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VERSO 47

śaśvat praśāntam abhayaṁ pratibodha-mātraṁ
śuddhaṁ samaṁ sad-asataḥ paramātma-tattvam
śabdo na yatra puru-kārakavān kriyārtho
māyā paraity abhimukhe ca vilajjamānā
tad vai padaṁ bhagavataḥ paramasya puṁso
brahmeti yad vidur ajasra-sukhaṁ viśokam

śaśvat — materno; praśāntam — sem perturbação; abhayam — sem temor; pratibodha-mātram — uma consciência oposta ao equivalente material; śuddham — não contaminado; samam — sem distinção; sat-asataḥ — da causa e do efeito; paramātma-tattvam — o princípio da causa primordial; śabdaḥ — som especulativo; na — não; yatra — onde há; puru-kārakavān — que resulta em ação fruitiva; kriyā-arthaḥ — quando se trata de sacrifício; māyā — ilusão; paraiti — afasta-se; abhimukhe — na frente de; ca — também; vilajjamānā — estando envergonhado de; tat — esta; vai — é decerto; padam — última fase; bhagavataḥ — da Personalidade de Deus; paramasya — do Supremo; puṁsaḥ — da pessoa; brahma — o Absoluto; iti — assim; yat — o que; viduḥ — conhecido como; ajasra — ilimitada; sukham — felicidade; viśokam — sem aflição.

Aquilo que é percebido como o Brahman Absoluto é pleno de ilimitada bem-aventurança, livre de aflição. Essa é certamente a última fase do desfrutador supremo, a Personalidade de Deus. Ele é eternamente desprovido de toda perturbação e temor. Ao contrário da matéria, Ele é consciência completa. Incontaminado e sem distinções, Ele é a principal causa primordial de todas as causas e efeitos, em quem não há sacrifícios para atividades fruitivas e em quem a energia ilusória não permanece.

SIGNIFICADO—O desfrutador supremo, a Personalidade de Deus, é o Brahman Supremo, ou o summum bonum, porque Ele é a suprema causa de todas as causas. O conceito da percepção Brahman impessoal é o primeiro passo, devido ao fato de que Ele é diferenciado da concepção ilusória da existência material. Em outras palavras, o Brahman impessoal é um aspecto do Absoluto, aspecto este distinto da variedade material, assim como a luz é um conceito distinto de seu oposto, a escuridão. Mas a luz tem sua variedade, que é vista por aqueles que continuam avançando na luz, e, desse modo, a compreensão última acerca do Brahman é a fonte da luz Brahman, a Suprema Personalidade de Deus, o summum bonum, ou a fonte última de tudo. Portanto, conhecer a Personalidade de Deus inclui a compreensão acerca do Brahman impessoal como é inicialmente percebido em contraste com a embriaguez material. A Personalidade de Deus é o terceiro passo da compreensão Brahman. Como se explicou no primeiro canto, todos devem compreender os três aspectos do Absoluto – Brahman, Paramātmā e Bhagavān.

Pratibodha-mātram é exatamente a concepção oposta da existência material. Na matéria, existem os sofrimentos materiais, de modo que, na primeira compreensão acerca do Brahman, existe a eliminação desses inebriamentos materiais e há um sentimento de existência eterna, distinto das dores que se manifestam sob a forma de nascimento e morte, doença e velhice. Essa é a concepção primária do Brahman impessoal.

O Senhor Supremo é a Alma Suprema de tudo, motivo pelo qual, na concepção suprema, percebe-se a afeição. O conceito de afeição se deve ao relacionamento de uma alma com outra alma. O pai tem afeição pelo filho porque existe alguma relação íntima entre o filho e o pai. Contudo, essa espécie de afeição ao mundo material está cheia de limitações. Quando a Personalidade de Deus Se apresenta, manifesta-se a plenitude da afeição por causa da realidade da relação afetuosa. Ele não é o objeto de afeição no qual há vestígios de corpo e mente materiais, mas Ele é um completo, evidente e não contaminado objeto de afeição para todas as entidades vivas porque Ele é a Superalma, ou Paramātmā, situado dentro do coração de todos. No estado liberado, desperta-se a afeição completa pelo Senhor.

Nesse caso, existe um fluxo ilimitado de felicidade permanente, sem medo de interrupção, como experimentamos aqui no mundo material. A relação com o Senhor jamais se interrompe, daí não haver nem aflição nem temor. Tal felicidade não pode ser explicada por meio de palavras, e é mera perda de tempo tentar conseguir essa felicidade com atividades fruitivas decorrentes de alguns arranjos e sacrifícios. Porém, devemos também saber que a felicidade, a felicidade ininterrupta intercambiada com a Pessoa Suprema, a Personalidade de Deus, como se descreve neste verso, transcende a concepção impessoal contida nas Upaniṣads. Nas Upaniṣads, a descrição equivale aproximadamente a uma negação do conceito material das coisas, mas isso não destrói o fato de que o Senhor Supremo possui sentidos transcendentais. Nesta passagem, também se faz a mesma afirmação nas declarações sobre os elementos materiais; eles (os sentidos do Senhor) são todos transcendentais, livres de toda a contaminação da identificação material. E também as almas liberadas não são desprovidas de sentidos; caso contrário, não poderia haver reciprocação de felicidade espiritual incontida, trocada entre elas com alegria espontânea e ininterrupta. Todos os sentidos, tanto do Senhor quanto dos devotos, não têm contaminação material. Isso se dá porque eles estão além das causas e efeitos materiais, como aqui se menciona claramente (sad-asataḥ param). A energia material ilusória não pode atuar ali, pois se envergonha diante do Senhor e de Seus devotos transcendentais. No mundo material, as atividades dos sentidos não são livres de aflição, mas, nesta passagem, afirma-se com toda a clareza que os sentidos do Senhor e dos devotos não possuem nenhuma aflição. Existe uma nítida diferença entre os sentidos materiais e espirituais, e todos devem compreendê-la sem precisar anular os sentidos espirituais tomando como ponto de referência uma concepção material.

Os sentidos no mundo material estão sobrecarregados de ignorância material. De qualquer modo, as autoridades recomendam que os sentidos se purifiquem do conceito material. No mundo material, os sentidos são utilizados para a satisfação pessoal e individual, ao passo que, no mundo espiritual, os sentidos são devidamente empregados no propósito a que eles originalmente se destinam, a saber, a satisfação do Senhor Supremo. Essas atividades sensoriais são naturais, e, por isso, o gozo dos sentidos que ali acontece é contínuo e não é interrompido pela contaminação material, visto que os sentidos são purificados espiritualmente. E essa satisfação dos sentidos também é compartilhada pelos reciprocadores transcendentais. Como as atividades são ilimitadas e sempre crescentes, não há lugar para intentos materiais ou para arranjos artificiais. Essa felicidade de qualidade transcendental chama-se brahma-saukhyam, a qual se descreverá com clareza no quinto canto.

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