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Capítulo Vinte e Seis

Princípios Fundamentais da Natureza Material

VERSO 1: A Personalidade de Deus, Kapila, continuou: Minha querida mãe, agora te descreverei as diferentes categorias da Verdade Absoluta, conhecendo as quais qualquer pessoa pode se libertar da influência dos modos da natureza material.

VERSO 2: O conhecimento é a perfeição última da autorrealização. Eu te explicarei o conhecimento com o qual se cortam os nós do apego ao mundo material.

VERSO 3: A Suprema Personalidade de Deus é a Alma Suprema, e Ele não tem começo. Ele é transcendental aos modos materiais da natureza e está além da existência deste mundo material. Ele é perceptível em toda parte porque é autorrefulgente, e toda a criação se mantém mediante Seu brilho autorrefulgente.

VERSO 4: Como Seu passatempo, esta Suprema Personalidade de Deus, o maior dos maiores, aceitou a energia material sutil, que é envolvida pelos três modos materiais da natureza e que está relacionada com Viṣṇu.

VERSO 5: Dividida em variedades por seus modos tríplices, a natureza material cria as formas das entidades vivas, e as entidades vivas, vendo isso, iludem-se pelo aspecto dissimulador de conhecimento da energia ilusória.

VERSO 6: Por causa de seu esquecimento, a entidade viva transcendental aceita a influência da energia material como seu campo de atividades e, assim estimulada, aplica erroneamente as atividades a si mesma.

VERSO 7: A consciência material é a causa da vida condicionada, na qual há condições impostas à entidade viva pela energia material. Embora a alma espiritual não faça nada e seja transcendental a essas atividades, ela é, desse modo, afetada pela vida condicionada.

VERSO 8: A natureza material é a causa do corpo material e dos sentidos da alma condicionada e das deidades que presidem aos sentidos, os semideuses. Assim o compreendem os homens eruditos. Os sentimentos de felicidade e aflição da alma, que é transcendental por natureza, são causados pela própria alma espiritual.

VERSO 9: Devahūti disse: Ó Suprema Personalidade de Deus, por favor, explica-me as características da Pessoa Suprema e Suas energias, pois ambas são causadoras desta criação manifesta e imanifesta.

VERSO 10: A Suprema Personalidade de Deus disse: A eterna combinação imanifesta dos três modos é a causa do estado manifesto e se chama pradhāna. Ela é chamada de prakṛti quando está na fase manifesta de existência.

VERSO 11: O conjunto dos elementos, a saber, os cinco elementos grosseiros, os cinco elementos sutis, os quatro sentidos internos, os cinco sentidos para acumular conhecimento e os cinco órgãos externos de ação, são conhecidos como o pradhāna.

VERSO 12: Há cinco elementos grosseiros, a saber, terra, água, fogo, ar e éter: Há, também, cinco elementos sutis: odor, sabor, cor, toque e som.

VERSO 13: São dez os sentidos para aquisição de conhecimento e os órgãos para ação, a saber, o sentido da audição, o sentido do paladar, o sentido do tato, o sentido da visão, o sentido do olfato, o órgão ativo para falar, os órgãos ativos para trabalhar, e aqueles para viajar, gerar e evacuar.

VERSO 14: Os sentidos sutis internos são experimentados como tendo quatro aspectos, sob a forma de mente, inteligência, ego e consciência contaminada. As distinções entre eles só podem ser feitas devido a suas diferentes funções, uma vez que representam diferentes características.

VERSO 15: Tudo isso é considerado o Brahman qualificado. O elemento misturador, conhecido como tempo, é contado como o vigésimo quinto elemento.

VERSO 16: A influência da Suprema Personalidade de Deus é sentida no fator tempo, que provoca o temor à morte devido ao falso ego da alma iludida que entra em contato com a natureza material.

VERSO 17: Minha querida mãe, ó filha de Svāyambhuva Manu, o fator tempo, conforme expliquei, é a Suprema Personalidade de Deus, de quem a criação começa como resultado da agitação da natureza neutra e imanifesta.

VERSO 18: Ao manifestar Suas potências, a Suprema Personalidade de Deus ajusta todos esses diferentes elementos, mantendo-Se internamente como a Superalma e externamente como o tempo.

VERSO 19: Depois que a Suprema Personalidade de Deus fecunda a natureza material com Sua potência interna, a natureza material dá à luz o somatório da inteligência cósmica, que é conhecido como Hiraṇmaya. Isso ocorre com a natureza material quando ela é agitada pelos destinos das almas condicionadas.

