VERSO 39
sa eṣa ādyaḥ puruṣaḥ
kalpe kalpe sṛjaty ajaḥ
ātmātmany ātmanātmānaṁ
sa saṁyacchati pāti ca
saḥ — Ele; eṣaḥ — a própria; ādyaḥ — a original Personalidade de Deus; puruṣaḥ — a encarnação Mahā-Viṣṇu, uma porção plenária de Govinda, o Senhor Kṛṣṇa; kalpe kalpe — em todo e cada milênio; sṛjati — cria; ajaḥ — o não-nascido; ātmā — o eu; ātmani — ao eu; ātmanā — pelo Seu próprio eu; ātmānam — o próprio eu; saḥ — He; saṁyacchati — absorve; pāti — mantém; ca — também.
Essa suprema e original Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, expandindo Sua porção plenária como Mahā-Viṣṇu, a primeira encarnação, cria este cosmos manifesto, mas Ele é não-nascido. A criação, entretanto, acontece nEle, e a substância material e as manifestações são todas Ele mesmo. Ele as mantém por algum tempo e as absorve, então, para dentro de Si mais uma vez.
SIGNIFICADO—A criação não é diferente do Senhor, e, ao mesmo tempo, Ele não é a criação. Isso é explicado na Bhagavad-gītā (9.4) como segue:
mayā tatam idaṁ sarvaṁ
jagad avyakta-mūrtinā
mat-sthāni sarva-bhūtāni
na cāhaṁ teṣv avasthitaḥ
A concepção impessoal da Verdade Absoluta também é uma forma do Senhor chamada avyakta-mūrti. Mūrti significa “forma”, mas, como Seu aspecto impessoal é inexplicável para os nossos sentidos limitados, Ele é a forma avyakta-mūrti, e, nessa forma inexplicável do Senhor, repousa toda a criação, ou, em outras palavras, toda a criação é o próprio Senhor, e a criação também é não-diferente dEle, mas, ao mesmo tempo, Ele, como a original Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa, mantém-Se à parte da manifestação criada. O impersonalista enfatiza a forma ou aspecto impessoal do Senhor e não acredita na original personalidade do Senhor, mas os vaiṣṇavas aceitam a forma original do Senhor, cuja forma impessoal é apenas um de Seus aspectos. As concepções impessoal e pessoal do Senhor existem simultaneamente, e esse fato é claramente descrito tanto na Bhagavad-gītā quanto no Śrīmad-Bhāgavatam, bem como em outras escrituras védicas. Inconcebível para a inteligência humana, a ideia tem que ser simplesmente aceita com base na autoridade das escrituras, e só pode ser experimentada na prática mediante o progresso do serviço devocional ao Senhor, e jamais por meio de especulação mental ou lógica indutiva. Os impersonalistas dependem mais ou menos da lógica indutiva, daí sempre permanecerem na escuridão no tocante à original Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa. Sua concepção de Kṛṣṇa não é clara, embora tudo seja mencionado com clareza em todas as escrituras védicas. Um pobre fundo de conhecimento não pode abarcar a existência de uma forma pessoal original do Senhor quando Ele Se expande em tudo. Essa imperfeição se deve mais ou menos à concepção material de que uma substância distribuída amplamente em partes não pode continuar existindo na forma original.
A original Personalidade de Deus (ādyaḥ), Govinda, expande-Se como a encarnação Mahā-Viṣṇu e repousa no Oceano Causal, que Ele mesmo cria. A Brahma-saṁhitā (5.47) confirma isso da seguinte maneira:
yaḥ kāraṇārṇava-jale bhajati sma yoga-
nidrām ananta-jagad-aṇḍa-saroma-kūpaḥ
ādhāra-śaktim avalambya parāṁ sva-mūrtiṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
O senhor Brahmājī afirma em sua Brahma-saṁhitā: “Adoro o primordial Senhor Govinda, que Se deita no Oceano Causal em Sua porção plenária como Mahā-Viṣṇu, com todos os universos sendo gerados a partir dos poros capilares de Seu corpo transcendental, e que aceita o sono místico da eternidade.”
Assim, esse Mahā-Viṣṇu é a primeira encarnação na criação, e, a partir dEle, todos os universos são gerados, e todas as manifestações materiais são produzidas, uma após a outra. O Oceano Causal é criado pelo Senhor como o mahat-tattva, tal qual uma nuvem no céu, e é apenas uma parte de Suas diferentes manifestações. O céu espiritual é uma expansão de Seus raios pessoais, e Ele também é a nuvem mahat-tattva. Ele Se deita e gera os universos através de Sua respiração, e novamente, entrando em cada universo como Garbhodakaśāyī Viṣṇu, Ele cria Brahmā, Śiva e muitos outros semideuses para a manutenção do universo e volta a absorver tudo isso em Sua pessoa, como Se confirma na Bhagavad-gītā (9.7):
sarva-bhūtāni kaunteya
prakṛtiṁ yānti māmikām
kalpa-kṣaye punas tāni
kalpādau visṛjāmy aham
“Ó filho de Kuntī, quando termina o kalpa, ou a duração da vida de Brahmā, então todas as manifestações criadas entram em Minha prakṛti, ou energia, e novamente, quando desejo, a mesma criação ocorre através de Minha energia pessoal.”
A conclusão é que tudo isso não passa de manifestações das energias pessoais inconcebíveis do Senhor, sobre as quais ninguém pode ter nenhuma informação completa. Este ponto já foi discutido.