VERSO 1
kapila uvāca
atha yo gṛha-medhīyān
dharmān evāvasan gṛhe
kāmam arthaṁ ca dharmān svān
dogdhi bhūyaḥ piparti tān
kapilaḥ uvāca — o Senhor Kapila disse; atha — agora; yaḥ — a pessoa que; gṛha-medhīyān — dos chefes de família; dharmān — deveres; eva — certamente; āvasan — vivendo; gṛhe — em casa; kāmam — gozo dos sentidos; artham — desenvolvimento econômico; ca — e; dharmān — rituais religiosos; svān — seus; dogdhi — desfruta; bhūyaḥ — repetidamente; piparti — executa; tān — a eles.
A Personalidade de Deus disse: A pessoa que vive no centro da vida familiar obtém benefícios materiais executando rituais religiosos e, deste modo, satisfaz seus desejos de desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos. Ela age repetidamente dessa mesma maneira.
SIGNIFICADO—Há duas classes de chefes de família. Um se chama gṛhamedhī, e o outro, gṛhastha. O objetivo do gṛhamedhī é o gozo dos sentidos, e o objetivo do gṛhastha é a autorrealização. Aqui o Senhor está falando sobre o gṛhamedhī, ou seja, a pessoa que quer permanecer neste mundo material. Sua atividade consiste em usufruir de benefícios materiais, executando rituais religiosos com vistas ao desenvolvimento econômico e, deste modo, satisfazer finalmente seus sentidos. Ele não quer mais nada. Uma pessoa desse tipo trabalha arduamente por toda a sua vida para tornar-se muito rica e comer e beber com qualidade. Dando alguma caridade como atividade piedosa, ele poderá alcançar uma atmosfera planetária superior em planetas celestiais em sua próxima vida, mas ele não quer suspender a repetição de nascimentos e mortes e acabar com os concomitantes fatores de sofrimento da existência material. Uma pessoa assim se chama gṛhamedhī.
O gṛhastha é a pessoa que vive com a família, esposa, filhos e parentes, porém não tem apego por eles. Ele prefere viver como chefe de família a ser mendicante ou sannyāsī, mas seu objetivo principal é alcançar a autorrealização, ou seja, chegar ao padrão de consciência de Kṛṣṇa. Aqui, entretanto, o Senhor Kapiladeva está falando sobre os gṛhamedhīs, que fazem da próspera vida materialista sua meta, a qual eles alcançam mediante cerimônias sacrificatórias, caridades e boas ações. Eles galgam boas posições, e, como sabem que estão consumindo seu capital de boas atividades, eles repetidamente executam atividades de gozo dos sentidos. Prahlāda Mahārāja diz, punaḥ punaś carvita-carvaṇānām: eles preferem mastigar aquilo que já foi mastigado. Repetidamente experimentam as dores materiais, mesmo que sejam ricos e prósperos, mas não querem abandonar esse tipo de vida.