VERSO 18
so ’mṛtasyābhayasyeśo
martyam annaṁ yad atyagāt
mahimaiṣa tato brahman
puruṣasya duratyayaḥ
saḥ — Ele (o Senhor); amṛtasya — da imortalidade; abhayasya — do destemor; īśaḥ — o controlador; martyam — morte; annam — ação fruitiva; yat — a pessoa que tem; atyagāt — transcendeu; mahimā — as glórias; eṣaḥ — dEle; tataḥ — portanto; brahman — ó brāhmaṇa Nārada; puruṣasya — da Personalidade Suprema; duratyayaḥ — imensuráveis.
A Suprema Personalidade de Deus é o controlador da imortalidade e do destemor, e é transcendental à morte e às ações fruitivas do mundo material. Ó Nārada, ó brāhmaṇa, é difícil, portanto, avaliar as glórias da Pessoa Suprema.
SIGNIFICADO—As glórias do Senhor, nos transcendentais setenta e cinco por cento da potência interna do Senhor, são afirmadas no Padma Purāṇa (Uttara-khaṇḍa). Ali se afirma que aqueles planetas no céu espiritual, o qual compreende setenta e cinco por cento da expansão, ou a potência interna do Senhor, são muitíssimo maiores do que aqueles planetas nos universos totais compostos da potência externa do Senhor. No Caitanya-caritāmṛta, a totalidade dos universos na potência externa do Senhor é comparada a um saco de sementes de mostarda. Uma semente de mostarda é tida como um só universo. Se em um dos universos, no qual vivemos agora, o número de planetas não pode ser contado por meio da energia humana, como podemos, então, pensar na soma total em todos os universos, que são comparados a um saco de sementes de mostarda? E o número de planetas no céu espiritual é pelo menos três vezes maior do que a quantidade dos planetas no céu material. Esses planetas, sendo espirituais, são de fato transcendentais aos modos materiais; portanto, compõem-se unicamente da bondade imaculada. A concepção de bem-aventurança espiritual (brahmānanda) está plenamente presente nesses planetas. Cada um deles é eterno, indestrutível e livre de todas as espécies de inebriamentos experimentados no mundo material. Cada um deles é autoluminoso e mais poderosamente fulgurante do que (se pudermos imaginar) o brilho total de milhões de sóis mundanos. Os habitantes desses planetas estão isentos de nascimento, morte, velhice e doença e têm pleno conhecimento de tudo; eles são todos divinos e livres de todas as espécies de anseios materiais. Lá, eles nada têm a fazer, exceto prestar transcendental serviço amoroso ao Supremo Senhor Nārāyaṇa, que é a Deidade predominante desses planetas Vaikuṇṭha. Essas almas liberadas estão incessantemente ocupadas em cantar canções mencionadas no Sāma Veda (vedaiḥ sāṅga-pada-kramopaniṣadair gāyanti yaṁ sāmagāḥ). Todas são personificações das cinco Upaniṣads. Deve-se compreender que tripād-vibhūti, ou os setenta e cinco por cento conhecidos como a potência interna do Senhor, é o reino de Deus, situado muito além do céu material, e, quando falamos de pāda-vibhūti, ou os vinte e cinco por cento que compreendem Sua energia externa, devemos entender que isso se refere à esfera do mundo material. Também se afirma no Padma Purāṇa que o reino de tripād-vibhūti é transcendental, ao passo que o pāda-vibhūti é mundano; o tripād-vibhūti é eterno, e o pāda-vibhūti é efêmero. O Senhor e Seus servos eternos no reino transcendental têm todos formas eternas, que são auspiciosas, infalíveis, espirituais e eternamente jovens. Em outras palavras, não há nascimento, morte, velhice e doença. Aquela terra eterna é repleta de gozo transcendental e plena de beleza e bem-aventurança. Esse mesmíssimo fato também é corroborado neste verso do Śrīmad-Bhāgavatam, e a natureza transcendental é descrita como amṛta. Como se descreve nos Vedas, utāmṛtatvasyeśānaḥ: o Senhor Supremo é o Senhor da imortalidade, ou, em outras palavras, o Senhor é imortal, e, como é o Senhor da imortalidade, Ele pode conceder imortalidade aos Seus devotos. Na Bhagavad-gītā (8.16), o Senhor também garante que qualquer pessoa que acaso vá à Sua morada de imortalidade jamais regressará a esta terra mortal, onde existem três classes de sofrimentos. O Senhor não é como o patrão mundano. O amo ou patrão mundano nunca desfruta igualmente com seus subordinados, tampouco um senhor mundano é imortal ou pode conceder imortalidade a seu subordinado. O Senhor Supremo, que é o líder de todas as entidades vivas, pode conceder aos Seus devotos todas as qualidades de Sua personalidade, incluindo imortalidade e bem-aventurança espiritual. No mundo material, sempre há ansiedade ou temor no coração de todas as entidades vivas, mas o Senhor, sendo Ele próprio o destemido supremo, também concede aos Seus devotos puros a mesma qualidade de destemor. A própria existência mundana é uma espécie de temor, visto que, em todos os corpos mundanos, os efeitos de nascimento, morte, velhice e doença mantêm o ser vivo sempre amedrontado. No mundo mortal, sempre existe a influência do tempo, que provoca transformações nas coisas, movendo-as de um estágio a outro, e a entidade viva, sendo originalmente avikāra, ou imutável, submete-se a um enorme sofrimento em consequência das mudanças de vida causadas pela influência do tempo. As alterações provocadas pelo tempo eterno são notavelmente ausentes no reino imortal de Deus, sendo fácil entender, portanto, que é isento da influência do tempo e de qualquer tipo de temor. No mundo material, a aparente felicidade é o resultado do próprio trabalho da pessoa. A pessoa pode tornar-se rica em virtude de seu próprio trabalho árduo, e sempre pairam dúvidas e temores quanto à duração dessa felicidade adquirida. No reino de Deus, entretanto, ninguém precisa se esforçar para alcançar um padrão de felicidade. A felicidade é a natureza do espírito, como se afirma nos Vedānta-sūtras: ānandamayo ’bhyāsāt – o espírito é por natureza pleno de felicidade. A felicidade na natureza espiritual sempre se intensifica à medida que surgem novas apreciações; fica fora de cogitação o decréscimo da bem-aventurança. Essa imaculada bem-aventurança espiritual não é encontrada em nenhuma parte da órbita do universo material, incluindo os planetas Janaloka ou mesmo os planetas Maharloka e Satyaloka, porque mesmo o senhor Brahmā está sujeito às leis das ações fruitivas e à lei do nascimento e da morte. Portanto, aqui se afirma que duratyayaḥ, ou, em outras palavras, a felicidade espiritual no reino eterno de Deus, não pode ser imaginada nem mesmo pelos grandes brahmacārīs ou sannyāsīs aptos a serem promovidos aos planetas situados além da região do céu. Ou a grandeza do Senhor Supremo é tamanha que não pode ser imaginada nem mesmo pelos grandes brahmacārīs ou sannyāsī, mas, por Sua divina graça, essa felicidade é de fato atingida pelos devotos imaculados do Senhor.