VERSO 33
arthāśrayatvaṁ śabdasya
draṣṭur liṅgatvam eva ca
tan-mātratvaṁ ca nabhaso
lakṣaṇaṁ kavayo viduḥ
artha-āśrayatvam — aquilo que transmite o significado de um objeto; śabdasya — do som; draṣṭuḥ — do orador; liṅgatvam — aquilo que indica a presença; eva — também; ca — e; tat-mātratvam — o elemento sutil; ca — e; nabhasaḥ — do éter; lakṣaṇam — definição; kavayaḥ — pessoas eruditas; viduḥ — sabem.
Pessoas que são eruditas e que têm conhecimento real definem o som como aquilo que transmite a ideia de um objeto, indica a presença de um orador oculto à nossa vista e constitui a forma sutil do éter.
SIGNIFICADO—Este verso deixa bem claro que, tão logo falamos de ouvir, deve haver um orador; sem orador, não há possibilidade de ouvir. Portanto, o conhecimento védico, que é conhecido como śruti, ou aquilo que é recebido pela audição, também se chama apauruṣa. Apauruṣa significa “não falado por alguma pessoa criada materialmente. No começo do Śrīmad-Bhāgavatam, afirma-se que tene brahma hṛdā. O som de Brahman, ou Veda, foi primeiramente infundido no coração de Brahmā, o homem erudito original (ādi-kavaye). Como ele se tornou erudito? Sempre que há erudição, tem que haver um orador e o processo de ouvir. Mas Brahmā foi o primeiro ser criado. Quem lhe falou, então? Uma vez que não existia ninguém, quem foi o mestre espiritual a lhe dar conhecimento? Como ele era a única criatura, o conhecimento védico foi transmitido dentro de seu coração pela Suprema Personalidade de Deus, que está sentado dentro de todos como Paramātmā. Compreende-se que o conhecimento védico é falado pelo Senhor Supremo, daí ser um conhecimento livre dos defeitos da compreensão material. A compreensão material é defeituosa. Qualquer coisa que ouçamos de uma alma condicionada é cheia de defeitos. Toda informação material e mundana é infectada por ilusão, erro, enganação e imperfeição dos sentidos. O conhecimento védico é perfeito porque foi transmitido pelo Senhor Supremo, que é transcendental à criação material. Quando recebemos esse conhecimento védico de Brahmā através da sucessão discipular, só então recebemos o conhecimento perfeito.
Por trás de cada palavra que ouvimos, há um significado. Logo que ouvimos a palavra “água”, há uma substância – água – por trás da palavra. Da mesma forma, logo que ouvimos a palavra “Deus”, ela tem um significado. Se recebemos o significado e explicação do termo “Deus” da parte do próprio Deus, isso é perfeito. Contudo, se especulamos sobre o significado de “Deus”, isso é imperfeito. A Bhagavad-gītā, que é a ciência de Deus, é falada pela própria Personalidade de Deus. Isso é conhecimento perfeito. Os especuladores mentais ou ditos filósofos que estão pesquisando o que é realmente Deus jamais entenderão a natureza de Deus. Deve-se compreender a ciência de Deus através da sucessão discipular de Brahmā, que foi primeiramente instruído sobre o conhecimento de Deus pelo próprio Deus. Podemos entender o conhecimento de Deus ouvindo a Bhagavad-gītā de uma pessoa autorizada na sucessão discipular.
Quando falamos de ver, deve haver uma forma. Através de nossa percepção sensorial, a experiência inicial é o céu. O céu é o começo da forma. E do céu emanam outras formas. Os objetos de conhecimento e percepção sensorial começam, portanto, do céu.