VERSO 20: Assim, após manifestar a variedade, o refulgente mahat-tattva, que contém todos os universos dentro de si, que é a raiz de todas as manifestações cósmicas e que não é destruído no momento da aniquilação, engole a escuridão que cobria a refulgência no momento da dissolução.

VERSO 21: O modo da bondade, que é o claro e sóbrio status de compreensão da Personalidade de Deus e que geralmente é chamado de vāsudeva, ou consciência, manifesta-se no mahat-tattva.

VERSO 22: Após a manifestação do mahat-tattva, esses aspectos aparecem simultaneamente. Assim como a água em seu estado natural, antes de entrar em contato com a terra, é clara, doce e serena, da mesma forma, os traços característicos da consciência pura são plena serenidade, clareza e ausência de confusão.

VERSOS 23-24: O ego material surge do mahat-tattva, que se desenvolveu da própria energia do Senhor. O ego material é dotado predominantemente com três espécies de poder ativo – o bom, o apaixonado e o ignorante. É a partir dessas três espécies de ego material que se desenvolvem a mente, os sentidos de percepção, os órgãos de ação e os elementos grosseiros.

VERSO 25: O tríplice ahaṅkāra, a fonte dos elementos grosseiros, dos sentidos e da mente, é idêntico a eles porque é sua causa. Ele é conhecido pelo nome de Saṅkarṣaṇa, que é diretamente o Senhor Ananta com mil cabeças.

VERSO 26: Este falso ego se caracteriza como o autor, como o instrumento e como o efeito. Além disso, é caracterizado como sereno, ativo ou lento, segundo o modo como é influenciado pelos modos da bondade, paixão e ignorância.

VERSO 27: A partir do falso ego da bondade, ocorre outra transformação. A partir daí, desenvolve-se a mente, cujos pensamentos e reflexões dão surgimento ao desejo.

VERSO 28: A mente da entidade viva é conhecida pelo nome de Senhor Aniruddha, o supremo governador dos sentidos. Ele possui uma forma de cor negra azulada, semelhante à flor de lótus que cresce no outono. Os yogīs O encontram vagarosamente.

VERSO 29: A inteligência nasce, ó virtuosa senhora, da transformação do falso ego em paixão. As funções da inteligência são ajudar a determinar a natureza dos objetos quando eles entram no campo visual e ajudar os sentidos.

VERSO 30: A dúvida, o equívoco, a compreensão correta, a memória e o sono, conforme determinam suas diferentes funções, são considerados as características distintas da inteligência.

VERSO 31: O egoísmo no modo da paixão produz dois tipos de sentidos – os sentidos para adquirir conhecimento e os sentidos de ação. Os sentidos de ação dependem da energia vital, e os sentidos para adquirir conhecimento dependem da inteligência.

VERSO 32: Quando o egoísmo no modo da ignorância é agitado pela energia sexual da Suprema Personalidade de Deus, manifesta-se o elemento sutil chamado som, e do som vêm o céu etéreo e o sentido da audição.

VERSO 33: Pessoas que são eruditas e que têm conhecimento real definem o som como aquilo que transmite a ideia de um objeto, indica a presença de um orador oculto à nossa vista e constitui a forma sutil do éter.

VERSO 34: As atividades e as características do elemento etéreo podem ser observadas como uma acomodação ao ambiente das existências externa e interna de todas as entidades vivas, a saber, o campo de atividades do ar vital, dos sentidos e da mente.

VERSO 35: A partir da existência etérea, que se desenvolve do som, a próxima transformação ocorre sob o impulso do tempo, e, dessa maneira, o elemento sutil chamado tato, e consequentemente o ar e o sentido do tato, tornam-se proeminentes.

VERSO 36: A maciez e a dureza, o frio e o calor, são os atributos que distinguem o tato, que se caracteriza como a forma sutil do ar.

VERSO 37: A ação do ar manifesta-se nos movimentos, misturando, permitindo a abordagem aos objetos do som e demais percepções dos sentidos, e providenciando o funcionamento adequado de todos os outros sentidos.

VERSO 38: Pelas interações do ar e das sensações do tato, recebem-se diferentes formas de acordo com o destino. Com a evolução de tais formas, surge o fogo, e o olho vê diferentes formas coloridas.

VERSO 39: Minha querida mãe, as características da forma são percebidas pela dimensão, qualidade e individualidade. A forma do fogo é apreciada por sua refulgência.

