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VERSO 26

bhūmeḥ suretara-varūtha-vimarditāyāḥ
kleśa-vyayāya kalayā sita-kṛṣṇa-keśaḥ
jātaḥ kariṣyati janānupalakṣya-mārgaḥ
karmāṇi cātma-mahimopanibandhanāni

bhūmeḥ — do mundo inteiro; sura-itara — pessoas que não são divinas; varūtha — soldados; vimarditāyāḥ — afligido pelo fardo; kleśa — sofrimentos; vyayāya — com o propósito de diminuir; kalayā — juntamente com Sua expansão plenária; sita-kṛṣṇa — não apenas belos, mas também negros; keśaḥ — com esses cabelos; jātaḥ — tendo aparecido; kariṣyati — agiria; jana — pessoas em geral; anupalakṣya — raramente pode ser visto; mārgaḥ — caminho; karmāṇi — atividades; ca — também; ātma-mahimā — glórias do próprio Senhor; upanibandhanāni — tem relação com.

Quando o mundo é sobrecarregado pela força belicosa dos reis que não têm fé em Deus, o Senhor, apenas para diminuir a aflição do mundo, faz Seu advento com Sua porção plenária. O Senhor vem em Sua forma original, com belos cabelos negros. E só para expandir Suas glórias transcendentais, Ele realiza atos extraordinários. Ninguém pode calcular com competência quão grande Ele é.

SIGNIFICADO—Este verso descreve especialmente o aparecimento do Senhor Kṛṣṇa e de Sua expansão imediata, o Senhor Baladeva. Tanto o Senhor Kṛṣṇa quanto o Senhor Baladeva são a Suprema Personalidade de Deus única. O Senhor é onipotente e Se expande em inúmeras formas e energias, e toda a unidade é conhecida como o Brahman Supremo único. Essas extensões do Senhor são divididas em duas categorias, a saber, pessoais e diferenciais. As expansões pessoais são chamadas de viṣṇu-tattvas, e as expansões diferenciais são chamadas de jīva-tattvas. E, nessas expansões, o Senhor Baladeva é a primeira expansão pessoal de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus.

No Viṣṇu Purāṇa, bem como no Mahābhārata, menciona-se que Kṛṣṇa e Baladeva têm belos cabelos negros, mesmo em Sua idade avançada. O Senhor é chamado de anupalakṣya-mārgaḥ, ou, em termos védicos ainda mais técnicos, avāṅ-manasā gocaraḥ: aquele que nunca pode ser visto ou compreendido pela limitada percepção sensorial das pessoas em geral. Na Bhagavad-gītā (7.25), o Senhor diz que nāhaṁ prakāśaḥ sarvasya yoga-māyā-samāvṛtaḥ. Em outras palavras, Ele Se reserva o direito de não Se expor a toda e qualquer pessoa. Somente os devotos autênticos podem conhecê-lO através de Seus sintomas específicos, e, entre muitíssimos desses sintomas, um sintoma mencionado aqui neste verso é que o Senhor é sita-kṛṣṇa-keśaḥ, ou aquele que sempre é visto com belos cabelos negros. Tanto o Senhor Kṛṣṇa quanto o Senhor Baladeva têm em Suas cabeças semelhantes cabelos e, desse modo, mesmo na idade avançada, Eles pareciam rapazes de dezesseis anos de idade. Esse é um sintoma específico da Personalidade de Deus. Na Brahma-saṁhitā, afirma-se que, embora seja a personalidade mais velha entre todas as entidades vivas, Ele sempre parece moço. Essa é a característica do corpo espiritual. O corpo material tem como sintomas o nascimento, a morte, a velhice e as doenças, mas o corpo espiritual se caracteriza pela ausência desses sintomas. As entidades vivas que residem nos Vaikuṇṭhalokas e levam uma vida eterna e cheia de bem-aventurança têm o mesmo tipo de corpo espiritual, sem serem afetadas por quaisquer sinais de velhice. Descreve-se no Bhāgavatam (canto seis) que o grupo de Viṣṇudūtas que veio libertar Ajāmila das garras do grupo de Yamarāja pareciam rapazes, corroborando a descrição deste verso. Verifica-se, desse modo, que os corpos espirituais nos Vaikuṇṭhalokas, quer do Senhor, quer dos outros habitantes, são inteiramente distintos dos corpos materiais deste mundo. Portanto, quando vem daquele mundo e desce para este mundo, o Senhor desce em Seu corpo espiritual de ātma-māyā, ou potência interna, sem nenhum contato com bahiraṅgā-māyā, ou a energia material externa. A alegação de que o Brahman impessoal aparece neste mundo material através do processo que consiste em aceitar um corpo material é muito absurda. Portanto, o Senhor, quando vem aqui, não tem um corpo material, mas um corpo espiritual. O brahmajyoti impessoal é apenas a refulgência deslumbrante do corpo do Senhor, e não há diferença qualitativa entre o corpo do Senhor e o brilho impessoal do Senhor, chamado brahmajyoti.

A questão agora é a seguinte: Por que o Senhor, que é onipotente, vem aqui para diminuir o fardo produzido no mundo pela inescrupulosa ordem real? Com certeza, o Senhor não precisa vir aqui pessoalmente para cumprir esses propósitos, mas Ele desce, na verdade, para manifestar Suas atividades transcendentais a fim de encorajar Seus devotos puros, que querem desfrutar a vida cantando as glórias do Senhor. Na Bhagavad-gītā (9.13-14), afirma-se que os mahātmās, os grandes devotos do Senhor, sentem prazer em cantar sobre as atividades do Senhor. Todos os textos védicos servem para nos ajudar a fixarmos a atenção no Senhor e em Suas atividades transcendentais. Assim, as atividades que o Senhor executa quando vem a este mundo criam um assunto que serve para ser comentado por Seus devotos puros.

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