VERSO 28
ātmānam indriyārthaṁ ca
paraṁ yad ubhayor api
saty āśaya upādhau vai
pumān paśyati nānyadā
ātmānam — a alma; indriya-artham — para o gozo dos sentidos; ca — e; param — transcendental; yat — isto; ubhayoḥ — ambos; api — decerto; sati — estando situada; āśaye — desejos materiais; upādhau — designação; vai — decerto; pumān — a pessoa; paśyati — vê; na anyadā — e não de outro modo.
Quando a alma existe para o gozo dos sentidos, ela cria diferentes desejos, razão pela qual se sujeita a designações. Porém, quando está na posição transcendental, já não se interessa por nada exceto a satisfação dos desejos do Senhor.
SIGNIFICADO—Uma alma espiritual encoberta por desejos materiais também é considerada como estando encoberta por designações pertencentes a uma espécie de corpo em particular. Assim, ela se considera animal, homem, semideus, pássaro etc. De muitas maneiras, ela é influenciada pela falsa identificação causada pelo falso egoísmo e, estando coberta de desejos materiais ilusórios, faz distinções entre matéria e espírito. Para alguém livre de semelhantes distinções, a diferença entre matéria e espírito deixa de existir. Nesse momento, o espírito é o único fator predominante. Enquanto permanecermos encobertos por desejos materiais, nós nos consideraremos os senhores ou desfrutadores. Assim, agimos em troca de gozo dos sentidos e sujeitamo-nos às dores materiais, felicidade e aflição. Porém, ao libertarmo-nos de semelhante conceito de vida, deixamos de estar sujeitos a designações e encaramos tudo como espiritual, como tendo relação com o Senhor Supremo. Śrīla Rūpa Gosvāmī explica em seu Bhakti-rasāmṛta-sindhu (1.2.255):
anāsaktasya viṣayān
yathārham upayuñjataḥ
nirbandhaḥ kṛṣṇa-sambandhe
yuktaṁ vairāgyam ucyate
A pessoa liberada não tem apego a nada material, tampouco tem apego ao gozo dos sentidos. Ela entende que tudo tem uma relação com a Suprema Personalidade de Deus e que se deve ocupar tudo a serviço do Senhor. Portanto, ela não abandona nada. Está fora de cogitação renunciar a algo porque o paramahaṁsa sabe como ocupar tudo a serviço do Senhor. Originalmente, tudo é espiritual; nada é material. O Caitanya-caritāmṛta (Madhya 8.274) também explica que o mahā-bhāgavata, o devoto altamente avançado, não tem uma visão material:
sthāvara-jaṅgama dekhe, nā dekhe tāra mūrti
sarvatra haya nija iṣṭa-deva-sphūrti
Apesar de ver árvores, montanhas e outras entidades vivas movendo-se de um lado a outro, ele vê tudo como criação do Senhor Supremo e, com referência a esse contexto, vê apenas o criador, e não o criado. Em outras palavras, ele deixa de distinguir entre o criado e o criador. Ele vê apenas a Suprema Personalidade de Deus em tudo. Ele vê Kṛṣṇa em tudo e tudo em Kṛṣṇa. Isto é unidade.