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Capítulo Vinte e Cinco

As Glórias do Serviço Devocional

VERSO 1: Śrī Śaunaka disse: Embora seja não-nascida, a Suprema Personalidade de Deus nasceu como Kapila Muni através de Sua potência interna. Ele desceu para disseminar o conhecimento transcendental para o benefício de toda a raça humana.

VERSO 2: Śaunaka continuou: Não há ninguém que saiba mais do que o próprio Senhor. Ninguém é mais adorável nem yogī mais maduro do que Ele. Portanto, Ele é o senhor dos Vedas, e ouvir sobre Ele sempre é o verdadeiro prazer dos sentidos.

VERSO 3: Portanto, por favor, descreve precisamente todas as atividades e passatempos da Personalidade de Deus, que é plena de desejo próprio e que assume todas essas atividades através de Sua potência interna.

VERSO 4: Śrī Sūta Gosvāmī disse: O poderosíssimo sábio Maitreya era amigo de Vyāsadeva. Animando-se e satisfazendo-se com a pergunta de Vidura sobre o conhecimento transcendental, Maitreya falou o seguinte.

VERSO 5: Maitreya disse: Quando Kardama partiu para a floresta, o Senhor Kapila permaneceu às margens do Bindu-sarovara para satisfazer Sua mãe, Devahūti.

VERSO 6: Enquanto Kapila, que podia mostrar-lhe a meta última da Verdade Absoluta, estava sentado calmamente diante dela, Devahūti lembrou-se das palavras que Brahmā lhe falara e, devido a isso, começou a indagar de Kapila da seguinte maneira.

VERSO 7: Devahūti disse: Estou muito cansada da perturbação causada por meus sentidos materiais, pois, por causa desta perturbação sensorial, meu Senhor, caí no abismo da ignorância.

VERSO 8: Vossa onipotência é meu único meio de escapar desta trevosa região de ignorância, porque és meu olho transcendental, o qual obtive apenas por Tua misericórdia, após muitos e muitos nascimentos.

VERSO 9: Tu és a Suprema Personalidade de Deus, a origem e o Senhor Supremo de todas as entidades vivas. Surgiste para disseminar os raios do Sol, a fim de dissipar do universo a escuridão da ignorância.

VERSO 10: Agora, meu Senhor, sê bondoso comigo e dissipa minha grande ilusão. Devido a meu sentimento de falso ego, tenho sido ocupada por Tua māyā e tenho me identificado com o corpo e com as consequentes relações corpóreas.

VERSO 11: Devahūti continuou: Refugio-me a Teus pés de lótus porque és a única pessoa em quem posso me abrigar. És o machado que pode cortar a árvore da existência material. Portanto, presto minhas reverências a Ti, que és o maior de todos os transcendentalistas, e pergunto-Te sobre a relação entre homem e mulher e entre espírito e matéria.

VERSO 12: Maitreya disse: Após ouvir acerca do desejo impoluto de compreensão transcendental de Sua mãe, o Senhor agradeceu-lhe internamente por suas perguntas e, assim, com o rosto sorridente, explicou-lhe o caminho dos transcendentalistas, aqueles interessados em autorrealização.

VERSO 13: A Personalidade de Deus respondeu: O sistema de yoga que se relaciona com o Senhor e a alma individual, que se destina ao benefício final da entidade viva, e que causa desapego de toda a felicidade e aflição no mundo material, é o sistema de yoga mais elevado.

VERSO 14: Ó mãe virtuosíssima, agora hei de explicar-te o antigo sistema de yoga, o qual expliquei anteriormente aos grandes sábios. Ele é útil e prático em todos os sentidos.

VERSO 15: A fase na qual a consciência da entidade viva é atraída pelos três modos da natureza material chama-se vida condicional. Contudo, quando essa mesma consciência se apega à Suprema Personalidade de Deus, a pessoa se situa na consciência de liberação.

VERSO 16: Quando alguém se livra inteiramente das impurezas de luxúria e cobiça, produzidas pela falsa identificação do corpo como “eu” e das posses do corpo como “minhas”, sua mente se purifica. Nesse estado puro, ele transcende a fase das supostas felicidade e aflição materiais.

