VERSO 16
etat padaṁ taj jagad-ātmanaḥ paraṁ
sakṛd vibhātaṁ savitur yathā prabhā
yathāsavo jāgrati supta-śaktayo
dravya-kriyā-jñāna-bhidā-bhramātyayaḥ
etat — esta manifestação cósmica; padam — lugar de habitação; tat — isto; jagat-ātmanaḥ — da Suprema Personalidade de Deus; param — transcendental; sakṛt — às vezes; vibhātam — manifesto; savituḥ — do Sol; yathā — assim como; prabhā — brilho do Sol, yathā — assim como; asavaḥ — os sentidos; jāgrati — manifestam-se; supta — inativas; śaktayaḥ — energias; dravya — elementos físicos; kriyā — atividades; jñāna — conhecimento; bhidā-bhrama — diferenças causadas por equívocos; atyayaḥ — desaparecendo.
Assim como o brilho do Sol não é diferente do Sol, a manifestação cósmica também não é diferente da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, a Personalidade Suprema é onipenetrante dentro desta criação material. Quando os sentidos estão ativos, eles parecem ser partes integrantes do corpo, mas, quando o corpo está adormecido, suas atividades são imanifestas. De modo semelhante, toda a criação cósmica parece diferente e, ainda assim, não-diferente da Pessoa Suprema.
SIGNIFICADO—Este verso confirma a filosofia de acintya-bhedābheda-tattva, “simultaneamente igual e diferente”, proposta pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. A Suprema Personalidade de Deus é simultaneamente diferente e não-diferente dessa manifestação cósmica. Em um verso anterior, explicou-se que a Suprema Personalidade de Deus, como a raiz de uma árvore, é a causa original de tudo. Também se explicou como a Suprema Personalidade de Deus é onipenetrante. Ele está presente dentro de tudo nesta manifestação material. Uma vez que a energia do Senhor Supremo não é diferente dEle, esta manifestação cósmica material também não é diferente dEle, embora pareça diferente. Embora o brilho solar não seja diferente do próprio Sol, simultaneamente, ele também é diferente. Alguém pode “tomar banho de Sol”, mas isso não quer dizer que essa pessoa está no Sol em si. Aqueles que vivem neste mundo material vivem nos raios do corpo da Suprema Personalidade de Deus, mas não podem vê-lO pessoalmente nas condições materiais.
Neste verso, a palavra padam indica o lugar onde reside a Suprema Personalidade de Deus. Como confirma a Īśopaniṣad, īśāvāsyam idaṁ sarvam. Pode ser que o proprietário de uma casa viva em um aposento da casa, mas toda a casa lhe pertence. Pode ser que o rei viva em um aposento no palácio de Buckingham, mas todo o palácio é considerado sua propriedade. Não é necessário que o rei more em todos os aposentos do palácio para que eles sejam seus. Ele pode estar ausente fisicamente dos aposentos, mas, de qualquer modo, todo o palácio é tido como seu domicílio real.
O brilho do Sol é luz, o globo solar em si é luz e o deus do Sol também é luz. Contudo, o brilho do Sol não é idêntico ao deus do Sol, Vivasvān. Este é o significado de simultaneamente igual e diferente (acintya-bhedābheda-tattva). Todos os planetas repousam no brilho do Sol e, devido ao calor do Sol, eles giram em suas órbitas. Em todo e cada um dos planetas, as árvores e plantas crescem e mudam de cor devido ao brilho do Sol. Por ser os raios solares, o brilho do Sol não é diferente do Sol. Do mesmo modo, repousando no brilho do Sol, nenhum planeta é diferente do Sol. Todo o mundo material depende inteiramente do Sol, sendo produzido pelo Sol, e a causa, o Sol, está presente em seus efeitos. Do mesmo modo, Kṛṣṇa é a causa de todas as causas, e os efeitos são permeados pela causa original. Toda a manifestação cósmica deve ser considerada como a energia expandida do Senhor Supremo.
Ao dormirmos, nossos sentidos ficam inativos, mas isso não significa que nossos sentidos estão ausentes. Ao acordarmos, nossos sentidos tornam-se ativos mais uma vez. Analogamente, esta criação cósmica é ora manifesta, ora imanifesta, como afirma a Bhagavad-gītā (bhūtvā bhūtvā pralīyate). Quando a manifestação cósmica é dissolvida, ela fica, em certo nível, como se estivesse adormecida, em estado inativo. Quer a manifestação cósmica esteja ativa, quer esteja inativa, a energia do Senhor Supremo sempre existe. Assim, os termos “aparecimento” e “desaparecimento” aplicam-se apenas à manifestação cósmica.