VERSO 34
na bhāratī me ’ṅga mṛṣopalakṣyate
na vai kvacin me manaso mṛṣā gatiḥ
na me hṛṣīkāṇi patanty asat-pathe
yan me hṛdautkaṇṭhyavatā dhṛto hariḥ
na — nunca; bhāratī — afirmações; me — minhas; aṅga — ó Nārada; mṛṣā — falsidade; upalakṣyate — mostrarem ter sido; na — nunca; vai — decerto; kvacit — em tempo algum; me — minha; manasaḥ — da mente; mṛṣā — falsidade; gatiḥ — progresso; na — nem; me — meus; hṛṣīkāṇi — sentidos; patanti — degradam-se; asat-pathe — na matéria temporária; yat — porque; me — meu; hṛdā — coração; autkaṇṭhyavatā — com grande fervor; dhṛtaḥ — agarrou-se à; hariḥ — Suprema Personalidade de Deus.
Ó Nārada, como me agarrei aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, Hari, com grande fervor, ninguém jamais descobriu alguma falsidade nas minhas palavras. Nem o progresso de minha mente foi detido alguma vez. Tampouco meus sentidos se degradaram alguma vez através do apego temporário à matéria.
SIGNIFICADO—O senhor Brahmā é o orador que originalmente transmitiu a sabedoria védica a Nārada, e foi Nārada quem distribuiu o conhecimento transcendental por todo o mundo, através de seus vários discípulos, como Vyāsadeva e outros. Os seguidores da sabedoria védica aceitam as afirmações de Brahmājī como uma mensagem verdadeira, e o conhecimento transcendental está sendo assim distribuído por todo o mundo através do processo de sucessão discipular, que prevalece desde tempos imemoriais, há tanto tempo quanto existe a criação. Dentro do mundo material, o senhor Brahmā é o ser vivo liberado perfeito, e quem estuda com sinceridade o conhecimento transcendental deve aceitar como infalíveis as palavras e afirmações de Brahmājī. O conhecimento védico é infalível porque o Senhor Supremo o transmitiu diretamente ao coração de Brahmā, e como é o ser vivo mais perfeito, Brahmā é sempre rigorosamente correto. E isso se dá porque o senhor Brahmā é um grande devoto do Senhor que aceitou fervorosamente os pés de lótus do Senhor como a verdade suprema. Na Brahma-saṁhitā, compilado por Brahmājī, ele repete o aforismo govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi: “Sou um adorador da original Personalidade de Deus, Govinda, o Senhor primordial.” Logo, tudo o que ele diz, tudo o que ele pensa, e tudo o que ele normalmente faz com sua própria índole deve ser aceito como verdade devido à sua ligação direta e muito íntima com Govinda, o Senhor primordial. Śrī Govinda, que aceita com muito prazer o serviço transcendental amoroso prestado por Seus devotos, concede toda a proteção às palavras e às ações dos Seus devotos. Na Bhagavad-gītā (9.31), o Senhor afirma que kaunteya pratijānīhi: “Ó filho de Kuntī, por favor, declara isso.” O Senhor pede que Arjuna declare, e por quê? Porque às vezes as criaturas mundanas podem achar contraditória a declaração do próprio Govinda, mas o homem mundano nunca encontrará alguma contradição nas palavras dos devotos do Senhor. Os devotos recebem do Senhor proteção especial para que possam permanecer infalíveis. Portanto, o processo de serviço devocional sempre começa com o serviço prestado pelo devoto que aparece em sucessão discipular. Os devotos sempre são liberados, mas isso não significa que eles sejam impessoais. O Senhor é eternamente uma pessoa, e o devoto do Senhor também é eternamente uma pessoa. Porque mesmo na fase liberada o devoto tem seus órgãos dos sentidos, ele sempre é uma pessoa. E como o serviço do devoto é aceito pelo Senhor em plena reciprocidade, o Senhor também é uma pessoa em Sua completa corporificação espiritual. Os sentidos do devoto, estando ocupados a serviço do Senhor, nunca se afastam em busca da atração do falso gozo material. Os planos do devoto jamais fracassam, e tudo isso se deve ao fiel apego que o devoto dedica ao serviço do Senhor. Esse é o padrão de perfeição e liberação. Qualquer pessoa, começando com Brahmājī e indo até o ser humano, é de imediato colocada no caminho da liberação com o seu simples apego fervoroso ao Senhor Supremo, Śrī Kṛṣṇa, o Senhor primordial. O Senhor afirma o seguinte na Bhagavad-gītā (14.26):
māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate
Portanto, qualquer pessoa que, de corpo e alma, leva realmente a sério o seu contato íntimo com a Personalidade de Deus, desenvolvendo uma relação de serviço transcendental amoroso com Ele, sempre será infalível em palavras e ação. A razão é que o Senhor Supremo é a Verdade Absoluta, e tudo o que está em perfeito encaixe com a Verdade Absoluta alcança a mesma qualidade transcendental. Por outro lado, qualquer quantidade de especulação mental produzida pela ciência e conhecimentos materiais sem nenhum contato genuíno com a Verdade Absoluta, com certeza é uma mentira e fracasso mundanos, pelo simples fato de não estar em contato com a Verdade Absoluta. Essas palavras e ações ímpias e infiéis, independente do seu grau de riqueza material, nunca devem merecer confiança. Eis o significado deste importante verso. Um grama de devoção é mais valioso do que muitas toneladas de infidelidade.