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VERSO 18

bhaktiṁ harau bhagavati pravahann ajasram
ānanda-bāṣpa-kalayā muhur ardyamānaḥ
viklidyamāna-hṛdayaḥ pulakācitāṅgo
nātmānam asmarad asāv iti mukta-liṅgaḥ

bhaktim — o serviço devocional; harau — a Hari; bhagavati — a Suprema Personalidade de Deus; pravahan — constantemente ocupado em; ajasram — sempre; ānanda — bem-aventurado; bāṣpa-kalayā — por uma torrente de lágrimas; muhuḥ — repetidamente; ardyamāna — sendo dominado; viklidyamāna — derretendo; hṛdayaḥ — seu coração; pulaka — arrepio dos cabelos; ācita — coberto; aṅgaḥ — seu corpo; na — não; ātmānam — corpo; asmarat — ele se lembrou; asau — ele; iti — assim; mukta-liṅgaḥ — livre do corpo sutil.

Por causa de sua bem-aventurança transcendental, lágrimas incessantes fluíam de seus olhos, seu coração se derretia, seu corpo tremia e seus cabelos se arrepiavam. Assim transformado, num transe de serviço devocional, Dhruva Mahārāja esqueceu-se inteiramente de sua existência corpórea e, desse modo, libertou-se imediatamente do cativeiro material.

SIGNIFICADO—Devido à ocupação constante em serviço devocional – ouvindo, cantando, lembrando, adorando a Deidade etc., como se prescreve em nove variedades – diferentes sintomas manifestam-se no corpo de um devoto. Essas oito transformações corpóreas, indicadoras de que o devoto já está liberado internamente, chamam-se aṣṭa-sāttvika-vikāra. Um devoto que se esquece inteiramente de sua existência corpórea deve ser considerado liberado. Ele já não está engaiolado no corpo. Apresenta-se o exemplo de que, quando um coco fica totalmente seco, a polpa dentro de sua casca solta-se da casca interna e da cobertura externa. Sacudindo o coco seco, pode-se ouvir que a polpa já não está ligada à casca interna ou à cobertura. Analogamente, quem se absorve por inteiro em serviço devocional desliga-se por completo das duas coberturas materiais, os corpos grosseiro e sutil. Dhruva Mahārāja alcançou essa fase de vida executando serviço devocional constantemente. Ele já foi descrito como mahā-bhāgavata, pois, a menos que alguém se torne um mahā-bhāgavata, ou devoto puro de primeira classe, esses sintomas não são visíveis em seu corpo. O Senhor Caitanya manifestou todos esses sintomas. Ṭhākura Haridāsa também os manifestou, e há muitos devotos puros que manifestaram tais sintomas corpóreos. Eles não devem ser imitados, mas, quando alguém é realmente avançado, esses sintomas manifestam-se nele, ocasião em que se deve entender que o devoto está materialmente livre. Evidentemente, o caminho da liberação abre-se desde o início do serviço devocional, assim como o coco tirado do coqueiro começa a secar de imediato: simplesmente leva algum tempo para que a casca e a polpa se separem uma da outra.

Muito importante neste verso é a expressão mukta-liṅgaḥ. Mukta significa “liberado”, e liṅga, “o corpo sutil”. Quando um homem morre, ele abandona o corpo grosseiro, mas o corpo sutil composto de mente, inteligência e ego transporta-o para um corpo novo. Durante sua existência no corpo atual, o mesmo corpo sutil o transporta de uma fase de vida a outra (por exemplo, da infância à juventude) através do desenvolvimento mental. A condição mental de um bebê é diferente daquela de um menino, a condição mental de um menino é diferente daquela de um jovem, e a condição mental de um jovem é diferente daquela de um idoso. Assim, no momento da morte, o processo de mudar de corpo ocorre devido ao corpo sutil; a mente, a inteligência e o ego transportam a alma de um corpo grosseiro a outro. Isso se chama transmigração da alma. Porém, há outra fase, em que nos libertamos inclusive do corpo sutil; nessa altura, a entidade viva é competente e está plenamente preparada para transferir-se ao mundo transcendental ou espiritual.

A descrição dos sintomas corpóreos de Śrī Dhruva Mahārāja evidencia que ele se tornou perfeitamente digno de ser transferido ao mundo espiritual. Pode-se experimentar a distinção entre os corpos grosseiro e sutil mesmo no cotidiano: durante o sonho, o corpo grosseiro fica deitado na cama enquanto o corpo sutil transporta a alma, a entidade viva, para outra atmosfera. Porém, como o corpo grosseiro tem que continuar, o corpo sutil volta e se aloja no atual corpo grosseiro. Portanto, é preciso libertar-se também do corpo sutil. Essa liberdade é conhecida como mukta-liṅga.

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