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Capítulo Doze

Dhruva Mahārāja Volta ao Supremo

VERSO 1: O grande sábio Maitreya disse: Meu querido Vidura, a ira de Dhruva Mahārāja cedeu, e ele parou imediatamente de matar os Yakṣas. Quando Kuvera, o abençoadíssimo senhor da tesouraria, tomou conhecimento disso, ele apareceu diante de Dhruva. Enquanto era adorado pelos Yakṣas, Kinnaras e Cāraṇas, ele dirigiu a palavra a Dhruva Mahārāja, que permanecia diante dele de mãos postas.

VERSO 2: Kuvera, o senhor da tesouraria, disse: Ó impecável filho de kṣatriya, agrada-me muito saber que, sob a instrução de teu avô, abandonaste tua inimizade, embora seja algo muito difícil de evitar. Estou muito satisfeito contigo.

VERSO 3: Na verdade, não mataste os Yakṣas, tampouco eles mataram teu irmão, pois a causa fundamental de geração e aniquilação é o aspecto tempo eterno do Senhor Supremo.

VERSO 4: O fato de identificarmos falsamente a nós mesmos e aos demais como “eu” e “tu” com base no conceito corpóreo de vida é um produto da ignorância. Esse conceito corpóreo é a causa de repetidos nascimentos e mortes, e faz com que continuemos na existência material.

VERSO 5: Meu querido Dhruva, aproxima-te. Que o Senhor sempre te agracie com boa fortuna. A Suprema Personalidade de Deus, que está além de nossa percepção sensória, é a Superalma de todas as entidades vivas, e assim todas as entidades são iguais, sem distinções. Começa, portanto, a prestar serviço à forma transcendental do Senhor, que é o abrigo último de todas as entidades vivas.

VERSO 6: Portanto, ocupa-te plenamente no serviço devocional ao Senhor, pois somente Ele pode livrar-nos deste enredamento da existência materialista. Embora o Senhor esteja ligado à Sua potência material, Ele está à parte das atividades dela. Tudo neste mundo material acontece pela potência inconcebível da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 7: Meu querido Dhruva Mahārāja, filho de Mahārāja Uttānapāda, ouvimos falar que te ocupas constantemente no transcendental serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus, que é conhecida por Seu umbigo de lótus. Portanto, és digno de receber todas as nossas bênçãos. Portanto, por favor, pede sem hesitação qualquer bênção que quiseres de mim.

VERSO 8: O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, ao ser assim solicitado a aceitar uma bênção de Kuvera, o Yakṣarāja [rei dos Yakṣas], Dhruva Mahārāja, aquele elevadíssimo devoto puro, que era um rei inteligente e pensativo, rogou para ter fé inabalável na Suprema Personalidade de Deus e poder sempre lembrar-se dEle, pois assim uma pessoa pode atravessar facilmente o oceano de necedade, embora, para os outros, seja muito difícil fazê-lo.

VERSO 9: O filho de Iḍaviḍā, o senhor Kuvera, ficou muito satisfeito e alegremente deu a Dhruva Mahārāja a bênção que ele queria. Depois disso, desapareceu da presença de Dhruva, e Dhruva Mahārāja regressou à sua capital.

VERSO 10: Enquanto permaneceu em seu lar, Dhruva Mahārāja executou muitas grandiosas cerimônias de sacrifício a fim de satisfazer o desfrutador de todos os sacrifícios, a Suprema Personalidade de Deus. As cerimônias sacrificatórias prescritas destinam-se especialmente a satisfazer o Senhor Viṣṇu, que é o objetivo de todos esses sacrifícios e que outorga as bênçãos resultantes.

VERSO 11: Dhruva Mahārāja prestou serviço devocional ao Supremo, o reservatório de tudo, com força inexorável. Enquanto executava seu serviço devocional ao Senhor, ele pôde ver que tudo está situado nEle somente e que Ele está situado em todas as entidades vivas. O Senhor chama-Se Acyuta porque não falha jamais em Seu dever primordial de dar proteção a Seus devotos.

VERSO 12: Dhruva Mahārāja era dotado com todas as qualidades divinas. Ele era muito respeitoso com os devotos do Senhor Supremo, muito amável com os pobres e inocentes e protegia os princípios religiosos. Com todas essas qualificações, ele era considerado o pai direto de todos os cidadãos.

