VERSO 17
mahatāṁ bahu-mānena
dīnānām anukampayā
maitryā caivātma-tulyeṣu
yamena niyamena ca
mahatām — pelas grandes almas; bahu-mānena — com grande respeito; dīnānām — pelos pobres; anukampayā — com compaixão; maitryā — com amizade; ca — também; eva — certamente; ātma-tulyeṣu — para as pessoas que estão no mesmo nível; yamena — com controle dos sentidos; niyamena — com regulação; ca — e.
O devoto puro deve executar serviço devocional prestando o maior respeito ao mestre espiritual e aos ācāryas. Ele deve ser compassivo com os pobres e fazer amizade com pessoas que estão no mesmo nível que ele, porém, deve executar todas as suas atividades com regulação e com controle dos sentidos.
SIGNIFICADO––Na Bhagavad-gītā, décimo terceiro capítulo, afirma-se claramente que devemos executar serviço devocional e avançar no caminho do conhecimento espiritual, aceitando um ācārya. Acāryopāsanam: deve-se adorar um ācārya, mestre espiritual que conhece as coisas como elas são. O mestre espiritual deve pertencer à sucessão discipular oriunda de Kṛṣṇa. Os predecessores do mestre espiritual são seu mestre espiritual, seu avô espiritual, seu bisavô espiritual e assim por diante, que formam a sucessão discipular de ācāryas.
Recomenda-se aqui que se ofereça o maior respeito a todos os ācāryas. Afirma-se que guruṣu nara-matiḥ. Guruṣu significa “aos ācāryas,” e nara-matiḥ significa “pensar que é um homem comum.” Pensar que os Vaiṣṇavas, os devotos, pertencem a uma casta ou a uma comunidade em particular, pensar que os ācāryas são homens comuns ou pensar que a Deidade no templo é feita de pedra, madeira ou metal – pensar assim é condenado. Niyameṇa: deve-se oferecer o maior respeito aos ācāryas segundo as regulações padrão. O devoto deve também, ser compassivo com os pobres. Isto não se refere àqueles que são paupérrimos materialmente. De acordo com a visão espiritual, um homem é pobre se não está em consciência de Klṣna. Pode ser que um homem seja muito rico materialmente, mas se ele não é consciente de Kṛṣṇa é considerado pobre. Por outro lado, muitos ācāryas, tais como Rūpa Gosvāmi e Sanātana Gosvāmi, costumavam viver debaixo de árvores todas as noites. Superficialmente, parecia que eles eram muito pobres, mas, por seus escritos, podemos entender que, em vida espiritual, eles eram as pessoas mais ricas.
O devoto mostra compaixão pelas pobres almas que carecem de conhecimento espiritual, iluminando-as a fim de elevá-las à consciência de Kṛṣṇa. Este é um dos deveres do devoto. Além disso, ele deve fazer amizade com pessoas que estejam em nível de igualdade com ele próprio ou que tenham a mesma compreensão que ele. O devoto não tem por que fazer amizade com pessoas comuns: ele deve fazer amizade com outros devotos para que, discutindo entre si, eles possam elevar-se mutuamente no caminho da compreensão espiritual. Chama-se isto de iṣṭa-goṣṭhī.
Na Bhagavad-gītā, faz-se referência a bodhayantaḥ parasparam, “discutindo entre si.” Geralmente, os devotos puros utilizam seu tempo valioso, cantando e discutindo várias atividades do Senhor Kṛṣṇa ou do Senhor Caitanya entre eles. Há inúmeros livros, tais como os Purāṇas, Mahābhārata, Bhāgavatam, Bhagavad-gītā e Upaniṣads, que contêm incontáveis temas para discussão entre dois ou mais devotos. Amizade é para ser estabelecida entre pessoas com interesses e compreensões mútuos. Diz-se que tais pessoas são svajāti, “da mesma casta.” O devoto deve evitar pessoas cujo caráter não esteja fixo na compreensão padrão; mesmo que tais pessoas sejam Vaiṇavas, ou devotos de Kṛṣṇa, se seu caráter não for corretamente representativo, então elas deverão ser evitadas. Devemos controlar rigidamente os sentidos e a mente e seguir estritamente as regras e regulações, e devemos fazer amizade com pessoas do mesmo nível.