de Devakī (Na realidade, ninguém pode tornar-se pai ou mãe da Suprema Personalidade de Deus. Por isso, devakī­-janma-vāda significa que Ele é conhecido como o filho de Devakī. Semelhantemente, Ele também é conhecido como o filho de mãe Yaśodā, Vasudeva e Nanda Mahārāja); yadu-vara-pariṣat — servido pelos membros da dinastia Yadu ou pelos vaqueiros de Vṛndāvana (todos os quais são companheiros constantes do Senhor Supremo e são servos eternos do Senhor); svaiḥ dorbhiḥ — com Seus próprios braços, ou com Seus devotos como Arjuna, que são exatamente como Seus próprios braços; asyan — matando; adharmam — demônios, ou os ímpios; sthira-cara-vṛjina-ghnaḥ — o destruidor de todo o infortú­nio de todas as entidades vivas, móveis e inertes; su-smita — sempre sorridente; śrī-mukhena — com Seu belo rosto; vraja-pura-vanitānām — das donzelas de Vṛndāvana; vardhayan — aumentando; kāma-devam — os desejos luxuriosos.

O Senhor Śrī Kṛṣṇa, conhecido como jana-nivāsa, o último recurso de todas as entidades vivas, também é conhecido como Devakī-nandana ou Yaśodā-nandana, o filho de Devakī e Yaśodā. Ele é o guia da dinastia Yadu e, com Seus poderosos braços, mata todas as coisas inauspiciosas, bem como todos os homens ímpios. Com Sua presença, Ele destrói tudo o que é inauspicioso para todas as entidades vivas, móveis e inertes. Seu rosto risonho e bem-aventurado sempre aumenta os desejos luxuriosos das gopīs de Vṛndāvana. Que com Ele sempre esteja toda glória e felicidade!

SIGNIFICADO—A tradução e os significados das palavras deste verso foram tira­dos da tradução do Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya 13.79) feita por Śrīla Prabhupāda. Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, Śrīla Śukadeva Gosvāmī compôs este belo verso para consolar aqueles que lamentam o fato de o Senhor Kṛṣṇa não continuar a manifestar Seus passatempos ín­timos até o tempo presente. Aqui, Śrī Śukadeva lembra seus ouvin­tes de que o Senhor está eternamente presente neste mundo – em Sua santa morada, em Seu nome e na recitação de Suas glórias. Esta ideia é expressa pela palavra jayati (“Ele é vitorioso”), que está no tempo presente, e não no passado.

Śrīla Prabhupāda explica este verso da seguinte maneira no livro Kṛṣṇa: “Śrīla Śukadeva Gosvāmī conclui, então, sua descrição da elevadíssima posição do Senhor Kṛṣṇa glorificando-O assim: ‘Ó Senhor Kṛṣṇa, todas as glórias a Vós. Estais presente no coração de todos como o Paramātmā. Por isso, sois conhecido como Jananivāsa, aquele que vive no coração de todos.’ Como se confirma na Bhagavad-gītā, īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati: O Senhor Supremo, sob Seu aspecto de Paramātmā, vive dentro do coração de todos. Isso não significa, porém, que Kṛṣṇa não tenha existência separada como a Suprema Personalidade de Deus. Os filósofos māyāvādīs aceitam o aspecto onipenetrante do Parabrahman, mas quando o Parabrahman, ou o Senhor Supremo, aparece, eles pensam que Ele aparece sob o con­trole da natureza material. Porque o Senhor Kṛṣṇa apareceu como o filho de Devakī, os filósofos māyāvādīs aceitam Kṛṣṇa como sendo uma entidade viva comum que nasce neste mundo material. Por isso, Śukadeva Gosvāmī os adverte: devakī janma-vādaḥ, que significa que, embora Kṛṣṇa seja famoso como o filho de Devakī, de fato Ele é a Superalma, ou a onipenetrante Suprema Personalidade de Deus.”

“Os devotos, porém, aceitam estes dizeres devakī-janma-vādaḥ de um modo diferente. Os devotos compreendem que de fato Kṛṣṇa era o filho de mãe Yaśodā. Embora tenha aparecido primeiro como filho de Devakī, Kṛṣṇa Se transferiu imediatamente para o colo de mãe Yaśodā, e Seus passatempos infantis foram desfrutados com bem-­aventurança por mãe Yaśodā e Nanda Mahārāja. O próprio Vasudeva admitiu esse fato ao se encontrar com Nanda Mahārāja e Yaśodā em Kurukṣetra. Ele admitiu que Kṛṣṇa e Balarāma eram, na verdade, os filhos de mãe Yaśodā e Nanda Mahārāja. Vasudeva e Devakī eram apenas Seu pai e mãe oficiais...”

“Śukadeva Gosvāmī, então, glorifica o Senhor como aquele que é honrado pelo yadu-vara-pariṣat, o salão de assembleia da dinastia Yadu, e como o matador de diferentes espécies de demônios. Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, poderia ter matado os demônios por intermédio de Suas diferentes energias materiais, mas Ele quis matá-los pessoalmente para lhes dar a salvação. Não havia necessi­dade de Kṛṣṇa vir a este mundo material para matar os demônios. Apenas por Sua vontade, muitas centenas e milhares de demônios poderiam ter sido mortos sem Seu empenho pessoal. Mas de fato Ele apareceu no meio de Seus devotos puros, para brincar como uma criança com mãe Yaśodā e Nanda Mahārāja e para dar prazer aos habitantes de Dvārakā. Matando os demônios e dando proteção aos devotos, o Senhor Kṛṣṇa estabeleceu o verdadeiro princípio religioso, que é apenas o amor a Deus. Por seguirem os verdadeiros princípios religiosos do amor a Deus, até mesmo as entidades vivas conhecidas como sthira-cara também se libertaram de toda a contaminação material e foram transferidas para o reino espiritual. Sthira significa as árvores e plantas, que não podem mover-se, e cara quer dizer os animais que se movem, em especial as vacas. Quando esteve presen­te aqui, Kṛṣṇa liberou todas as árvores, macacos e outras plantas e animais que por acaso O viram e O serviram tanto em Vṛndāvana quanto em Dvārakā.”

“O Senhor Kṛṣṇa é especialmente glorificado por dar prazer às gopīs e às rainhas de Dvārakā. Śukadeva Gosvāmī glorifica o Senhor Kṛṣṇa por Seu sorriso encantador, com o qual Ele encantava não apenas as gopīs de Vṛndāvana, mas também as rainhas de Dvārakā. As pa­lavras exatas usadas a esse respeito são vardhayan kāmadevam. Em Vṛndāvana, como namorado de muitas gopīs, e em Dvārakā, como esposo de muitas rainhas, Kṛṣṇa aumentava-lhes o desejo luxurio­so de desfrutar com Ele. Para compreender Deus ou atingir a autor­realização, em geral é preceito que a pessoa se submeta a severas austeridades e penitências por muitos e muitos milhares de anos, após o que pode ser possível compreender Deus. Mas as gopīs e as rainhas de Dvārakā, apenas por aumentar seus desejos luxuriosos de des­frutar com Kṛṣṇa como seu namorado ou esposo, receberam a mais elevada classe de salvação.”

Dessa forma, Śrīla Prabhupāda ilumina admiravelmente o signifi­cado deste verso de Śukadeva Gosvāmī, que resume os passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

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