VERSO 11
etan nirvidyamānānām
icchatām akuto-bhayam
yogināṁ nṛpa nirṇītaṁ
harer nāmānukīrtanam
etat — ela é; nirvidyamānānām — daqueles que estão completamente livres de todos os desejos materiais; icchatām — daqueles que desejam todas as espécies de gozo material; akutaḥ-bhayam — livre de todas as dúvidas e temor; yoginām — de todos aqueles que são autossatisfeitos; nṛpa — ó rei; nirṇītam — verdade incontestada; hareḥ — do Senhor Śrī Kṛṣṇa; nāma — santo nome; anu — seguindo alguém, sempre; kīrtanam — canto.
Ó rei, sempre cantar os santos nomes do Senhor seguindo os caminhos das grandes autoridades é, sem dúvida, a melhor maneira de todas as pessoas alcançarem, sem nenhum medo, o sucesso, incluindo aqueles que estão livres de todos os desejos materiais, aqueles que desejam todo o gozo material e também aqueles que são autossatisfeitos em virtude do conhecimento transcendental.
SIGNIFICADO—No verso anterior, reconheceu-se a grande necessidade de alcançar apego a Mukunda. Existem diferentes categorias de pessoas que desejam obter sucesso em diferentes espécies de empreendimentos. De um modo geral, as pessoas materialistas fazem tudo para desfrutar de gozo material. Contudo, há também os transcendentalistas, que passaram a conhecer perfeitamente a natureza do gozo material e, por isso, afastam-se desse método de vida ilusória. Através da autorrealização, eles praticamente estão satisfeitos consigo mesmos. E, num plano mais elevado, estão os devotos do Senhor, os quais nem aspiram ao desfrute no mundo material, nem desejam escapar dele. Eles buscam satisfazer o Senhor Śrī Kṛṣṇa. Em outras palavras, os devotos do Senhor não querem nada que reverta apenas em sua satisfação pessoal. Se o Senhor deseja, o devoto está disposto a aceitar todas as classes de condições materiais favoráveis, e, se não for este o desejo do Senhor, os devotos podem prescindir de todas as regalias, mesmo que entre elas se inclua a salvação. Tampouco eles são autossatisfeitos, porque querem unicamente satisfazer o Senhor. Neste verso, Śrī Śukadeva Gosvāmī recomenda o canto transcendental do santo nome do Senhor. Quem não comete ofensas quando canta e ouve o santo nome do Senhor passa a familiarizar-se com a forma transcendental do Senhor e, depois, com os atributos do Senhor e, em seguida, com a natureza transcendental de Seus passatempos etc. Aqui se menciona que, após ouvir as autoridades, a pessoa deve constantemente cantar o santo nome do Senhor. Isso quer dizer que o primeiro requisito essencial é ouvir as autoridades. Ouvindo o santo nome, a pessoa gradualmente passa a ouvir sobre Sua forma, Seus atributos, Seus passatempos e assim por diante, após o que surge a necessidade de cantar as Suas glórias. Este processo é recomendado não apenas para que se execute com sucesso o serviço devocional, senão que é recomendado até mesmo para aqueles que têm apego material. De acordo com Śrī Śukadeva Gosvāmī, este processo de alcançar o êxito é um fato estabelecido, e não apenas ele, mas também todos os outros ācāryas anteriores chegaram a essa conclusão. Portanto, não há necessidade de alguma outra evidência. O processo é recomendado não apenas para os estudantes que alcançaram diferentes graus de progresso no sucesso ideológico, mas também para aqueles trabalhadores fruitivos, filósofos ou devotos do Senhor que obtiveram as conquistas próprias da posição que eles assumiram.
Śrīla Jīva Gosvāmī instrui que se deve cantar o santo nome do Senhor bem alto, e, como se recomenda no Padma Purāṇa, deve-se cantar sem cometer ofensas. Quem se rende ao Senhor pode libertar-se do efeito de todos os pecados. A pessoa pode libertar-se de todas as ofensas aos pés do Senhor refugiando-se em Seu santo nome. Mas a pessoa não pode proteger-se caso cometa ofensas aos pés do santo nome do Senhor. O Padma Purāṇa menciona que há dez dessas ofensas.
