VERSO 42
ādyo ’vatāraḥ puruṣaḥ parasya
kālaḥ svabhāvaḥ sad-asan-manaś ca
dravyaṁ vikāro guṇa indriyāṇi
virāṭ svarāṭ sthāsnu cariṣṇu bhūmnaḥ
ādyaḥ — primeira; avatāraḥ — encarnação; puruṣaḥ — Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu; parasya — do Senhor; kālaḥ — tempo; svabhāvaḥ — espaço; sat — resultado; asat — causa; manaḥ — mente; ca — também; dravyam — elementos; vikāraḥ — ego material; guṇaḥ — modos da natureza; indriyāṇi — sentidos; virāṭ — o corpo completo; svarāṭ — Garbhodakaśāyī Viṣṇu; sthāsnu — inerte; cariṣṇu — móvel; bhūmnaḥ — do Senhor Supremo.
Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu é a primeira encarnação do Senhor Supremo e é o mestre do tempo eterno, do espaço, da causa e dos efeitos, da mente, dos elementos, do ego material, dos modos da natureza, dos sentidos, da forma universal do Senhor, de Garbhodakaśāyī Viṣṇu e da soma total de todos os seres vivos, móveis e inertes.
SIGNIFICADO—Até aqui já se discutiu muitas vezes que a criação material não é permanente. A criação material é apenas uma exibição temporária da energia material do Deus Todo-Poderoso. É preciso haver essa manifestação material, pois nela é dada uma chance às almas condicionadas que não desejam se associar com o Senhor na relação de serviço transcendental amoroso. Essas almas condicionadas rebeldes não têm permissão de entrar na vida liberada, na existência espiritual, porque, no íntimo, não desejam servir. Ao contrário, querem desfrutar como deuses de imitação. Constitucionalmente, as entidades vivas são servos eternos do Senhor, mas algumas delas, abusando de sua independência, não querem servir, razão pela qual recebem permissão de desfrutar da natureza material, que se chama māyā, ou ilusão. Ela se chama ilusão porque os seres vivos nas garras de māyā não são de fato os desfrutadores, embora pensem que são por estarem iludidos por māyā. Essas entidades vivas iludidas recebem, a certos intervalos, a oportunidade de retificarem sua mentalidade pervertida que as induz a quererem tornar-se falsos mestres da natureza material, e, nos Vedas, recebem lições sobre sua relação eterna com o Supremo Senhor Kṛṣṇa (vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ). Logo, a criação temporária da manifestação material é uma exibição da energia material do Senhor, e, para administrar todo o espetáculo, o Senhor Supremo encarna como Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu, assim como um magistrado é designado pelo governo para administrar temporariamente determinados afazeres. Esse Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu causa a manifestação da criação material, lançando um olhar sobre Sua energia material (sa aikṣata). No primeiro volume deste livro, já comentamos, até certo ponto, a explicação do verso jagṛhe pauruṣaṁ rūpam. A duração do jogo ilusório da criação material chama-se um kalpa, e já discutimos a ocorrência da criação kalpa após kalpa. Através de Sua encarnação e das atividades de Suas potências, os ingredientes completos da criação, a saber, tempo, espaço, causa, resultado, mente, os elementos grosseiros e sutis e seus modos interacionais da natureza – bondade, paixão e ignorância –, e depois os sentidos e sua fonte reservatória, a gigantesca forma universal como a segunda encarnação Garbhodakaśāyī Viṣṇu, e todos os seres vivos, móveis e estacionários, que surgem da segunda encarnação, tornam-se todos manifestos. Em última análise, todos esses elementos criativos e a própria criação nada são além de simples manifestações das potências do Senhor Supremo; nada é independente do controle do Senhor Supremo. Essa primeira encarnação na criação material, a saber, Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu, é a parte plenária da Personalidade de Deus original, Śrī Kṛṣṇa, descrita na Brahma-saṁhitā (5.48) da seguinte maneira:
yasyaika-niśvasita-kālam athāvalambya
jīvanti loma-vilajā jagad-aṇḍa-nāthāḥ
viṣṇur mahān sa iha yasya kalā-viśeṣo
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
Todos os inúmeros universos são mantidos apenas durante o período respiratório de Mahā-Viṣṇu, ou Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu, que é apenas uma parte plenária de Govinda, a Personalidade de Deus original, o Senhor Kṛṣṇa.