VERSO 16
kāmaḥ sa bhūyān naradeva te ’syāḥ
putryāḥ samāmnāya-vidhau pratītaḥ
ka eva te tanayāṁ nādriyeta
svayaiva kāntyā kṣipatīm iva śriyam
kāmaḥ — desejo; saḥ — este; bhūyāt — que seja satisfeito; nara-deva — ó rei; te — tua; asyāḥ — esta; putryāḥ — da filha; samāmnāya-vidhau — no processo das escrituras védicas; pratītaḥ — reconhecido; kaḥ — quem; eva — de fato; te — tua; tanayām — filha; na ādriyeta — não adoraria; svayā — por seu próprio; eva — somente; kāntyā — brilho corpóreo; kṣipatīm — superando; iva — como se; śriyam — adornos.
Que o desejo de casamento de tua filha, que é reconhecido nas escrituras védicas, seja satisfeito. Quem não aceitaria sua mão? Ela é tão bela que o brilho de seu corpo é suficiente para superar a beleza de seus adornos.
SIGNIFICADO—Kardama Muni desejava desposar Devahūti da maneira reconhecida de matrimônio prescrita nas escrituras. Como se afirma nas escrituras védicas, o processo de primeira classe é convidar o noivo à casa da noiva e dar-lhe sua mão em caridade, junto com um dote de adornos, ouro, mobília e outras parafernálias domésticas necessárias. Essa forma de matrimônio prevalece entre hindus de classe superior ainda hoje, e, nos śāstras, declara-se que tal casamento confere grande mérito religioso ao pai da noiva. Dar a filha em caridade a um genro adequado é considerada uma das atividades piedosas do chefe de família. Há oito formas de matrimônio mencionadas na escritura Manu-smṛti, mas somente um processo de casamento, o casamento brāhma ou rājasika, é aceito hoje em dia. Outros tipos de casamento – por amor, por troca de guirlandas ou por rapto da noiva – são proibidos nesta era de Kali. Antigamente, os kṣatriyas costumavam, a seu bel-prazer, raptar uma princesa de outro lar real, e por isso havia luta entre o kṣatriya e a família da moça; então, se o raptor saía vitorioso, a moça lhe era oferecida em casamento. Até Kṛṣṇa Se casou com Rukmiṇī através deste processo, e alguns de Seus filhos e netos também se casaram através do rapto. Os netos de Kṛṣṇa raptaram a filha de Duryodhana, o que provocou uma luta entre as famílias Kuru e Yadu. Depois disso, os membros mais velhos da família Kuru celebraram um acordo. Esses casamentos eram comuns em eras passadas, mas são impossíveis na atualidade porque os princípios estritos da vida de kṣatriya foram praticamente abolidos. Desde que a Índia se tornou dependente de países estrangeiros, as influências específicas de suas ordens sociais se perderam; agora, de acordo com as escrituras, todos são śūdras. Os supostos brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas se esqueceram de suas atividades tradicionais, e, devido à ausência dessas atividades, eles são chamados de śūdras. As escrituras dizem que kalau śūdra-sambhavaḥ. Na era de Kali, todos serão como śūdras. Os tradicionais costumes sociais não são seguidos nesta era, embora, no passado, fossem seguidos estritamente.