VERSO 12
na tasya kaścit tapasā vidyayā vā
na yoga-vīryeṇa manīṣayā vā
naivārtha-dharmaiḥ parataḥ svato vā
kṛtaṁ vihantuṁ tanu-bhṛd vibhūyāt
na — nunca; tasya — Sua; kascit — ninguém; tapasā — pela austeridade; vidyayā — pela educação; vā — ou; na — nunca; yoga — pelo poder do yoga místico; vīryeṇa — pela força pessoal; manīṣayā — pela inteligência; vā — ou; na — nunca; eva — decerto; artha — pela opulência material; dharmaiḥ — pelo poder da religião; parataḥ — por qualquer poder externo; svataḥ — pelo esforço pessoal; vā — ou; kṛtam — a ordem; vihantum — evitar; tanu-bhṛt — uma entidade viva que aceitou um corpo material; vibhūyāt — é capaz.
Ninguém é capaz de evitar as ordens da Suprema Personalidade de Deus, nem mesmo por força de rigorosas austeridades, de uma excelsa educação védica, ou do poder do yoga místico, proezas físicas ou atividades intelectuais. Tampouco pode alguém usar seu poder de religião, sua opulência material ou qualquer outro meio, seja por si próprio, seja com o auxílio de outros, para desafiar as ordens do Senhor Supremo. Nenhum ser vivo, seja ele Brahmā ou uma simples formiga, tem esse poder.
SIGNIFICADO—Na Bṛhad-āraṇyaka Upaniṣad (3.8.9), Yājñavalkya diz a Gārgī, a filha de Garga Muni, que etasya vā akṣarasya praśāsane gargi sūryā-candramasau vidhṛtau tiṣṭhataḥ: “Minha querida Gargī, tudo está sob o controle da Suprema Personalidade de Deus. Mesmo o Sol e a Lua, e outros controladores e semideuses, como o senhor Brahmā e o rei Indra – tudo e todos estão sob o Seu controle.” Um ser humano comum ou um animal que tenham aceitado um corpo material não podem escapar à jurisdição do controle da Suprema Personalidade de Deus. O corpo material é formado de sentidos. Contudo, as atividades dos sentidos dos pretensos cientistas na tentativa de livrarem-se da lei de Deus ou das leis da natureza são inúteis. Confirma-se isso, também, na Bhagavad-gītā (7.14). Mama māyā duratyayā: é impossível fugir ao domínio da natureza material, pois é a Suprema Personalidade de Deus quem age por trás dela. Às vezes, orgulhamo-nos de nossas austeridades, penitências e poderes do yoga místico, mas esse verso afirma claramente que ninguém pode superar as leis e orientações da Suprema Personalidade de Deus, seja pela força do poder místico, da educação científica, de austeridades ou de penitências. Isso é impossível.
A palavra manīṣayā, “pela inteligência”, é de especial importância: talvez Priyavrata argumentasse que o senhor Brahmā lhe estava pedindo que aceitasse a vida familiar e a responsabilidade de governar um reino, embora Nārada Muni o tivesse aconselhado a não se casar e a não se envolver com assuntos materiais. Já que tanto o senhor Brahmā quanto Nārada Muni eram autoridades genuínas, Priyavrata teria de enfrentar o dilema de quem ele deveria aceitar. Em tais circunstâncias, o uso da palavra manīṣayā é muito apropriado, e usá-la indica como tanto Nārada Muni quanto o senhor Brahmā são autorizados a dar instruções. Logo, Priyavrata não deveria menosprezar nenhum deles, senão que lhe seria apropriado usar de sua inteligência para seguir o conselho de ambos. Para resolver semelhantes situações, Rūpa Gosvāmī cita um conceito muito claro de inteligência. Diz assim:
anāsaktasya viṣayān
yathārham upayuñjataḥ
nirbandhaḥ kṛṣṇa-sambandhe
yuktaṁ vairāgyam ucyate
Devemos aceitar viṣayān, os assuntos materiais, sem apego, e devemos utilizar tudo a serviço do Senhor. Isso é inteligência de fato (manīṣā). Tornar-se chefe de família ou rei no mundo material não é prejudicial contanto que se aceite tudo a serviço de Kṛṣṇa. Para isso, precisamos de inteligência clara. Os filósofos māyāvādīs dizem que brahma satyaṁ jagan mithyā: este mundo material é falso, e somente a Verdade Absoluta é real. Contudo, o devoto inteligente na linha do senhor Brahmā e do grande sábio Nārada – ou, em outras palavras, no Brahma-sampradāya – não considera este mundo como falso. Aquilo que a Suprema Personalidade de Deus criou não pode ser falso; falso é usá-lo para o desfrute próprio. Tudo se destina ao desfrute da Suprema Personalidade de Deus, como confirma a Bhagavad-gītā (5.29), bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram: a Suprema Personalidade de Deus é o proprietário e o desfrutador supremo, e por isso devemos utilizar tudo para o desfrute dEle e a serviço dEle. A despeito das circunstâncias, favoráveis ou desfavoráveis, devemos utilizar tudo para servir ao Senhor Supremo. Deste modo, faremos uso perfeito de nossa inteligência.