VERSO 36
maitreya uvāca
na vai mukundasya padāravindayo
rajo-juṣas tāta bhavādṛśā janāḥ
vāñchanti tad-dāsyam ṛte ’rtham ātmano
yadṛcchayā labdha-manaḥ-samṛddhayaḥ
maitreyaḥ uvāca — o grande sábio Maitreya continuou; na — jamais; vai — certamente; mukundasya — do Senhor, que pode dar a liberação; pada-aravindayoḥ — dos pés de lótus; rajaḥ-juṣaḥ — pessoas que estão ávidas por saborear a poeira; tāta — meu querido Vidura; bhavādṛśāḥ — como tu; janāḥ — pessoas; vāñchanti — desejam; tat — Sua; dāsyam — servidão; ṛte — sem; artham — interesse; ātmanaḥ — para elas mesmas; yadṛcchayā — automaticamente; labdha — pelo que se alcança; manaḥ-samṛddhayaḥ — considerando-se muito ricas.
O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, pessoas como tu, que são devotas puras dos pés de lótus de Mukunda [a Suprema Personalidade de Deus, que pode oferecer a liberação] e que vivem apegadas ao mel de Seus pés de lótus, estão sempre satisfeitas servindo aos pés de lótus do Senhor. Em qualquer condição de vida, tais pessoas permanecem satisfeitas e, deste modo, jamais pedem prosperidade material ao Senhor.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā, o Senhor diz que é o desfrutador supremo, o proprietário supremo de toda e qualquer coisa dentro desta criação, e o amigo supremo de todos. Quem sabe dessas coisas perfeitamente está sempre satisfeito. O devoto puro jamais anseia por alguma espécie de prosperidade material. Os karmīs, contudo, ou mesmo os jñānīs e os yogīs, sempre se esforçam por sua própria felicidade. Os karmīs trabalham dia e noite para melhorar sua condição econômica, os jñānīs submetem-se a rigorosas austeridades a fim de obter a liberação, e os yogīs também se submetem a rigorosas austeridades, praticando o sistema de yoga em troca da consecução de poderes místicos maravilhosos. O devoto, entretanto, não está interessado em semelhantes atividades – ele não quer poderes místicos, nem liberação, nem prosperidade material. Ele se contenta com qualquer condição de vida, contanto que esteja constantemente ocupado no serviço ao Senhor. Os pés do Senhor são comparados ao lótus, no qual há poeira açafroada. O devoto vive bebendo o mel dos pés de lótus do Senhor. A menos que nos livremos de todos os desejos materiais, não podemos realmente saborear o mel dos pés de lótus do Senhor. É preciso que desempenhemos nossos deveres devocionais sem nos deixar perturbar pelo ir e vir das circunstâncias materiais. Essa ausência de desejo de prosperidade material chama-se niṣkāma. Não se deve equivocadamente pensar que niṣkāma quer dizer renunciar a todos os desejos. Isso é impossível. A entidade viva existe eternamente, e não pode renunciar aos desejos. Uma entidade viva necessariamente tem desejos: eis o sintoma da vida. Quando se recomenda que nos tornemos livres de desejos, deve-se entender isso como significando que não devemos desejar nada para o gozo de nossos sentidos. Para um devoto, esse estado de espírito, niḥspṛha, é a posição correta. De fato, para cada um de nós, já foi programado um padrão de conforto material. O devoto deve contentar-se sempre com o padrão de conforto oferecido pelo Senhor, como se afirma na Īśopaniṣad (tena tyaktena bhuñjīthāḥ). Isso poupa seu tempo e lhe permite executar a consciência de Kṛṣṇa.