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VERSO 36

tair darśanīyāvayavair udāra-
vilāsa-hāsekṣita-vāma-sūktaiḥ
hṛtātmano hṛta-prāṇāṁś ca bhaktir
anicchato me gatim aṇvīṁ prayuṅkte

taiḥ — por aquelas formas; darśanīya — encantadoras; avayavaiḥ — cujos membros; udāra — elevados; vilāsa — passatempos; hāsa — sorridentes; īkṣita — olhares; vāma — agradáveis; sūktaiḥ — cujas palavras deliciosas; hṛta — cativadas; ātmanaḥ — suas mentes; hṛta — cativados; prāṇān — seus sentidos; ca — e; bhaktiḥ — serviço devocional; anicchataḥ — sem desejar; me — Minha; gatim — morada; aṇvīm — sutil; prayuṅkte — consegue.

Ao ver as encantadoras formas do Senhor, sorridentes e atrativas, e ao ouvir Suas palavras tão agradáveis, o devoto puro quase perde todos os demais estados de consciência. Seus sentidos livram-se de todas as demais ocupações, e ele absorve-se em serviço devocional. Assim, apesar de não o desejar, ele alcança a liberação sem esforço separado.

SIGNIFICADO—Os devotos dividem-se em três classes – primeira classe, segunda classe e terceira classe. Mesmo os devotos de terceira classe são almas liberadas. Neste verso, explica-se que, mesmo que não tenham conhecimento, simplesmente por verem a bela decoração da Deidade no templo, os devotos absorvem-se em pensar nEle e perdem todos os outros estados de consciência. Simplesmente fixando-nos em consciência de Kṛṣṇa, ocupando nossos sentidos a serviço do Senhor, somos imperceptivelmente liberados. Isso também se confirma na Bhagavad-gītā. Simplesmente por executarmos serviço devocional impoluto, como se prescreve nas escrituras, tornamo-nos iguais a Brahman. A Bhagavad-gītā afirma que brahma-bhūyāya kalpate. Isso significa que a entidade viva, em seu estado original, é Brahman, pois é parte integrante do Brahman Supremo. Entretanto, simplesmente por causa de seu esquecimento de sua verdadeira natureza como serva eterna do Senhor, ela é dominada e capturada por māyā. Seu esquecimento de sua verdadeira posição constitucional é māyā. De outro modo, ela é eternamente Brahman.

Quando somos treinados a tornar-nos conscientes de nossa posição, entendemos que somos servos do Senhor. “Brahman” refere-se ao estado de autorrealização. Mesmo o devoto de terceira classe – que não é avançado em conhecimento da Verdade Absoluta, mas simplesmente presta reverências com muita devoção, pensa no Senhor, contempla o Senhor no templo e traz flores e frutas para oferecer à Deidade – torna-se imperceptivelmente liberado. Śraddhayānvitāḥ: com muita devoção, os devotos oferecem respeitos adorativos e parafernália à Deidade. As Deidades de Rādhā e Kṛṣṇa, Lakṣmī e Nārāyaṇa e Rāma e Sītā são muito atrativas para os devotos, tanto que, ao verem a estátua decorada no templo do Senhor, absorvem-se plenamente em pensar no Senhor. Esse é o estado de liberação. Em outras palavras, confirma-se nesta passagem que mesmo o devoto de terceira classe está na posição transcendental, acima daqueles que se esforçam por alcançar a liberação através da especulação ou de outros métodos. Mesmo grandes impersonalistas como Śukadeva Gosvāmī e os quatro Kumāras sentiram-se atraídos pela beleza das Deidades no templo, pelas decorações e pelo aroma da tulasī oferecida ao Senhor, e se tornaram devotos dessa maneira. Embora estivessem no estado liberado, ao invés de permanecerem impersonalistas, eles se sentiram atraídos pela beleza do Senhor e tornaram-se devotos.

Aqui a palavra vilāsa é muito importante. Vilāsa refere-se às atividades ou passatempos do Senhor. Um dos deveres prescritos na adoração no templo é que não apenas se deve visitar o templo para ver a Deidade belamente decorada, mas, ao mesmo tempo, deve-se ouvir a recitação do Śrīmad-Bhāgavatam, da Bhagavad-gītā ou de alguma literatura semelhante, que são regularmente recitadas no templo. O sistema em Vṛndāvana é que, em cada templo, há recitação dos śāstras. Mesmo devotos de terceira classe, que não têm conhecimento literário nem tempo de ler o Śrīmad-Bhāgavatam ou a Bhagavad-gītā, têm a oportunidade de ouvir sobre os passatempos do Senhor. Dessa maneira, suas mentes podem permanecer sempre absortas em pensar no Senhor – Sua forma, Suas atividades e Sua natureza transcendental. Esse estado de consciência de Kṛṣṇa é uma fase liberada. O Senhor Caitanya, portanto, recomendava cinco processos importantes no desempenho do serviço devocional: (1) cantar os santos nomes do Senhor – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, (2) associar-se com os devotos e servi-los tanto quanto possível, (3) ouvir o Śrīmad-Bhāgavatam, (4) ver o templo decorado e a Deidade e, se possível, (5) viver num lugar como Vṛndāvana ou Mathurā. Bastam esses cinco itens para ajudar o devoto a alcançar a fase perfectiva mais elevada. Isso é confirmado na Bhagavad-gītā e aqui no Śrīmad-Bhāgavatam. Em todos os textos védicos, aceita-se que os devotos de terceira classe também podem alcançar imperceptivelmente a liberação.

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