VERSO 46
ayaṁ tu brahmaṇaḥ kalpaḥ
savikalpa udāhṛtaḥ
vidhiḥ sādhāraṇo yatra
sargāḥ prākṛta-vaikṛtāḥ
ayam — este processo de criação e aniquilação; tu — mas; brahmaṇaḥ — de Brahmā; kalpaḥ — um dia seu; sa-vikalpaḥ — juntamente com a duração dos universos; udāhṛtaḥ — exemplificado; vidhiḥ — princípios reguladores; sādhāraṇaḥ — em resumo; yatra — onde; sargāḥ — criação; prākṛta — no caso da natureza material; vaikṛtāḥ — dispersão.
Este processo de criação e aniquilação descrito em resumo nesta passagem é o princípio regulador vigente enquanto dura um dia de Brahmā. É também o princípio regulador vigente na criação do mahat, no qual a natureza material se dispersa.
SIGNIFICADO—Existem três diferentes espécies de criação, chamadas mahā-kalpa, vikalpa e kalpa. No mahā-kalpa, o Senhor assume a primeira encarnação puruṣa, o Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu, com todas as potências do mahat-tattva e os dezesseis princípios dos instrumentos e da matéria criadora. Os instrumentos criadores são onze, os ingredientes são cinco, e todos eles são produtos do mahat, ou o ego materialista. Essas criações que o Senhor realiza em Seu aspecto de Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu chamam-se mahā-kalpa. A criação de Brahmā e a dispersão dos ingredientes materiais chamam-se vikalpa, e a criação que Brahmā executa em cada dia de sua vida chama-se kalpa. Portanto, cada dia de Brahmā chama-se uma kalpa, e, em termos de dias de Brahmā, existem trinta kalpas. Quanto a isso, a Bhagavad-gītā (8.17) apresenta também a seguinte confirmação:
sahasra-yuga-paryantam
ahar yad brahmaṇo viduḥ
rātriṁ yuga-sahasrāntāṁ
te ’ho-rātra-vido janāḥ
No sistema planetário superior, a duração de um dia e uma noite completos é igual a um ano inteiro desta Terra. Isso é aceito até mesmo pelo cientista moderno e confirmado pelos astronautas. De modo semelhante, na região dos sistemas planetários ainda mais elevados, a duração do dia e da noite é maior do que nos planetas celestiais. Calculam-se os quatro yugas em termos dos calendários celestiais, e, nesse aspecto, existem doze mil anos em termos dos planetas celestiais. Isso se chama divya-yuga, e mil divya-yugas perfazem um dia de Brahmā. A criação durante o dia de Brahmā chama-se kalpa, e a criação de Brahmā chama-se vikalpa. Quando a respiração de Mahā-Viṣṇu produz os vikalpas, isso se chama um mahā-kalpa. Existem ciclos regulares e sistemáticos desses mahā-kalpas, vikalpas e kalpas. Para a pergunta que Mahārāja Parīkṣit fez a respeito delas, Śukadeva Gosvāmī formula a resposta no Prabhāsa-khaṇḍa do Skanda Purāṇa. Elas são as seguintes:
prathamaḥ śveta-kalpaś ca
dvitīyo nīla-lohitaḥ
vāmadevas tṛtīyas tu
tato gāthāntaro ’paraḥ
rauravaḥ pañcamaḥ proktaḥ
ṣaṣṭhaḥ prāṇa iti smṛtaḥ
saptamo ’tha bṛhat-kalpaḥ
kandarpo ’ṣṭama ucyate
sadyotha navamaḥ kalpa
īśāno daśamaḥ smṛtaḥ
dhyāna ekādaśaḥ proktas
tathā sārasvato ’paraḥ
trayodaśa udānas tu
garuḍo ’tha caturdaśaḥ
kaurmaḥ pañcadaśo jñeyaḥ
paurṇamāsī prajāpateḥ
ṣoḍaśo nārasiṁhas tu
samādhis tu tato ’paraḥ
āgneyo viṣṇujaḥ sauraḥ
soma-kalpas tato ’paraḥ
dvāviṁśo bhāvanaḥ proktaḥ
supumān iti cāparaḥ
vaikuṇṭhaś cārṣṭiṣas tadvad
valī-kalpas tato ’paraḥ
saptaviṁśo ’tha vairājo
gaurī-kalpas tathāparaḥ
māheśvaras tathā proktas
tripuro yatra ghātitaḥ
pitṛ-kalpas tathā cānte
yaḥ kuhūr brahmaṇaḥ smṛtā
Portanto, os trinta kalpas de Brahmā são: (1) Śveta-kalpa, (2) Nīlalohita, (3) Vāmadeva, (4) Gāthāntara, (5) Raurava, (6) Prāṇa, (7) Bṛhat-kalpa, (8) Kandarpa, (9) Sadyotha, (10) Īśāna, (11) Dhyāna, (12) Sārasvata, (13) Udāna, (14) Garuḍa, (15) Kaurma, (16) Nārasiṁha, (17) Samādhi, (18) Āgneya, (19) Viṣṇuja, (20) Saura, (21) Soma-kalpa, (22) Bhāvana, (23) Supuma, (24) Vaikuṇṭha, (25) Arciṣa, (26) Valī-kalpa, (27) Vairāja, (28) Gaurī-kalpa, (29) Māheśvara, (30) Paitṛ-kalpa.
Esses são apenas os dias de Brahmā, e ele tem de viver meses e anos até completar cem anos. Assim sendo, podemos apenas imaginar quantas criações existem só nos kalpas. E, em seguida, ainda há os vikalpas, que são gerados pela respiração do Mahā-Viṣṇu, como afirma a Brahma-saṁhitā (yasyaika-niśvasita-kālam athāvalambya jīvanti loma-vilajā jagadaṇḍa-nāthāḥ). Os Brahmās vivem apenas durante o período da respiração de Mahā-Viṣṇu. Assim, a exalação e a inalação de Viṣṇu são mahā-kalpas, e todas essas se devem à Suprema Personalidade de Deus, pois nenhuma outra pessoa é o senhor de todas as criações.