VERSO 23
dviṣataḥ para-kāye māṁ
mānino bhinna-darśinaḥ
bhūteṣu baddha-vairasya
na manaḥ śāntim ṛcchati
dviṣataḥ — de quem é invejoso; para-kāye — para com o corpo de outrem; mām — a Mim; māninaḥ — oferecendo respeito; bhinna-darśinaḥ — de um separatista; bhūteṣu — contra as entidades vivas; baddha-vairasya — de quem é hostil; na — não; manaḥ — a mente; śāntim — paz; ṛcchati — alcança.
Quem Me oferece respeito, mas tem inveja dos corpos dos outros e, por isso, é separatista jamais alcança paz de espírito, por causa de seu comportamento hostil para com outras entidades vivas.
SIGNIFICADO––Neste verso, duas frases – bhūteṣu baddha-vairasya (“hostil para com os outros”) e dviṣataḥ para-kāye (“invejoso do corpo de outrem”) – são significativas. Aquele que é invejoso ou hostil para com os outros nunca experimenta felicidade alguma. A visão do devoto, portanto, deve ser perfeita. Ele deve ignorar distinções corpóreas e deve ver apenas a presença da parte integrante do Senhor Supremo, e o próprio Senhor sob Sua expansão plenária como Superalma. Essa é a visão do devoto puro. A expressão corpórea de um tipo de entidade viva em particular é sempre ignorada pelo devoto.
Expressa-se nesta passagem que o Senhor está sempre ansioso por libertar as almas condicionadas, que têm estado engaioladas em corpos materiais. Espera-se dos devotos que eles levem a mensagem ou o desejo do Senhor a essas almas condicionadas e iluminem-nas com a consciência de Kṛṣṇa. Assim elas poderão ser elevadas à transcendental vida espiritual, e a missão de suas vidas será exitosa. Evidentemente, isso não é possível para entidades vivas que são inferiores aos seres humanos, mas, na sociedade humana, é possível que todas as entidades vivas sejam iluminadas com consciência de Kṛṣṇa. Mesmo entidades vivas inferiores aos seres humanos podem ser elevadas à consciência de Kṛṣṇa por intermédio de outros métodos. Por exemplo, Śivānanda Sena, grande devoto do Senhor Caitanya, liberou um cão alimentando-o com prasāda. A distribuição de prasāda, ou seja, os restos dos alimentos oferecidos ao Senhor, mesmo para a massa ignorante da população e para os animais, dá a essas entidades vivas a oportunidade de se elevarem à consciência de Kṛṣṇa. De fato, ocorreu que o mesmo cão, ao encontrar-se com o Senhor Caitanya em Purī, foi liberado da condição material.
Aqui se menciona em específico que o devoto deve estar livre de toda violência (jīvāhiṁsā). O Senhor Caitanya recomenda ao devoto que não cometa violência contra nenhuma entidade viva. Às vezes se questiona o seguinte: uma vez que os legumes também têm vida e os devotos comem alimentos do reino vegetal, acaso isso não é violência? Em primeiro lugar, entretanto, colher algumas folhas, ramos ou frutas de uma árvore ou planta não mata a planta. Além disso, jīvāhiṁsā significa que, já que toda entidade viva é obrigada a passar por determinada espécie de corpo de acordo com seu karma passado, embora toda entidade viva seja eterna, ela não deve ser perturbada em sua evolução gradual. O devoto tem de executar os princípios do serviço devocional exatamente como eles são, e deve saber que, por mais insignificante que seja uma entidade viva, o Senhor está presente dentro dela. O devoto deve compreender essa presença universal do Senhor.