VERSO 40 : O fogo é apreciado por sua luz e por sua capacidade de cozinhar, digerir, destruir o frio, evaporar e provocar a fome, a sede, o comer e o beber.

VERSO 41: Pela interação do fogo com a sensação visual, o elemento sutil chamado paladar desenvolve-se sob um arranjo superior. A partir do paladar, é produzida a água, e a língua, que percebe o sabor, também se manifesta.

VERSO 42: Embora seja originalmente um só, o paladar se multiplica como adstringente, doce, amargo, picante, azedo e salgado, devido ao contato com outras substâncias.

VERSO 43: As características da água manifestam-se por ela molhar outras substâncias, coagular várias misturas, causar satisfação, manter a vida, amaciar as coisas, afastar o calor, fornecer-se incessantemente a reservatórios d’água e refrescar matando a sede.

VERSO 44: Devido à interação da água com a percepção do paladar, o elemento sutil chamado odor desenvolve-se sob arranjo superior. A partir daí, manifestam-se a terra e o sentido olfativo, pelo qual podemos experimentar de diversos modos o aroma da terra.

VERSO 45: O odor, embora um só, multiplica-se – como misto, fétido, fragrante, suave, forte, ácido e assim por diante – de acordo com as proporções das substâncias associadas.

VERSO 46: As características das funções da terra podem ser percebidas modelando-se formas do Brahman Supremo, construindo-se lugares residenciais, preparando-se potes para conter água etc. Em outras palavras, a terra é o lugar de sustento para todos os elementos.

VERSO 47: O sentido cujo objeto de percepção é o som chama-se o sentido auditivo, e aquele cujo objeto de percepção é o tato chama-se o sentido tátil.

VERSO 48: O sentido cujo objeto de percepção é a forma, a característica distintiva do fogo, é o sentido da visão. O sentido cujo objeto de percepção é o gosto, a característica distintiva da água, é conhecido como o sentido do paladar. Finalmente, o sentido cujo objeto de percepção é o odor, a característica distintiva da terra, chama-se o sentido do olfato.

VERSO 49: Uma vez que a causa também existe em seu efeito, as características daquela são observadas neste. É por isso que as peculiaridades de todos os elementos existem apenas na terra.

VERSO 50: Quando todos esses elementos ainda não estavam misturados, a Suprema Personalidade de Deus, a origem da criação, juntamente com o tempo, o trabalho e as qualidades dos modos da natureza material, entrou no universo com a totalidade da energia material em sete divisões.

VERSO 51: A partir desses sete princípios, despertos para a atividade e unidos pela presença do Senhor, surgiu um ovo sem inteligência, do qual apareceu o célebre Ser Cósmico.

VERSO 52: Este ovo universal, ou o universo sob a forma de um ovo, chama-se a manifestação da energia material. Suas camadas de água, ar, fogo, céu, ego e mahat-tattva aumentam em espessura uma após outra. Cada camada é dez vezes maior que a anterior, e a camada externa final é coberta pelo pradhāna. Dentro desse ovo, encontra-se a forma universal do Senhor Hari, de cujo corpo fazem parte os catorze sistemas planetários.

VERSO 53: A Suprema Personalidade de Deus, o virāṭ-puruṣa, situou-Se nesse ovo dourado, que jazia sobre a água, e dividiu-o em muitos departamentos.

VERSO 54: Antes de mais nada, apareceu uma boca nEle, e, em seguida, surgiu o sistema vocal, e, juntamente com ele, o deus do fogo, a deidade que preside esse órgão. Depois apareceu um par de narinas, e nelas surgiu o sentido do olfato, bem como prāṇa, o ar vital.

VERSO 55: Com o despertar do sentido do olfato, surgiu o deus do vento, que preside esse sentido. Depois disso, apareceu um par de olhos na forma universal, e neles o sentido da visão. Com o despertar desse sentido, surgiu o deus do Sol, que o preside. Em seguida, nele apareceu um par de ouvidos, e neles o sentido da audição, com o despertar do qual surgiram os Dig-devatās, ou seja, as deidades que presidem as direções.

VERSO 56: A seguir, a forma universal do Senhor, o virāṭ-puruṣa, manifestou Sua pele, e, logo após, apareceram o cabelo, o bigode e a barba. Depois disso, manifestaram-se todas as ervas e drogas, e então também apareceram Seus órgãos genitais.