VERSO 13: Dhruva Mahārāja governou este planeta por trinta e seis mil anos; desfrutando, ele diminuía as reações de atividades piedosas, e, praticando austeridades, diminuía as reações inauspiciosas.

VERSO 14: Dhruva Mahārāja, que era autocontrolado e uma grande alma, passou assim muitos e muitos anos favoravelmente executando três classes de atividades mundanas, a saber, religiosidade, desenvolvimento econômico e satisfação de todos os desejos materiais. Depois disso, ele passou a responsabilidade do trono real a seu filho.

VERSO 15: Śrīla Dhruva Mahārāja compreendeu que esta manifestação cósmica confunde as entidades vivas assim como um sonho ou uma fantasmagoria por ser uma criação da energia externa ilusória do Senhor Supremo.

VERSO 16: Assim, Dhruva Mahārāja deixou enfim seu reino, que se estendia por toda a Terra e cujos limites eram os grandes oceanos. Ele considerou seu corpo, suas esposas, seus filhos, seus amigos, seu exército, seu rico tesouro, seus tão confortáveis palácios e seus muitos e desfrutáveis parques de recreação como criações da energia ilusória. Assim, no devido curso do tempo, retirou-se para a floresta nos Himalaias conhecida como Badarikāśrama.

VERSO 17: Em Badarikāśrama, os sentidos de Dhruva Mahārāja purificaram-se por completo porque ele se banhava regularmente em água pura e cristalina. Ele se fixou em uma postura sentada e, mediante a prática de yoga, controlou o processo respiratório e o ar vital; dessa maneira, recolheu seus sentidos inteiramente. Então, concentrou sua mente na forma arcā-vigraha do Senhor, que é a réplica exata do Senhor, e, assim meditando nEle, entrou em transe completo.

VERSO 18: Por causa de sua bem-aventurança transcendental, lágrimas incessantes fluíam de seus olhos, seu coração se derretia, seu corpo tremia e seus cabelos se arrepiavam. Assim transformado, num transe de serviço devocional, Dhruva Mahārāja esqueceu-se inteiramente de sua existência corpórea e, desse modo, libertou-se imediatamente do cativeiro material.

VERSO 19: Logo que os sintomas de sua liberação se manifestaram, ele viu um aeroplano belíssimo descendo do céu, como se a brilhante lua cheia estivesse descendo, iluminando todas as dez direções.

VERSO 20: Dhruva Mahārāja viu dois belíssimos associados do Senhor Viṣṇu no aeroplano. Eles tinham quatro mãos e um brilho corporal enegrecido, eram muito jovens e seus olhos pareciam flores de lótus avermelhadas. Traziam maças em suas mãos e estavam vestidos com roupas muito atrativas, com elmos e decorados com colares, braceletes e brincos.

VERSO 21: Vendo que essas personalidades incomuns eram servos diretos da Suprema Personalidade de Deus, Dhruva Mahārāja se levantou prontamente. Porém, estando muito maravilhado, ele se desquietou e se esqueceu de como recebê-los de maneira adequada. Portanto, ele simplesmente ofereceu reverências de mãos postas e entoou e glorificou os santos nomes do Senhor.

VERSO 22: Dhruva Mahārāja estava sempre absorto em pensar nos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa. Seu coração estava repleto de Kṛṣṇa. Quando os dois servos íntimos do Senhor Supremo, chamados Nanda e Sunanda, aproximaram-se dele, sorrindo alegremente, Dhruva permaneceu de mãos postas, humildemente prostrado. Então, dirigiram-se a ele da seguinte maneira.

VERSO 23: Nanda e Sunanda, os dois associados íntimos do Senhor Viṣṇu, disseram: Querido rei, toda a boa fortuna a ti! Por favor, ouve atentamente o que diremos. Quando tinhas apenas cinco anos, tu te submeteste a rigorosas austeridades e, desse modo, satisfizeste plenamente a Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 24: Nós somos representantes da Suprema Personalidade de Deus, o criador de todo o universo, que traz em Sua mão o arco chamado Śārṅga. Fomos especificamente designados para levar-te ao mundo espiritual.

VERSO 25: É muito difícil alcançar Viṣṇuloka, mas, por tua austeridade, tu o conseguiste. Mesmo os grandes ṛṣis e semideuses não conseguem atingir essa posição. Simplesmente para ver a morada suprema [o planeta Viṣṇu], o Sol e a Lua e todos os demais planetas, estrelas, mansões lunares e sistemas solares a estão circungirando. Agora, por favor, vem conosco: és bem-vindo para ingressar ali.

