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VERSO 36

athāpi me ’vinītasya
kṣāttraṁ ghoram upeyuṣaḥ
surucyā durvaco-bāṇair
na bhinne śrayate hṛdi

atha api — portanto; me — meu; avinītasya — não muito submisso; kṣāttram — o espírito de um kṣatriya; ghoram — intolerante; upeyuṣaḥ — alcançado; surucyāḥ — da rainha Suruci; durvacaḥ — palavras ásperas; bāṇaiḥ — pelas flechas; na — não; bhinne — sendo trespassado; śrayate — penetram em; hṛdi — o coração.

Meu querido senhor, sou muito insolente por não aceitar vossas instruções, mas a culpa não é minha. Devo isso ao fato de ter nascido em família kṣatriya. Minha madrasta, Suruci, trespassou-me o coração com suas palavras ásperas. Portanto, vossas valiosas instruções não penetram em meu coração.

SIGNIFICADO­—Declara-se que o coração ou a mente são como um pote de barro: uma vez quebrado, não pode ser consertado de modo algum. Dhruva Mahārāja deu este exemplo a Nārada Muni. Ele disse que seu coração, tendo sido trespassado pelas flechas das palavras ásperas de sua madrasta, sentia-se tão quebrado que nada parecia valioso além de seu desejo de revidar o insulto dela. Sua madrasta dissera que, como ele nascera do ventre de Sunīti, uma rainha desprezada de Mahārāja Uttānapāda, Dhruva Mahārāja não era capaz sequer de sentar-se no trono ou no colo de seu pai. Em outras palavras, segundo sua madrasta, ele não poderia ser declarado rei. A determinação de Dhruva Mahārāja, portanto, era de tornar-se rei de um planeta ainda mais grandioso do que o possuído pelo senhor Brahmā, o maior de todos os semideuses.

Dhruva Mahārāja indiretamente informou ao grande sábio Nārada que existem quatro tipos de espíritos humanos – o espírito bramânico, o espírito kṣatriya, o espírito vaiśya e o espírito śūdra. O espírito de uma casta não é aplicável aos membros de outra. O espírito filosófico enunciado por Nārada Muni podia ser apropriado para uma pessoa de espírito bramânico, mas não era apropriado para um kṣatriya. Dhruva francamente admitiu que carecia de humildade bramânica e, portanto, era incapaz de aceitar a filosofia de Nārada Muni.

As afirmações de Dhruva Mahārāja indicam que, a menos que uma criança seja treinada de acordo com sua tendência, não há possibilidades de ela desenvolver seu espírito particular. Era dever do mestre espiritual ou professor observar o movimento psicológico de um menino em particular e, dessa maneira, treiná-lo num dever ocupacional específico. Dhruva Mahārāja, já tendo sido treinado dentro do espírito kṣatriya, não aceitaria a filosofia bramânica.

No Ocidente, temos experiência prática desta incompatibilidade dos temperamentos bramânico e de kṣatriya. Os rapazes americanos, que simplesmente foram treinados como śūdras, não estão aptos, de modo algum, a lutar na guerra. Portanto, quando são chamados a alistar-se no exército, eles se recusam porque não têm espírito kṣatriya. Esta é uma causa de grande insatisfação na sociedade. O fato de esses rapazes não terem espírito kṣatriya não significa que recebam treinamento para adquirir qualidades bramânicas; eles são treinados como śūdras e, assim, frustrados, estão se tornando hippies. Contudo, logo que ingressam no movimento para a consciência de Kṛṣṇa, recém-iniciado no Ocidente, eles são treinados para adquirir qualificações bramânicas, muito embora tenham caído às condições mais baixas como śūdras.

Em outras palavras, uma vez que o movimento para a consciência de Kṛṣṇa é aberto a todos, as pessoas em geral podem obter as qualificações bramânicas. É disso que mais se precisa no momento atual, pois agora realmente não há brāhmaṇas ou kṣatriyas, mas somente vaiśyas e, na maioria dos casos, śūdras. A classificação da sociedade em brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras é muito científica. No corpo social humano, os brāhmaṇas são considerados a cabeça, os kṣatriyas são os braços, os vaiśyas o estômago, e os śūdras as pernas. No momento atual, o corpo tem pernas e estômago, mas não tem braços nem cabeça, daí a sociedade estar confusa. É necessário restabelecer as qualificações bramânicas a fim de elevar a sociedade humana caída ao padrão superior de consciência espiritual.

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