A primeira ofensa é difamar os grandes devotos que pregam as glórias do Senhor.
A segunda é comparar os santos nomes do Senhor com valores materiais. O Senhor é o proprietário de todos os universos, daí Ele poder ser conhecido em diferentes lugares por diferentes nomes, mas isso de modo algum define a plenitude do Senhor. Qualquer nomenclatura relacionada com o Senhor Supremo é tão sagrada como as outras porque todas se destinam ao Senhor. Esses santos nomes são tão poderosos como o Senhor, e, em nenhuma parte da criação, nada impede que a pessoa cante e glorifique o Senhor através do nome específico com que o Senhor é conhecido naquele local. Todos eles são auspiciosos e ninguém deve distinguir esses nomes do Senhor como artigos materiais.
A terceira ofensa é negligenciar as ordens dos ācāryas, ou mestres espirituais autorizados.
A quarta ofensa é blasfemar a literatura védica ou o conhecimento védico.
A quinta ofensa é definir o santo nome do Senhor em termos de cálculos mundanos. O santo nome do Senhor é idêntico ao próprio Senhor, e a pessoa deve procurar entender que o santo nome do Senhor não é diferente dEle.
A sexta ofensa é interpretar o santo nome. O Senhor não é imaginário, tampouco o é Seu santo nome. Pessoas com um pobre fundo de conhecimento pensam que o Senhor é uma imaginação do adorador e, portanto, julgam que Seu santo nome é imaginário. Quem segue essa linha de pensamento não pode alcançar o sucesso reservado àquele que canta o santo nome.
A sétima ofensa é apoiar-se na força do santo nome e cometer pecados intencionalmente. Nas escrituras, afirma-se que, pelo simples fato de cantar o santo nome do Senhor, a pessoa pode libertar-se dos efeitos de todas as ações pecaminosas. Aquele que, querendo tirar proveito deste método transcendental, continua cometendo pecados na esperança de neutralizar os efeitos dos pecados cantando os santos nomes do Senhor é o maior ofensor aos pés do santo nome. Entre os métodos recomendados para purificação, não há nenhum que sirva para ajudar semelhante ofensor. Em outras palavras, antes de cantar o santo nome do Senhor, alguém talvez tenha sido muito pecaminoso, mas, após refugiar-se no santo nome do Senhor e tornar-se imune, ele deve ser estrito em abster-se de cometer atos pecaminosos e cultivar a esperança de que seu método de cantar o santo nome lhe dará proteção.
A oitava ofensa é considerar que o santo nome do Senhor e o método como ele é cantado são iguais a alguma atividade material auspiciosa. Existem várias categorias de boas ações que produzem benefícios materiais, mas cantar o santo nome não é um mero serviço sagrado auspicioso. Sem dúvidas, o santo nome é um serviço sagrado, mas nunca se deve utilizá-lo com esses propósitos. Como o santo nome e o Senhor são da mesmíssima natureza, ninguém deve fazer do santo nome um método de prestar serviço à humanidade. A ideia é que o Senhor Supremo é o desfrutador supremo. Ele não é servo nem supridor dos desejos de ninguém. De modo semelhante, como o santo nome do Senhor é idêntico ao Senhor, ninguém deve tentar utilizar para seu serviço pessoal o santo nome.
A nona ofensa é fornecer explicações sobre a natureza transcendental do santo nome àqueles que não estão interessados em cantar o santo nome. Se essa instrução é transmitida a uma audiência relutante, o ato é considerado uma ofensa aos pés do santo nome.
A décima ofensa é perder o interesse pelo santo nome do Senhor mesmo após ouvir sobre a natureza transcendental do santo nome. Quem canta o santo nome do Senhor sente seu efeito e liberta-se do conceito de falso egoísmo. O falso egoísmo manifesta-se quando a pessoa se julga o desfrutador do mundo e pensa que tudo no mundo serve apenas para o seu próprio prazer. Todo o mundo materialista se move sob esse falso egoísmo que se apresenta sob a forma de “eu” e “meu”, mas o verdadeiro efeito de cantar o santo nome é livrar-se dessas falsas concepções.