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VERSO 35

āplutyāvabhṛthaṁ yatra
gaṅgā yamunayānvitā
virajenātmanā sarve
svaṁ svaṁ dhāma yayus tataḥ

āplutya — tomando banho; avabhṛtham — o banho que se toma após a execução de sacrifícios; yatra — onde; gaṅgā — o rio Ganges; yamunayā — com o rio Yamunā; anvitā — misturado; virajena — sem infecção; ātmanā — pela mente; sarve — todos; svam svam — suas respectivas; dhāma — moradas; yayuḥ — foram; tataḥ — dali.

Meu querido Vidura, portador de arcos e flechas, todos os semideuses que executavam o sacrifício tomaram seu banho na confluência do Ganges com o Yamunā após completarem a realização do yajña. Esse banho chama-se avabhṛtha-snāna. Após purificarem assim seus corações, partiram para suas respectivas moradas.

SIGNIFICADO—Depois que o senhor Śiva e, antes disso, Dakṣa, deixaram a arena de sacrifício, o sacrifício não foi interrompido; os sábios continuaram-no por muitos anos a fim de satisfazer o Senhor Supremo. O sacrifício não foi destruído pela ausência de Śiva e Dakṣa, e os sábios prosseguiram com suas atividades. Em outras palavras, pode-se supor que, se alguém não adora os semideuses, mesmo que sejam do nível do senhor Śiva e Brahmā, de qualquer modo pode satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Confirma-se isso também na Bhagavad-gītā (7.20). Kāmais tais tair hṛta-jñānāḥ prapadyante ’nya-devatāḥ. Pessoas que são impelidas por luxúria e desejo recorrem aos semideuses para obter algum benefício material. A Bhagavad-gītā usa duas palavras muito específicas, nāsti buddhiḥ, significando “pessoas que perderam sua razão ou inteligência”. Somente pessoas assim recorrem a semideuses e desejam obter benefícios materiais deles. Evidentemente, isso não quer dizer que não devamos mostrar respeito pelos semideuses; porém, não há necessidade de adorá-los. Uma pessoa que é honesta pode ser fiel ao governo, mas não precisa subornar os servos do governo. O suborno é ilegal; não se deve subornar os servos do governo, mas isso não significa que não se deva respeitá-los. Analogamente, quem se ocupa em transcendental serviço amoroso ao Senhor Supremo não precisa adorar nenhum semideus, nem tem tendência alguma de mostrar desrespeito aos semideuses. Em outra passagem da Bhagavad-gītā (9.23), afirma-se: ye ’py anya-devatā-bhaktā yajante śraddhayānvitāḥ. O Senhor diz que qualquer pessoa que adore os semideuses também O está adorando, mas está adorando avidhi-pūrvakam, o que significa “sem seguir os princípios reguladores”. O princípio regulador consiste em adorar a Suprema Personalidade de Deus. A adoração aos semideuses pode ser indiretamente adoração à Personalidade de Deus, mas não é conforme a regulação. Adorando o Senhor Supremo, serve-se automaticamente a todos os semideuses por eles serem partes integrantes do todo. Se alguém rega a raiz de uma árvore, todas as partes da árvore, tais como as folhas e os galhos, ficam naturalmente satisfeitas. Se alguém alimenta o estômago, todos os membros do corpo – as mãos, as pernas, os dedos etc. – ficam nutridos. Assim, adorando a Suprema Personalidade de Deus, pode-se satisfazer todos os semideuses, porém, adorando todos os semideuses, não se adora completamente o Senhor Supremo. Portanto, a adoração aos semideuses é irregular, e desrespeita os preceitos escriturais.

Nesta era de Kali, é praticamente impossível executar deva-yajña, ou sacrifícios aos semideuses. Assim sendo, o Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.32) recomenda o saṅkīrtana-yajña. Yajñaiḥ saṅkīrtana-prāyair yajanti hi sumedhasaḥ: “Nesta era, a pessoa inteligente realiza o objetivo de toda espécie de yajñas simplesmente cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare.” Tasmin tuṣṭe jagat tuṣṭaḥ: “Quando o Senhor Viṣṇu fica satisfeito, todos os semideuses, que são partes integrantes do Senhor Supremo, ficam satisfeitos.”

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quarto canto, segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Dakṣa Amaldiçoa o Senhor Śiva”.

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