VERSO 22
evaṁ kṛpaṇayā buddhyā
śocantam atad-arhaṇam
grahītuṁ kṛta-dhīr enaṁ
bhaya-nāmābhyapadyata
evam — assim; kṛpaṇayā — com mesquinha; buddhyā — inteligência; śocantam — lamentando-se; a-tat-arhaṇam — pelo que ele não devia lamentar; grahītum — para prender; kṛta-dhīḥ — o determinado rei dos Yavanas; enam — a ele; bhaya-nāmā — cujo nome era Medo; abhyapadyata — apareceu ali de imediato.
Muito embora o rei Purañjana não precisasse se lamentar pelo destino de sua esposa e de seus filhos, ele o fez em virtude de sua inteligência mesquinha. Entrementes, Yavana-rāja, cujo nome era o próprio medo, imediatamente se aproximou para prendê-lo.
SIGNIFICADO—Os tolos não sabem que toda alma individual é responsável por suas próprias ações e reações na vida. Enquanto a entidade viva sob a forma de uma criança ou menino é inocente, é dever do pai e da mãe conduzirem-na a uma compreensão adequada dos valores da vida. Quando a criança cresce, cabe a ela cumprir os deveres da vida corretamente. O pai, após sua morte, não pode ajudar o filho. Um pai pode deixar alguma herança para a manutenção imediata de seus filhos, mas não deve se absorver excessivamente em pensar em como sua família sobreviverá após sua morte. Essa é a doença da alma condicionada. Ela não apenas comete atividades pecaminosas para seu próprio gozo dos sentidos, mas também acumula grande riqueza para deixar aos seus filhos de modo que eles também possam continuar com extravagâncias no gozo dos sentidos.
De qualquer modo, todos temem a morte, daí a morte se chamar bhaya, ou medo. Embora o rei Purañjana estivesse pensando em sua esposa e filhos, a morte não esperou por ele. A morte não espera por ninguém; ela cumpre sem demora o seu dever. Como a função da morte é levar a entidade viva sem hesitação, ela é a compreensão final de Deus para os ateístas, que desperdiçam sua vida pensando no país, na sociedade e nos parentes, negligenciando a consciência de Deus. Neste verso, a palavra atad-arhaṇam é muito significativa, pois quer dizer que ninguém deve ocupar-se demasiadamente em atividades beneficentes para seus membros familiares, compatriotas, sociedade ou comunidade. Nada disso ajudará alguém a avançar no âmbito espiritual. Infelizmente, na sociedade moderna, os homens ditos educados não fazem ideia do que é progresso espiritual. Embora sob a forma humana de vida tenham a oportunidade de fazer progresso espiritual, eles permanecem avaros. Usam suas vidas de maneira inadequada e simplesmente as desperdiçam, pensando no bem-estar material de seus parentes, compatriotas, sociedade e assim por diante. Nosso verdadeiro dever é aprender como vencer a morte. Na Bhagavad-gītā (4.9), o Senhor Kṛṣṇa estabelece o processo para se derrotar a morte:
janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna
“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.”
Após abandonar este corpo, quem é plenamente consciente de Kṛṣṇa não recebe outro corpo material, senão que volta ao lar, volta ao Supremo. Todos devem procurar atingir essa perfeição. Infelizmente, ao invés de fazê-lo, as pessoas estão absortas em pensamentos de sociedade, amizade, amor e parentes. Este movimento para a consciência de Kṛṣṇa, contudo, está educando as pessoas em todo o mundo e informando-as sobre como superar a morte. Hariṁ vinā na mṛtiṁ taranti: não é possível vencer a morte sem se refugiar na Suprema Personalidade de Deus.