VERSO 23
nānyaṁ tataḥ padma-palāśa-locanād
duḥkha-cchidaṁ te mṛgayāmi kañcana
yo mṛgyate hasta-gṛhīta-padmayā
śriyetarair aṅga vimṛgyamāṇayā
na anyam — não outros; tataḥ — portanto; padma-palāśa-locanāt — da Suprema Personalidade de Deus de olhos de lótus; duḥkha-chidam — aquele que pode mitigar as dificuldades alheias; te — tuas; mṛgayāmi — estou buscando; kañcana — ninguém mais; yaḥ — quem; mṛgyate — busca; hasta-gṛhīta-padmayā — tendo uma flor de lótus na mão; śriyā — a deusa da fortuna; itaraiḥ — por outros; aṅga — meu querido filho; vimṛgyamāṇayā — aquele que é adorado.
Meu querido Dhruva, quanto a mim, não encontro ninguém que possa mitigar tua aflição além da Suprema Personalidade de Deus, cujos olhos são como pétalas de lótus. Muitos semideuses tais como o senhor Brahmā buscam o prazer da deusa da fortuna, mas a própria deusa da fortuna, com uma flor de lótus em sua mão, está sempre pronta a prestar serviço ao Senhor Supremo.
SIGNIFICADO—Sunīti ressalta nesta passagem que a bênção recebida da Suprema Personalidade de Deus e a recebida dos semideuses não estão no mesmo nível. Pessoas tolas dizem que, independentemente de quem seja adorado, o mesmo resultado será obtido, mas, na verdade, isso não é assim. Na Bhagavad-gītā, também se afirma que as bênçãos recebidas dos semideuses são todas temporárias e se destinam aos menos inteligentes. Em outras palavras, como os semideuses são todos almas materialmente condicionadas, embora estejam situados em posições muito elevadas, suas bênçãos não podem ser permanentes. Bênção permanente é a bênção espiritual, uma vez que a alma espiritual é eterna. Também se diz na Bhagavad-gītā que somente pessoas que perderam sua inteligência se põem a adorar os semideuses. Portanto, Sunīti disse a seu filho que ele não deveria buscar a misericórdia dos semideuses, mas deveria aproximar-se diretamente da Suprema Personalidade de Deus para mitigar seu sofrimento.
As opulências materiais são controladas pela Suprema Personalidade de Deus através de Suas diferentes potências, e especificamente da deusa da fortuna. Portanto, aqueles que andam atrás de opulências materiais buscam o prazer ou a misericórdia da deusa da fortuna. Mesmo os semideuses altamente situados adoram a deusa da fortuna, mas a deusa da fortuna, a própria Mahā-Lakṣmī, vive buscando o prazer da Suprema Personalidade de Deus. Consequentemente, qualquer pessoa que adote a adoração ao Senhor Supremo recebe automaticamente as bênçãos da deusa da fortuna. Nesta fase de sua vida, Dhruva Mahārāja buscava opulências materiais, e sua mãe o aconselhou corretamente, dizendo que, mesmo em busca de opulências materiais, é melhor adorar, não os semideuses, mas o Senhor Supremo.
Embora um devoto puro não busque bênçãos do Senhor Supremo em troca de avanço material, afirma-se na Bhagavad-gītā que as pessoas piedosas recorrem ao Senhor mesmo em busca de bênçãos materiais. Uma pessoa que recorre à Suprema Personalidade de Deus em troca de ganho material gradualmente se purifica na associação com o Senhor Supremo. Assim, ela se liberta de todos os desejos materiais e se eleva à plataforma de vida espiritual. A não ser que se eleve à plataforma espiritual, não lhe é possível transcender completamente toda a contaminação material.
Sunīti, a mãe de Dhruva, era uma mulher perspicaz, daí ter aconselhado seu filho a adorar o Senhor Supremo e ninguém mais. Descreve-se aqui o Senhor como aquele que tem olhos de lótus (padma-palāśa-locanāt). Quando uma pessoa está fatigada, caso veja uma flor de lótus, toda a sua fadiga pode imediatamente reduzir-se a zero. De modo semelhante, quando uma pessoa aflita vê o rosto de lótus da Suprema Personalidade de Deus, imediatamente todo o seu pesar é reduzido. A flor de lótus também é um símbolo na mão do Senhor Viṣṇu, bem como na mão da deusa da fortuna. Os adoradores da deusa da fortuna e do Senhor Viṣṇu simultaneamente são decerto muito opulentos em todos os sentidos, mesmo na vida material. O Senhor às vezes é descrito como śiva-viriñci-nutam, o que significa que o senhor Śiva e o senhor Brahmā também oferecem suas respeitosas reverências aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa.