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VERSO 23

yadāsya nābhyān nalinād
aham āsaṁ mahātmanaḥ
nāvidaṁ yajña-sambhārān
puruṣāvayavān ṛte

yadā — no momento de; asya — Seu; nābhyāt — do abdômen; nalināt — da flor de lótus; aham — eu; āsam — nasci; mahā-ātmanaḥ — da grande pessoa; na avidam — não conhecia; yajña — sacrificatórias; sambhārān — ingredientes; puruṣa — do Senhor; avayavān — membros corpóreos pessoais; ṛte — exceto.

Quando nasci da flor de lótus abdominal do Senhor [Mahā-Viṣṇu], a grande pessoa, eu não tinha ingredientes para práticas sacrificatórias, exceto os membros corpóreos da grandiosa Personalidade de Deus.

SIGNIFICADO—O senhor Brahmā, o criador da manifestação cósmica, é conhecido como Svayambhū, ou aquele que nasce sem a participação de um pai e de uma mãe. O processo geral é que a criatura viva nasce da combinação sexual do pai masculino com a mãe feminina. Contudo, Brahmā, o primeiro ser vivo nascido, nasce da flor de lótus abdominal de Mahā-Viṣṇu, a expansão plenária do Senhor Kṛṣṇa. A flor de lótus abdominal é parte dos membros corpóreos do Senhor, e Brahmā nasce da flor de lótus. Portanto, o senhor Brahmā também é parte do corpo do Senhor. Brahmā, após seu aparecimento no gigantesco fosso do universo, viu apenas a escuridão. Ele sentiu-se perplexo e, em seu coração, foi inspirado pelo Senhor a submeter-se a austeridades, adquirindo, desse modo, os ingredientes para as práticas sacrificatórias. Porém, nada havia além deles dois, ou seja, a Personalidade de Mahā-Viṣṇu e o próprio Brahmā, nascido da parte corpórea do Senhor. Para as práticas sacrificatórias, são necessários muitos ingredientes, especialmente animais. O sacrifício de animais nunca se destina a matar o animal, mas a alcançar o exitoso resultado do sacrifício. O animal oferecido no fogo do sacrifício é, por assim dizer, destruído, mas, no momento seguinte, recebe uma nova vida por força dos hinos védicos cantados pelo hábil sacerdote. Quando semelhante sacerdote qualificado não está disponível, proíbe-se que sejam sacrificados animais no fogo do altar de sacrifício. Assim, dos membros corpóreos de Garbhodakaśāyī Viṣṇu, Brahmā criou até mesmo os ingredientes do sacrifício, e isso significa que a ordem cósmica foi criada pelo próprio Brahmā. Além disso, nada é criado do nada, mas tudo é criado a partir da pessoa do Senhor. Na Bhagavad-gītā (10.8), o Senhor diz que ahaṁ sarvasya prabhavo mattaḥ sarvaṁ pravartate: “Tudo é feito a partir dos membros do Meu corpo, e, portanto, sou a fonte da qual se originam todas as criações.”

Os impersonalistas argumentam que não há utilidade em adorar o Senhor tendo em vista que tudo é apenas o próprio Senhor. Entretanto, o personalista adora o Senhor por uma questão de gratidão, utilizando os ingredientes nascidos dos membros corpóreos do Senhor. O corpo da Terra produz os frutos e as flores, e, ainda assim, o devoto sensato adora a mãe Terra com ingredientes nascidos da Terra. Igualmente, a mãe Ganges é adorada com água do Ganges, apesar do que o adorador desfruta do resultado dessa adoração. A adoração ao Senhor também é realizada com os ingredientes nascidos dos membros corpóreos do Senhor, mas o adorador, que é ele próprio uma parte do Senhor, alcança o resultado reservado àquele que pratica serviço devocional ao Senhor. Enquanto o impersonalista conclui erroneamente que ele é o próprio Senhor, o personalista, devido a uma imensa gratidão, adora o Senhor em serviço devocional, sabendo perfeitamente bem que nada é diferente do Senhor. O devoto, portanto, esforça-se para aplicar tudo no serviço ao Senhor porque sabe que tudo é propriedade do Senhor e que ninguém pode alegar ser proprietário de algo. Essa concepção perfeita de unidade ajuda o adorador a se ocupar em Seu serviço amoroso, ao passo que o impersonalista, com sua falsa arrogância, permanece perenemente um não-devoto e jamais é reconhecido pelo Senhor.

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