VERSO 17: Nessa altura, a alma pode ver que é transcendental à existência material e sempre autorrefulgente, nunca fragmentada, embora muito diminuta em tamanho.

VERSO 18: Nesta posição de autorrealização, pela prática de conhecimento e renúncia em serviço devocional, uma pessoa vê tudo na perspectiva correta; ela se torna indiferente à existência material, e a influência material atua menos poderosamente sobre ela.

VERSO 19: Nenhuma classe de yogī pode alcançar a perfeição em autorrealização a não ser que se ocupe em serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, pois esse é o único caminho auspicioso.

VERSO 20: Todo homem erudito sabe muito bem que o apego à matéria é o maior enredamento da alma espiritual. Mas esse mesmo apego, quando aplicado aos devotos autorrealizados, abre a porta da liberação.

VERSO 21: Os sintomas de um sādhu são que ele é tolerante, misericordioso e amistoso com todas as entidades vivas. Ele não tem inimigos, é pacífico, orienta-se pelas escrituras, e todas as suas características são sublimes.

VERSO 22: Um sādhu assim ocupa-se indesviável e solidamente em serviço devocional ao Senhor. Pela causa do Senhor, ele renuncia a todas as outras ligações, tais como relações familiares e amistosas no mundo.

VERSO 23: Ocupados constantemente em cantar e ouvir sobre Mim, a Suprema Personalidade de Deus, os sādhus não padecem de sofrimentos materiais porque estão sempre saturados de pensamentos sobre Meus passatempos e atividades.

VERSO 24: Ó Minha mãe, ó virtuosa senhora, são estas as qualidades dos grandes devotos que estão livres de todo o apego. Deves tratar de apegar-te a esses homens santos, pois isso neutraliza os efeitos perniciosos do apego material.

VERSO 25: Na companhia de devotos puros, a conversa sobre os passatempos e atividades da Suprema Personalidade de Deus é muito agradável e satisfatória ao ouvido e ao coração. Aquele que cultiva tal conhecimento avança gradualmente no caminho da liberação e, em seguida liberta-se, fixando sua atenção. Então, começam a verdadeira devoção e o serviço devocional.

VERSO 26: Estando assim ocupada conscientemente em serviço devocional na companhia de devotos, uma pessoa perde o gosto pelo gozo dos sentidos, tanto neste mundo quanto no próximo, pensando constantemente sobre as atividades do Senhor. Este processo de consciência de Kṛṣṇa é o processo mais fácil de poder místico: quando alguém se situa realmente neste caminho do serviço devocional, ele é capaz de controlar a mente.

VERSO 27: Assim, por não se ocupar a serviço dos modos da natureza material, mas por desenvolver consciência de Kṛṣṇa, conhecimento em renúncia e praticar yoga, na qual a mente está sempre fixa no serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, alcança-se Minha associação nesta mesma vida, pois Eu sou a Personalidade Suprema, a Verdade Absoluta.

VERSO 28: Ao ouvir esta declaração do Senhor, Devahūti perguntou: Que tipo de serviço devocional é digno de ser desenvolvido e praticado para ajudar-me a alcançar fácil e imediatamente o serviço a Teus pés de lótus?

VERSO 29: O sistema de yoga místico, como explicaste, visa à Suprema Personalidade de Deus e destina-se a acabar completamente com a existência material. Por favor, mostra-me a natureza desse sistema de yoga. Quantas maneiras há através das quais se pode realmente entender esse sublime yoga?

VERSO 30: Meu querido filho, Kapila, afinal, sou uma mulher. Para mim é muito difícil entender a Verdade Absoluta, porque minha inteligência não é muito grande. Porém, se fizeres o obséquio de explicá-la a mim, apesar de eu não ser muito inteligente, poderei entendê-la e, desse modo, sentir felicidade transcendental.

VERSO 31: Śrī Maitreya disse: Após ouvir a afirmação de Sua mãe, Kapila pôde entender sua intenção, e encheu-Se de compaixão por ela visto que havia nascido de seu corpo. Ele descreveu o sistema de filosofia sāṅkhya, que é uma combinação de serviço devocional e compreensão mística, conforme fora recebido através da sucessão discipular.

