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VERSO 4

satyāṁ kṣitau kiṁ kaśipoḥ prayāsair
bāhau svasiddhe hy upabarhaṇaiḥ kim
saty añjalau kiṁ purudhānna-pātryā
dig-valkalādau sati kiṁ dukūlaiḥ

satyām — estando em posse; kṣitau — terrenos planos; kim — qual a necessidade; kaśipoḥ — de camas e cabanas; prayāsaiḥ — esforçando-se por; bāhau — os braços; sva-siddhe — sendo autossuficiente; hi certamente; upabarhaṇaiḥ — cama e armação de cama; kim — qual a utilidade; sati — estando presentes; añjalau — as palmas das mãos; kim — qual é a utilidade; purudhā — variedade de; anna — comestíveis; pātryā — pelos utensílios; dik — espaço aberto; valkala-ādau — cascas de árvores; sati — existindo; kim — qual a utilidade de; dukūlaiḥ — roupas.

Qual a necessidade de cabanas e camas se existe o chão para deitar-se? Qual a necessidade de um travesseiro quando é possível usar os próprios braços? Qual a necessidade de variados utensílios quando é possível usar as palmas das mãos? Qual a necessidade de roupas quando não faltam coisas que servem para cobrir, tais como as cascas das árvores?

SIGNIFICADO—Ninguém deve aumentar desnecessariamente os ingredientes que servem para a proteção e o conforto do corpo. A energia humana é desperdiçada em uma busca inútil dessa felicidade ilusória. Se a pessoa é capaz de deitar-se no chão, por que, então, deveria esforçar-se para conseguir uma boa cama ou um colchão macio, para deitar-se? Se a pessoa pode descansar sem nenhum travesseiro e usar os braços macios dados pela natureza, não é preciso buscar um travesseiro. Se fizermos um estudo geral da vida dos animais, poderemos ver que eles não têm inteligência para construir grandes casas, móveis e outras parafernálias domésticas, apesar do que mantêm uma vida saudável, deitando-se no descampado. Eles não sabem como cozinhar ou preparar alimentos, mas levam vidas saudáveis mais facilmente do que o ser humano. Isso não significa que a civilização humana deva reverter à vida animal ou que o ser humano deva viver nu nas selvas sem qualquer cultura, educação e senso de moralidade. Um homem inteligente não pode levar uma vida de animal; ao contrário, o homem deve tentar utilizar sua inteligência nas artes, na ciência, na poesia e na filosofia. Dessa maneira, pode estimular a marcha progressiva da civilização humana. Mas aqui a ideia dada por Śrīla Śukadeva Gosvāmī é que a reserva de energia da vida humana, que é muito superior à dos animais, deve simplesmente ser utilizada na autorrealização. O avanço da civilização humana deve ter como meta estabelecer nossa relação com Deus, relação esta que foi interrompida, e essa meta só pode ser alcançada na forma de vida humana. Todos devem compreender a nulidade do fenômeno material, considerando-o uma fantasmagoria passageira, e devem esforçar-se para solucionar os sofrimentos da vida. A autocomplacência com um tipo de civilização animal polida e ajustada ao gozo dos sentidos é ilusão, e essa civilização não é digna do nome. Em busca dessas falsas atividades, o ser humano fica nas garras de māyā, ou ilusão. Grandes sábios e santos não viviam antigamente em construções palacianas bem mobiliadas e desfrutando a vida com outras aparentes amenidades. Eles costumavam viver em cabanas e bosques e sentar-se no chão duro e, no entanto, deixaram imensos tesouros de elevado conhecimento com toda a perfeição. Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana Gosvāmī eram ministros de Estado pertencentes ao alto escalão, mas eles foram capazes de nos legar preciosos escritos sobre o conhecimento transcendental, e nunca dormiam mais de uma noite debaixo da mesma árvore, e muito menos em quartos bem mobiliados e com amenidades modernas. Apesar disso, foram capazes de dar-nos importantíssimos textos que tratam da autorrealização. Os supostos confortos da vida não são uma verdadeira ajuda para a civilização progressiva; ao contrário, são prejudiciais a essa vida progressiva. No sistema de sanātana-dharma, formado de quatro divisões de vida social e quatro ordens de percepção progressiva, existem amplas oportunidades e suficientes orientações para um término feliz da vida progressiva, e os seguidores sinceros são aconselhados, então, a aceitar uma vida de renúncia voluntária para alcançar a meta desejada da vida. Se a pessoa no início não está acostumada a levar uma vida de renúncia e abnegação, deve tentar cultivar esse hábito em uma etapa mais tardia da vida, como recomenda Śrīla Śukadeva Gosvāmī, e isso a ajudará a alcançar o sucesso desejado.

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