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VERSO 13

dakṣa uvāca
bhūyān anugraha aho bhavatā kṛto me
daṇḍas tvayā mayi bhṛto yad api pralabdhaḥ
na brahma-bandhuṣu ca vāṁ bhagavann avajñā
tubhyaṁ hareś ca kuta eva dhṛta-vrateṣu

dakṣaḥ — rei Dakṣa; uvāca — disse; bhūyān — muito grande; anugrahaḥ — favor; aho — ai de mim; bhavatā — por ti; kṛtaḥ — feito; me — a mim; daṇḍaḥ — punição; tvayā — por ti; mayi — a mim; bhṛtaḥ — feita; yat api — embora; pralabdhaḥ — derrotado; na — nem; brahma-bandhuṣu — a um brāhmaṇa desqualificado; ca — também; vām — ambos; bhagavan — meu senhor; avajñā — negligência; tubhyam — de ti; hareḥ ca — do Senhor Viṣṇu; kutaḥ — onde; eva — certamente; dhṛta-vrateṣu — alguém ocupado em realização de sacrifício.

O rei Dakṣa disse: Meu querido senhor Śiva, cometi uma grande ofensa contra ti, mas és tão bondoso que, ao invés de retirar tua misericórdia, fizeste-me um grande favor punindo-me. Tu e o Senhor Viṣṇu nunca negligenciais ninguém, nem sequer brāhmaṇas inúteis e desqualificados. Por que, então, deveríeis negligenciar a mim, que estou ocupado em executar sacrifícios?

SIGNIFICADO—Embora se sentisse derrotado, Dakṣa sabia que sua punição fora simplesmente uma grande misericórdia do senhor Śiva. Lembrou que o senhor Śiva e o Senhor Viṣṇu nunca negligenciam os brāhmaṇas, mesmo que os brāhmaṇas às vezes sejam desqualificados. Segundo a civilização védica, um descendente de família brāhmaṇa jamais deve ser punido severamente. Isso foi exemplificado no tratamento de Arjuna a Aśvatthāmā. Aśvatthāmā era filho de um grande brāhmaṇa, Droṇācārya, e, apesar de ter cometido a grande ofensa de matar todos os filhos adormecidos dos Pāṇḍavas, motivo pelo qual foi condenado até mesmo pelo Senhor Kṛṣṇa, Arjuna o perdoou, não o matando por ele ser filho de um brāhmaṇa. A palavra brahma-bandhuṣu aqui usada é significativa. Brahma-bandhu significa alguém que nasce de pai brāhmaṇa, mas cujas atividades não estão ao nível dos brāhmaṇas. Uma pessoa assim não é brāhmaṇa, mas sim brahma-bandhu. Dakṣa provou ser um brahma-bandhu. Ele nascera de um grande pai brāhmaṇa, o senhor Brahmā, mas o jeito como ele tratou o senhor Śiva não foi exatamente bramânico; portanto, ele admitiu não ser um brāhmaṇa perfeito. O senhor Śiva e o Senhor Viṣṇu, entretanto, são afetuosos mesmo com um brāhmaṇa imperfeito. O senhor Śiva puniu Dakṣa, não como alguém faz com seu inimigo; pelo contrário, ele puniu Dakṣa simplesmente para fazê-lo voltar à razão, de modo que ele viesse a entender que agira erroneamente. Dakṣa entendeu isso e reconheceu a grande misericórdia do Senhor Kṛṣṇa e do senhor Śiva para com os brāhmaṇas caídos, incluindo ele mesmo. Embora fosse caído, ele fizera o voto de executar o sacrifício, como é dever dos brāhmaṇas, e assim ele começou suas orações ao senhor Śiva.

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