VERSO 32: O Senhor Kapila disse: Os semideuses são representados simbolicamente pelos sentidos, cuja tendência natural é trabalhar sob a orientação dos preceitos védicos. Assim como os sentidos são representantes dos semideuses, da mesma forma, a mente é representante da Suprema Personalidade de Deus. O dever natural da mente é servir. Quando esse espírito de serviço é ocupado em serviço devocional à Personalidade de Deus, sem nenhuma motivação, isso é muito melhor inclusive do que a salvação.

VERSO 33: Bhakti, o serviço devocional, dissolve o corpo sutil da entidade viva sem esforço separado, assim como o fogo no estômago digere tudo que comemos.

VERSO 34: O devoto puro, que está apegado às atividades de serviço devocional e que sempre se ocupa a serviço de Meus pés de lótus, não deseja jamais tornar-se uno coMigo. Tal devoto, que está inabalavelmente ocupado, sempre glorifica Meus passatempos e atividades.

VERSO 35: Ó Minha mãe, Meus devotos sempre veem o rosto sorridente de Minha forma, com olhos semelhantes ao Sol que nasce de manhã. Além de conversarem favoravelmente coMigo, gostam de ver Minhas diversas formas transcendentais, que são inteiramente benevolentes.

VERSO 36: Ao ver as encantadoras formas do Senhor, sorridentes e atrativas, e ao ouvir Suas palavras tão agradáveis, o devoto puro quase perde todos os demais estados de consciência. Seus sentidos livram-se de todas as demais ocupações, e ele absorve-se em serviço devocional. Assim, apesar de não o desejar, ele alcança a liberação sem esforço separado.

VERSO 37: Assim, por estar inteiramente absorto em pensar em Mim, o devoto não deseja nem mesmo a mais elevada das bênçãos obteníveis nos sistemas planetários superiores, incluindo Satyaloka. Ele não deseja as oito perfeições materiais obtidas do yoga místico, nem deseja ser elevado ao reino de Deus. Todavia, mesmo sem desejá-las, o devoto desfruta, mesmo nesta vida, de todas as bênçãos oferecidas.

VERSO 38: O Senhor continuou: Minha querida mãe, os devotos que recebem tais opulências transcendentais nunca são delas privados. Nem armas, nem o passar do tempo podem destruir tais opulências. Visto que os devotos Me aceitam como seu amigo, parente, filho, preceptor, benfeitor e Deidade Suprema, eles não podem ser privados de suas posses em tempo algum.

VERSOS 39-40: Assim, o devoto que adora a Mim, o Senhor onipenetrante do universo, com serviço devocional inabalável, abandona todas as aspirações a ser promovido a planetas celestiais ou a tornar-se feliz neste mundo com riqueza, filhos, gado, lar ou qualquer coisa relativa ao corpo. Eu o levo para o outro lado do nascimento e da morte.

VERSO 41: O terrível medo de nascer e morrer nunca pode ser eliminado por alguém que recorre a outro abrigo além de Mim, pois Eu sou o Senhor todo-poderoso, a Suprema Personalidade de Deus, a fonte original de toda a criação, e também a Alma Suprema de todas as almas.

VERSO 42: É por causa de Minha supremacia que o vento sopra, por temor a Mim; o Sol brilha por temor a Mim, e o senhor das nuvens, Indra, envia chuvas por temor a Mim. O fogo queima por temor a Mim, e a morte vagueia portando seu sino por temor a Mim.

VERSO 43: Os yogīs, munidos de conhecimento transcendental e renúncia, e ocupados em serviço devocional para seu benefício eterno, refugiam-se a Meus pés de lótus, e, como Eu sou o Senhor, eles são qualificados para entrar no reino de Deus, sem temor.

VERSO 44: Portanto, as pessoas cujas mentes estão fixas no Senhor ocupam-se na prática intensiva de serviço devocional. Esse é o único meio de alcançar a perfeição final da vida.

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