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VERSO 45

nāsya karmaṇi janmādau
parasyānuvidhīyate
kartṛtva-pratiṣedhārthaṁ
māyayāropitaṁ hi tat

na — nunca; asya — da criação; karmaṇi — quando se trata de; janma-ādau — criação e destruição; parasya — do Supremo; anuvidhīyate — assim descrito; kartṛtva — participando; pratiṣedha-artham — neutralização; māyayā — pela energia externa; āropitam — é manifesta; hi — para; tat — o criador.

Não há participação direta do Senhor na criação e destruição do mundo material. O que se descreve nos Vedas sobre Sua interferência direta é apenas para neutralizar a ideia de que a natureza material é o criador.

SIGNIFICADO—Esta é a maneira como os Vedas tratam da criação, manutenção e destruição do mundo material: yato vā imāni bhūtāni jāyante; yena jātāni jīvanti; yat prayanty abhisaṁviśanti, isto é, tudo é criado pelo Brahman, depois da criação tudo é mantido pelo Brahman, e, depois da aniquilação, tudo é conservado no Brahman. Os materialistas grosseiros, sem nenhum conhecimento acerca de Brahman, Paramātmā ou Bhagavān, concluem que a natureza material é a causa última da manifestação material, e o cientista moderno também compartilha dessa opinião de que a natureza material é a causa última de todas as manifestações do mundo material. Essa noção é refutada por toda a literatura védica. A filosofia vedānta menciona que o Brahman é a fonte de toda a criação, manutenção e destruição, e o Śrīmad-Bhāgavatam, o comentário natural sobre a filosofia vedānta, diz que janmādy asya yato ’nvayād itarataś cārtheṣv abhijñaḥ svarāṭ etc.

A matéria inerte é, sem dúvida, uma energia com potencial para interagir, mas ela não tem iniciativa própria. Portanto, o Śrīmad-Bhāgavatam comenta o aforismo janmādy asya dizendo abhijñaḥ e svarāṭ, isto é, o Brahman Supremo não é energia inerte, senão que é consciência suprema e é independente. Por conseguinte, a matéria inerte não pode ser a causa última da criação, manutenção e destruição do mundo material. Superficialmente, a natureza material parece ser a causa da criação, manutenção e destruição, mas o supremo ser consciente, a Personalidade de Deus, põe a natureza material em ação para que ela possa criar. Ele é o fundamento de toda a criação, manutenção e destruição, e confirma isso a Bhagavad-gītā (9.10):

mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ
sūyate sa-carācaram
hetunānena kaunteya
jagad viparivartate

A natureza material é uma das energias do Senhor, e ela pode agir sob a direção do Senhor (adhyakṣeṇa). Quando o Senhor lança Seu olhar transcendental sobre a natureza material, só então a natureza material pode agir, assim como um pai entra em contato com a mãe, que então é capaz de conceber um filho. Embora pareça ao leigo que a mãe gera a criança, o homem experiente sabe que é o pai que gera a criança. A natureza material, portanto, produz as manifestações móveis e inertes do mundo material depois do contato do pai supremo, e não independentemente. Considerar a natureza material como a causa da criação, manutenção, etc. chama-se “a lógica das tetas no pescoço do bode”. O Caitanya-caritāmṛta, de Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, descreve esta lógica de ajā-gala-stana-nyāya como segue (conforme explicação de Sua Divina Graça Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja): “A natureza material, como causa material, é conhecida como pradhāna, e como causa eficiente é conhecida como māyā. Mas como é matéria inerte, ela não é a causa remota da criação.” Kavirāja Gosvāmī faz a seguinte afirmação:

ataeva kṛṣṇa mūla-jagat-kāraṇa
prakṛti — kāraṇa yaiche ajā-gala-stana

(Caitanya-caritāmṛta, Ādi 5.61)

Porque Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu é uma expansão plenária de Kṛṣṇa, é Ele que eletrifica a matéria para colocá-la em movimento. O exemplo da eletrificação é muito apropriado. Um pedaço de ferro na certa não é fogo, mas, quando está em brasa, o ferro decerto tem a qualidade do fogo através de sua capacidade de queimar. A matéria é comparada ao pedaço de ferro, e ela é eletrificada ou incandescida pelo olhar de Viṣṇu ou pelo manuseio exercido pela Sua consciência suprema. É só por essa eletrificação que a energia da matéria se manifesta em várias ações e reações. Portanto, a matéria inerte não é o fator eficiente nem é a causa material da manifestação cósmica. Śrī Kapiladeva disse:

yatholmukād visphuliṅgād
dhūmād vāpi sva-sambhavāt
apy ātmatvenābhimatād
yathāgniḥ pṛthag ulmukāt

(Śrīmad-Bhāgavatam 3.28.40)

O fogo original, sua chama, suas fagulhas e sua fumaça, todos são a mesma coisa, pois o fogo continua sendo fogo, embora seja diferente da chama, a chama seja diferente das fagulhas, e as fagulhas sejam diferentes da fumaça. Em cada uma delas, a saber, nas chamas, nas fagulhas e na fumaça, a integridade do fogo está presente, mas todas elas apresentam diferentes situações com diferentes gradações. A manifestação cósmica é comparada à fumaça porque, quando a fumaça passa sobre o céu, aparecem muitas formas, semelhantes a muitas manifestações conhecidas e desconhecidas. As fagulhas são comparadas às entidades vivas, e as chamas são comparadas à natureza material (pradhāna). Deve-se saber que cada uma delas é eficiente devido ao simples fato de que tem qualidade igual ao fogo original. Portanto, todas elas, a saber, a natureza material, a manifestação cósmica e as entidades vivas, não passam de diferentes energias do Senhor (o fogo). Portanto, aqueles que aceitam a natureza material como a causa original da manifestação cósmica (prakṛti, a causa da criação segundo a filosofia sāṅkhya) não chegaram à conclusão correta. A natureza material não tem existência autônoma sem o Senhor. Logo, preterir o Senhor Supremo como a causa de todas as causas é a lógica de ajā-gala-stana-nyāya, ou tentar tirar leite nas tetas do pescoço do bode. As tetas no pescoço do bode podem parecer fontes de leite, mas tentar tirar leite dessas tetas será tolice.

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