VERSO 26: Querido rei Dhruva, nem teus antepassados, nem ninguém mais antes de ti alcançou esse planeta transcendental. O planeta conhecido como Viṣṇuloka, onde o Senhor Viṣṇu reside pessoalmente, é o mais elevado de todos. Ele é adorado pelos habitantes de todos os outros planetas dentro do universo. Por favor, vem conosco e vive ali eternamente.

VERSO 27: Ó imortal, este aeroplano singular foi enviado pela Suprema Personalidade de Deus, que é adorado com orações seletas e que é a principal de todas as entidades vivas. És inteiramente digno de embarcar em tal aeroplano.

VERSO 28: O grande sábio Maitreya continuou: Mahārāja Dhruva era muito querido pela Suprema Personalidade de Deus. Ao ouvir as doces palavras dos principais associados do Senhor no planeta Vaikuṇṭha, ele imediatamente tomou seu banho sagrado, vestiu-se com adornos adequados e executou seus deveres espirituais diários. Em seguida, ofereceu suas respeitosas reverências aos grandes sábios ali presentes e aceitou suas bênçãos.

VERSO 29: Antes de embarcar, Dhruva Mahārāja adorou o aeroplano, circundou-o e também ofereceu reverências aos associados de Viṣṇu. Neste ínterim, ele se tornou tão brilhante e luminoso como ouro derretido. Assim, ele estava completamente preparado para embarcar no aeroplano transcendental.

VERSO 30: Tentando embarcar no aeroplano transcendental, Dhruva Mahārāja viu a morte personificada se aproximar dele. Não se importando com a morte, contudo, aproveitou-se da oportunidade para colocar seus pés sobre a cabeça da morte e, assim, embarcou no aeroplano, que era grande como uma casa.

VERSO 31: Nessa altura, tambores e timbales ressoaram do céu, os principais Gandharvas se puseram a cantar e outros semideuses derramaram flores como torrentes de chuva sobre Dhruva Mahārāja.

VERSO 32: Dhruva estava sentado no aeroplano transcendental, prestes a partir, quando se lembrou de sua pobre mãe, Sunīti. Ele pensou consigo mesmo: “Como irei para o planeta Vaikuṇṭha, deixando minha pobre mãe para trás?”

VERSO 33: Lendo os pensamentos de Dhruva Mahārāja, os grandes associados de Vaikuṇṭhaloka, Nanda e Sunanda, mostraram-lhe que sua mãe, Sunīti, vinha vindo em outro aeroplano.

VERSO 34: Atravessando o espaço, Dhruva Mahārāja gradualmente viu todos os planetas do sistema solar, e, no caminho, viu todos os semideuses em seus aeroplanos lançando chuvas de flores sobre ele.

VERSO 35: Dhruva Mahārāja ultrapassou assim os sete sistemas planetários dos grandes sábios conhecidos como saptarṣis. Além daquela região, ele atingiu a situação transcendental de vida permanente no planeta onde vive o Senhor Viṣṇu.

VERSO 36: Os autorrefulgentes planetas Vaikuṇṭha, por cuja iluminação apenas todos os planetas luminosos dentro deste mundo material distribuem luz refletida, não podem ser alcançados por quem não é misericordioso com outras entidades vivas. Podem alcançar os planetas Vaikuṇṭha somente aqueles que constantemente se dedicam a atividades para o bem-estar de outras entidades vivas.

VERSO 37: Pessoas que são pacíficas, equânimes, limpas e purificadas, e que conhecem a arte de agradar todas as demais entidades vivas, mantêm amizade somente com devotos do Senhor – somente elas conseguem alcançar, com grande facilidade, a perfeição de voltar ao lar, voltar ao Supremo.

VERSO 38: Dessa maneira, Dhruva Mahārāja, que era plenamente consciente de Kṛṣṇa, o elevado filho de Mahārāja Uttānapāda, alcançou o topo dos três status de sistemas planetários.

VERSO 39: O santo Maitreya continuou: Meu querido Vidura, descendente de Kuru, assim como uma manada de touros circungira pela direita um mastro central, todos os astros dentro do céu universal circungiram incessantemente a morada de Dhruva Mahārāja com grande força e velocidade.

