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VERSO 8

yadṛcchayopalabdhena
santuṣṭo mita-bhuṅ muniḥ
vivikta-śaraṇaḥ śānto
maitraḥ karuṇa ātmavān

yadṛcchayā — sem dificuldade; upalabdhena — com aquilo que é obtido; santuṣṭaḥ — satisfeito; mita — pouco; bhuk — comendo; muniḥ — meditativo; vivikta-śaraṇaḥ — viver num lugar retirado; śāntaḥ — pacífico; maitraḥ — amistoso; karuṇaḥ — compassivo; ātma-vān — sereno, autorrealizado.

Como sua renda, o devoto deve contentar-se com aquilo que ele ganha sem muita dificuldade. Ele não deve comer mais do que o necessário. Deve viver num lugar retirado e sempre ser meditativo, pacífico, amistoso, compassivo e autorrealizado.

SIGNIFICADO—Todos que aceitaram um corpo material precisam suprir as necessidades do corpo, agindo ou ganhando alguma subsistência. O devoto só deve trabalhar pela renda que for absolutamente necessária. Ele deve sempre contentar-se com tal renda e não se esforçar por ganhar cada vez mais, simplesmente para acumular coisas desnecessárias. Vemos pessoas no estado condicionado que não têm dinheiro, porém vivem trabalhando arduamente para ganhar algum dinheiro com o objetivo de assenhorear-se da natureza material. Kapiladeva ensina que não devemos nos esforçar arduamente por coisas que podem vir automaticamente, sem esforço extrínseco. A palavra exata usada a esse respeito, yadcchayā, significa que toda entidade viva tem felicidade e tristeza predeterminadas em seu corpo atual; essa é a chamada lei do karma. Não é possível que simplesmente através de esforços por acumular cada vez mais dinheiro alguém seja capaz de fazê-lo; caso contrário, quase todos estariam no mesmo nível de riqueza. Na realidade, todos estão ganhando e adquirindo de acordo com seu karma predestinado. Segundo a conclusão do Bhāgavatam, às vezes nos defrontamos com condições perigosas ou miseráveis sem nos esforçar para isso, e, da mesma forma, temos condições prósperas sem nos esforçar por obtê-las. Aconselha-se que deixemos essas coisas virem da maneira predestinada. Devemos ocupar nosso tempo valioso no desempenho da consciência de Kṛṣṇa. Em outras palavras, devemos nos contentar com nossa condição natural. Se, pela predestinação, alguém é posto em determinadas condições de vida que são menos prósperas em comparação com a posição de outrem, ele não deve ficar perturbado. Deve simplesmente esforçar-se por utilizar seu tempo valioso para avançar em consciência de Kṛṣṇa. O avanço em consciência de Kṛṣṇa não depende de nenhuma condição materialmente próspera ou miserável: está livre das condições impostas pela vida material. Um homem paupérrimo pode executar a consciência de Kṛṣṇa tão efetivamente quanto um homem riquíssimo. Portanto, devemos nos contentar com a posição que o Senhor nos tenha oferecido.

Outra palavra usada aqui é mita-bhuk, que significa que devemos comer apenas o necessário para manter-nos vivos. Não devemos ser glutões para satisfazer a língua. Cabe ao homem consumir cereais, frutas, leite e alimentos semelhantes. Não se deve ser excessivamente ávido por satisfazer a língua e comer aquilo que não se destina à humanidade. Particularmente, o devoto deve comer apenas prasāda, ou seja, alimento oferecido à Personalidade de Deus. Sua posição é aceitar os restos desses alimentos. Alimentos inocentes, como cereais, legumes, frutas, flores e preparações lácteas, devem ser oferecidos ao Senhor, de modo que não há espaço para se oferecer alimentos que estão nos modos da paixão e da ignorância. O devoto não deve ser cobiçoso. Recomenda-se também ao devoto que seja muni, ou meditativo: ele sempre deve pensar em Kṛṣṇa e em como prestar um melhor serviço à Suprema Personalidade de Deus. Essa deve ser sua única ansiedade. Assim como um materialista está sempre pensando em como melhorar sua condição material, os pensamentos do devoto devem sempre estar ocupados em melhorar sua condição em consciência de Kṛṣṇa; portanto, ele deve ser um muni.

O seguinte item recomendado é que o devoto viva em lugar retirado. Geralmente, o homem comum está interessado em dinheiro, ou no avanço da vida materialista, o que é desnecessário para um devoto. O devoto deve escolher um lugar de residência onde todos estejam interessados em serviço devocional. Geralmente, portanto, o devoto vai para um lugar sagrado de peregrinação onde vivam os devotos. Recomenda-se que ele viva em um lugar onde não haja grande número de homens ordinários. É muito importante viver em um lugar retirado (vivikta-śaraṇa). O item seguinte é śānta, ou tranquilidade. O devoto não deve ser agitado. Ele deve se contentar com sua renda natural, comer somente o necessário para manter sua saúde, viver em um lugar retirado e sempre manter-se pacífico. A paz de espírito é necessária para o desempenho da consciência de Kṛṣṇa.

O item seguinte é maitra, ou amizade. O devoto deve ser amigável com todos, mas sua amizade íntima deve ser apenas com os devotos. Com os demais, ele deve ser oficial. Ele pode dizer: “Sim, senhor, o que o senhor diz está certo”, mas ele não é íntimo com eles. Contudo, o devoto deve ter compaixão das pessoas que são inocentes, que não são nem ateístas, nem muito avançadas em compreensão espiritual. O devoto deve ser compassivo com elas e ensinar-lhes, na medida do possível, a como avançar em consciência de Kṛṣṇa. O devoto deve sempre permanecer ātmavān, ou seja, situado em sua posição espiritual. Ele não deve esquecer que seu principal interesse é de avançar em consciência espiritual, ou consciência de Kṛṣṇa, e não deve identificar-se nesciamente com o corpo ou a mente. Ātmā significa corpo ou mente, mas aqui a palavra ātmavān significa especialmente que devemos ser serenos. Devemos sempre permanecer na pura consciência de que somos almas espirituais, e não o corpo material ou a mente. Isso fará com que avancemos confiantemente em consciência de Kṛṣṇa.

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