VERSO 10
nivṛtta-buddhy-avasthāno
dūrī-bhūtānya-darśanaḥ
upalabhyātmanātmānaṁ
cakṣuṣevārkam ātma-dṛk
nivṛtta — transcendidos; buddhi-avasthānaḥ — as fases de consciência material; dūrī-bhūta — distantes; anya — demais; darśanaḥ — concepções de vida; upalabhya — tendo compreendido; ātmanā — com seu intelecto purificado; ātmānam — seu próprio eu; cakṣuṣā — com os olhos; iva — como; arkam — o Sol; ātma-dṛk — o autorrealizado.
Todos devem situar-se na posição transcendental, além das fases de consciência material, e devem colocar-se à parte de todas as demais concepções de vida. Compreendendo então sua ausência de falso ego, devem ver seu próprio eu, assim como veem o Sol no céu.
SIGNIFICADO—A consciência age em três fases sob o conceito material da vida. Quando estamos acordados, a consciência age de determinada maneira; quando estamos adormecidos, ela age de maneira diferente, e, quando estamos profundamente adormecidos, a consciência age ainda de outra maneira. Para tornarmo-nos conscientes de Kṛṣṇa, é preciso transcendermos estas três fases de consciência. Devemos libertar nossa atual consciência de todas as percepções da vida além da consciência de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus: isso se chama dūrī-bhūtānya-darśanaḥ, o que significa que, quando alguém alcança a perfeita consciência de Kṛṣṇa, não vê nada além de Kṛṣṇa. O Caitanya-caritāmṛta diz que o devoto perfeito pode ver muitos objetos móveis e imóveis, mas em tudo ele vê a ação da energia de Kṛṣṇa. No mesmo instante em que se lembra da energia de Kṛṣṇa, ele se lembra de Kṛṣṇa sob Sua forma pessoal. Na Brahma-saṁhitā (5.38), afirma-se que aquele cujos olhos estão untados com amor a Kṛṣṇa (premāñjana-cchurita) sempre vê Kṛṣṇa, externa e internamente. Confirma-se isto aqui: devemos nos livrar de qualquer outra visão e, dessa maneira, nós nos livraremos da identificação de falso egoísmo e nos veremos como servos eternos do Senhor. Cakṣuṣevārkam: assim como podemos ver o Sol sem nenhuma dúvida, quem é plenamente desenvolvido em consciência de Kṛṣṇa vê Kṛṣṇa e Sua energia. Com essa visão, tornamo-nos ātma-dṛk, ou autorrealizados. Quando se elimina o falso ego de identificar o corpo com o eu, percebe-se a verdadeira visão da vida. Os sentidos, portanto, também se purificam. O verdadeiro serviço ao Senhor começa quando os sentidos se purificam. Não é preciso parar com as atividades dos sentidos, mas é preciso eliminar o falso ego de se identificar com o corpo. Então, os sentidos se purificam automaticamente, e, com sentidos purificados, pode-se realmente prestar serviço devocional.