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VERSO 10

atha me deva sammoham
apākraṣṭuṁ tvam arhasi
yo ’vagraho ’haṁ mametīty
etasmin yojitas tvayā

atha — agora; me — meu; deva — ó Senhor; sammoham — ilusão; apākraṣṭum — dissipar; tvam — Tu; arhasi — faze o obséquio; yaḥ — que; avagrahaḥ — falsa concepção; aham — eu; mama — minha; iti — assim; iti — assim; etasmin — nesta; yojitaḥ — ocupada; tvayā — por Ti.

Agora, meu Senhor, sê bondoso comigo e dissipa minha grande ilusão. Devido a meu sentimento de falso ego, tenho sido ocupada por Tua māyā e tenho me identificado com o corpo e com as consequentes relações corpóreas.

SIGNIFICADO—O falso ego de identificar o corpo como sendo o eu e de reivindicar direito sobre coisas possuídas em relação com este corpo chama-se māyā. Na Bhagavad-gītā, décimo quinto capítulo, o Senhor diz: “Estou sentado no coração de todos, e de Mim vêm sua lembrança e seu esquecimento.” Devahūti afirma que a falsa identificação do corpo com o eu e o apego a posses em relação com o corpo também estão sob a direção do Senhor. Isso quer dizer que o Senhor discrimina ao ocupar alguém em Seu serviço devocional e outrem no gozo dos sentidos? Se isso fosse verdade, seria uma incongruência da parte do Senhor Supremo, mas esse não é o fato real. Logo que a entidade viva se esquece de sua verdadeira posição constitucional de serviço eterno ao Senhor e deseja, ao invés disso, divertir-se mediante o gozo dos sentidos, ela é capturada por māyā. Essa captura por parte de māyā é a consciência de falsa identificação com o corpo e de apego às posses do corpo. Essas são as atividades de māyā, e, já que māyā também é uma agente do Senhor, essa é uma ação indireta do Senhor. O Senhor é misericordioso: se alguém quer esquecê-lO e gozar deste mundo material, Ele lhe dá todas as facilidades, não diretamente, mas por intermédio de Sua potência material. Portanto, como a potência material é energia do Senhor, indiretamente é o Senhor quem dá as facilidades para esquecê-lO. Devahūti, então, disse: “Minha ocupação no gozo dos sentidos também se deveu a Ti. Agora, por favor, liberta-me deste cativeiro.”

Pela graça do Senhor, alguém recebe permissão de gozar deste mundo material, mas, ao se tornar desgostoso em relação ao gozo material e cair em frustração, e ao render-se sinceramente aos pés de lótus do Senhor, o Senhor é tão bondoso que liberta a pessoa do cativeiro. Portanto, Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā: “Antes de mais nada, rende-te – depois Eu Me encarregarei de ti e te livrarei de todas as reações das atividades pecaminosas.” Atividades pecaminosas são aquelas atividades executadas em esquecimento de nossa relação com o Senhor. Neste mundo material, as atividades que visam ao gozo material e são consideradas piedosas também são pecaminosas. Por exemplo: às vezes, alguém faz caridade a uma pessoa necessitada, com vistas a conseguir em troca que seu dinheiro aumente quatro vezes. Dar com o objetivo de ganhar algo se chama caridade no modo da paixão. Tudo que se faz aqui se faz sob os modos da natureza, daí todas as atividades, exceto o serviço ao Senhor, serem pecaminosas. Por causa de atividades pecaminosas, sentimo-nos atraídos pela ilusão do apego material, pensando: “Eu sou este corpo.” Eu penso que o corpo sou eu mesmo e que as posses do corpo são “minhas”. Devahūti pediu ao Senhor Kapila que a libertasse deste enredamento de falsa identificação e falsa propriedade.

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