VERSO 57: Depois disso, apareceram o sêmen (a faculdade da procriação) e o deus que preside as águas. Em seguida, apareceu um ânus e, depois, os órgãos de defecação e, logo após, o deus da morte, que é temido em todo o universo.

VERSO 58: Em seguida, manifestaram-se as duas mãos da forma universal, e, com elas, a capacidade de agarrar e atirar coisas; depois disso, apareceu o senhor Indra. Então, manifestaram-se as pernas, e, com elas, o processo de movimento, após o que apareceu o Senhor Viṣṇu.

VERSO 59: As veias do corpo universal manifestaram-se e, depois delas, os corpúsculos vermelhos, ou o sangue. Com o despertar deles, surgiram os rios (as deidades que presidem as veias), e então apareceu um abdômen.

VERSO 60: A seguir, surgiram as sensações de fome e sede, e, com o despertar delas, manifestaram-se os oceanos. Depois, manifestou-se um coração, e, com o despertar do coração, apareceu a mente.

VERSO 61: Depois da mente, apareceu a Lua. Em seguida, apareceu a inteligência, e, depois da inteligência, o senhor Brahmā apareceu. Então, apareceu o falso ego e, depois, o senhor Śiva, e, após o aparecimento do senhor Śiva, surgiu a consciência e a deidade que preside a consciência.

VERSO 62: Ao se manifestarem assim os semideuses e as deidades que presidem os diversos sentidos, eles quiseram despertar a origem de seu aparecimento. Contudo, não conseguindo fazê-lo, eles entraram novamente no corpo do virāṭ-puruṣa, um após o outro, com o objetivo de acordá-lO.

VERSO 63: O deus do fogo entrou em Sua boca com o órgão da fala, mas não conseguiu despertar o virāṭ-puruṣa. Então, o deus do vento entrou em Suas narinas com o sentido do olfato, mas, ainda assim, o virāṭ-puruṣa recusou-Se a despertar.

VERSO 64: O deus do Sol entrou nos olhos do virāṭ-puruṣa com o sentido da visão, mas, ainda assim, o virāṭ-puruṣa não Se levantou. Da mesma forma, as deidades predominantes das direções entraram por Seus ouvidos com o sentido da audição, mas, mesmo assim, Ele não Se levantou.

VERSO 65: As deidades predominantes da pele, das ervas e das plantas sazonais entraram na pele do virāṭ-puruṣa com o pelo do corpo, mas, mesmo então, o Ser Cósmico recusou-Se a colocar-Se de pé. O deus predominante da água entrou em Seu órgão de geração com a faculdade da procriação, mas o virāṭ-puruṣa, ainda assim, não quis despertar.

VERSO 66: O deus da morte entrou em Seu ânus com o órgão de defecação, mas não conseguiu incitar o virāṭ-puruṣa à atividade. O deus Indra entrou nas mãos com a capacidade das mãos de agarrar e atirar coisas, mas o virāṭ-puruṣa, mesmo então, não quis Se levantar.

VERSO 67: O Senhor Viṣṇu entrou em Seus pés com a faculdade da locomoção, mas o virāṭ-puruṣa, mesmo então, recusou-Se a Se levantar. Os rios entraram em Seus vasos sanguíneos com o sangue e o poder de circulação, mas, ainda assim, não conseguiram mover o Ser Cósmico.

VERSO 68: O oceano entrou em Seu abdômen com a fome e a sede, mas o Ser Cósmico negou-Se, mesmo então, a despertar. O deus da Lua entrou em Seu coração com a mente, mas o Ser Cósmico não quis Se levantar.

VERSO 69: Brahmā também entrou em Seu coração com a inteligência, mas, mesmo então, não conseguiu induzir o Ser Cósmico a Se levantar. O senhor Rudra também entrou em Seu coração com o ego, mas, mesmo então, o Ser Cósmico não Se mexeu.

VERSO 70: Contudo, quando o controlador interno, a deidade que preside a consciência, entrou no coração com a razão, no mesmo instante o Ser Cósmico levantou-Se das águas causais.

VERSO 71: Quando um homem está dormindo, nenhum de seus recursos materiais – a saber, a energia vital, os sentidos para registrar conhecimento, os sentidos para trabalhar, a mente e a inteligência – pode despertá-lo. Ele só pode ser acordado quando a Superalma o ajuda.

VERSO 72: Portanto, através da devoção, do desapego e do avanço em conhecimento espiritual, adquirido através de concentrado serviço devocional, deve-se contemplar a Superalma como presente neste próprio corpo, embora simultaneamente separada dele.

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