VERSO 40: Após observar as glórias de Dhruva Mahārāja, o grande sábio Nārada, tocando sua vīṇā, dirigiu-se à arena de sacrifícios dos Pracetās e, com muita felicidade, cantou os três versos seguintes.

VERSO 41: O grande sábio Nārada disse: Simplesmente pela influência de seu avanço espiritual e poderosa austeridade, Dhruva Mahārāja, o filho de Sunīti, a qual era devotada a seu esposo, adquiriu uma posição elevada impossível de ser alcançada inclusive pelos ditos vedantistas, ou seguidores estritos dos princípios védicos, isso para não falar de seres humanos comuns.

VERSO 42: O grande sábio Nārada continuou: Vede só como Dhruva Mahārāja, magoado com as palavras ásperas de sua madrasta, foi à floresta com apenas cinco anos de idade e, sob minha orientação, submeteu-se a austeridades. Embora a Suprema Personalidade de Deus seja inconquistável, Dhruva Mahārāja conquistou-O com as qualificações específicas possuídas pelos devotos do Senhor.

VERSO 43: Dhruva Mahārāja atingiu uma posição elevada com apenas cinco ou seis anos de idade, após se submeter a austeridades por seis meses. Mas, vede só: um grande kṣatriya não pode alcançar tal posição mesmo após submeter-se a austeridades por muitos e muitos anos.

VERSO 44: O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, tudo o que me perguntaste a respeito da grande reputação do caráter de Dhruva Mahārāja eu te expliquei detalhadamente. Grandes pessoas santas e devotos gostam de ouvir sobre Dhruva Mahārāja.

VERSO 45: Ouvindo a narração acerca de Dhruva Mahārāja pode-se satisfazer desejos de riqueza, de reputação e de maior duração de vida. Ela é tão auspiciosa que, simplesmente ouvindo sobre Dhruva, é possível até mesmo ir a um planeta celestial ou atingir Dhruvaloka, que foi alcançado por Dhruva Mahārāja. Os semideuses também ficam satisfeitos porque esta narração é muito gloriosa, e é tão poderosa que pode neutralizar todos os resultados de ações pecaminosas.

VERSO 46: Qualquer pessoa que ouça a narração acerca de Dhruva Mahārāja e que repetidamente se esforce com fé e devoção por entender seu caráter puro, alcança a plataforma devocional pura e executa serviço devocional puro. Mediante tais atividades, pode-se atenuar as três espécies de condições dolorosas da vida material.

VERSO 47: Qualquer pessoa que ouça esta narração acerca de Dhruva Mahārāja adquire qualidades elevadas como ele. Para qualquer pessoa que deseje grandeza, bravura ou influência, eis o processo pelo qual as adquirir, e, para homens meditativos que desejem adoração, aqui estão os meios adequados.

VERSO 48: O grande sábio Maitreya recomendou: Deve-se cantar sobre o caráter e as atividades de Dhruva Mahārāja de manhã e à noite, com grande atenção e cuidado, em uma sociedade de brāhmaṇas ou outras pessoas duas vezes nascidas.

VERSOS 49-50: Pessoas que se refugiaram inteiramente aos pés de lótus do Senhor devem recitar esta narração de Dhruva Mahārāja sem receber alguma remuneração. Especificamente, recomenda-se a recitação em dias de lua cheia ou de lua nova, no dia após o Ekādaśī, no aparecimento da estrela Śravaṇa, no fim de um tithi ou ocasião de Vyatīpāta em particular, no fim do mês ou aos domingos. Tal recitação deve evidentemente ser executada perante uma audiência favorável. Quando se executa a recitação dessa maneira, sem motivos profissionais, o recitador e a audiência tornam-se perfeitos.

VERSO 51: A narração da história de Dhruva Mahārāja é um conhecimento sublime para se alcançar a imortalidade. Pessoas ignorantes da Verdade Absoluta podem ser conduzidas ao caminho da verdade. Aqueles que por bondade transcendental assumem a responsabilidade de se tornarem mestres protetores das pobres entidades vivas automaticamente conquistam o interesse e as bênçãos dos semideuses.

VERSO 52: As atividades transcendentais de Dhruva Mahārāja são famosíssimas em todo o mundo, e são puríssimas. Na infância, Dhruva Mahārāja rejeitou todas as espécies de brinquedos e divertimentos, deixou a proteção de sua mãe e refugiou-se seriamente na Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu. Meu querido Vidura, aqui concluo, portanto, esta narração, pois a descrevi a ti com todos os seus detalhes.

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