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VERSO 21

mā vaḥ padavyaḥ pitar asmad-āsthitā
yā yajña-śālāsu na dhūma-vartmabhiḥ
tad-anna-tṛptair asu-bhṛdbhir īḍitā
avyakta-liṅgā avadhūta-sevitāḥ

— não são; vaḥ — tuas; padavyaḥ — opulências; pitaḥ — ό pai; asmat-āsthitāḥ — possuídas por nós; yāḥ — as quais (opulências); yajña-śālāsu — no fogo sacrificatório; na — não; dhūma-vartmabhiḥ — pelo caminho dos sacrifícios; tat-anna-tṛptaiḥ — satisfeitos com os alimentos do sacrifício; asu-bhṛdbhiḥ — satisfazendo as necessidades do corpo; īḍitāḥ — louvado; avyakta-ligāḥ — cuja causa é imanifesta; avadhūta-sevitāḥ — conseguido pelas almas autorrealizadas.

Meu querido pai, a opulência que possuímos não pode ser imaginada nem por ti nem por teus aduladores, pois pessoas que se dedicam a atividades fruitivas, executando grandes sacrifícios, estão interessadas em satisfazer as necessidades de seus corpos, comendo alimentos oferecidos em sacrifício. Podemos manifestar nossas opulências simplesmente desejando fazê-lo. Somente grandes personalidades, que são almas renunciadas, autorrealizadas, podem conseguir isto.

SIGNIFICADO—O pai de Satī tinha a impressão de que era elevado tanto em prestígio quanto em opulência e que havia dado sua filha a uma pessoa que era não somente pobre, mas também desprovida de toda cultura. Seu pai podia estar pensando que, embora ela fosse uma mulher casta, muito apegada ao esposo, este estava em condição deplorável. Para neutralizar tais pensamentos, Satī disse que a opulência que seu esposo possuía não podia ser compreendida por pessoas materialistas como Dakṣa e seus seguidores, que eram aduladores e se dedicavam a atividades fruitivas. A posição de seu esposo era diferente. Ele possuía todas as opulências, mas não gostava de exibi-las. Portanto, tais opulências chamam-se avyakta, ou imanifestas. Todavia, se necessário, simplesmente desejando, o senhor Śiva pode mostrar suas maravilhosas opulências, e tal evento é predito aqui, pois ocorreria em breve. A opulência que o senhor Śiva possui é desfrutável na renúncia e no amor a Deus, não em exibição material de métodos de gozo dos sentidos. Tais opulências são possuídas por personalidades como os Kumāras, Nārada e o senhor Śiva, e não por outros.

Neste verso, condenam-se os realizadores de rituais védicos. Eles são descritos aqui como dhūma-vartmabhiḥ, aqueles que se mantêm com os restos de alimentos sacrificatórios. Há duas espécies de alimentos oferecidos em sacrifício. Uma espécie é o alimento oferecido em sacrifícios ritualísticos e fruitivos, e a outra, a melhor, é o alimento oferecido a Viṣṇu. Embora em todos os casos Viṣṇu seja a Deidade principal no altar de sacrifício, os realizadores de rituais fruitivos visam a satisfazer vários semideuses para obter em troca alguma prosperidade material. Verdadeiro sacrifício, contudo, é satisfazer o Senhor Viṣṇu, e os restos desses sacrifícios são benéficos para o avanço em serviço devocional. O processo de elevação executando-se sacrifícios além daqueles destinados a Viṣṇu é muito vagaroso, daí ser condenado neste verso. Viśvanātha Cakravartī descreve os realizadores de tais rituais como corvos porque os corvos se deleitam em comer os restos de alimentos atirados no lixo. Todos os brāhmaṇas presentes no sacrifício também foram condenados por Satī.

Pudessem ou não o rei Dakṣa e seus aduladores entender a posição do senhor Śiva, Satī queria convencer seu pai de que ele não devia achar que seu esposo era desprovido de opulência. Satī, sendo a devotada esposa do senhor Śiva, oferece todas as espécies de opulências materiais aos adoradores do senhor Śiva. Esse fato é explicado no Śrīmad-Bhāgavatam, no décimo canto. Os adoradores do senhor Śiva às vezes parecem mais opulentos do que os adoradores do Senhor Viṣṇu porque Durgā, ou Satī, sendo a superintendente encarregada dos afazeres materiais, pode oferecer todas as opulências materiais aos adoradores do senhor Śiva para glorificar seu esposo, ao passo que os adoradores de Viṣṇu destinam-se à elevação espiritual, de modo que às vezes se observa que a opulência material deles diminui. Esses pontos são muito bem discutidos no décimo canto.

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